No dia em que o Distrito Federal registrou a taxa de transmissão da covid-19 mais alta de 2022 — 2,46, ou seja, um grupo de 100 pessoas infecta outras 246 — o Governo do Distrito Federal (GDF) anunciou o retorno da obrigatoriedade do uso de máscaras em ambientes abertos. A mudança foi publicada em edição extra do Diário Oficial. Também ontem, o Executivo local publicou decreto proibindo o uso de pistas de dança. As medidas restritivas visam frear o avanço da pandemia no DF. Entre o início de janeiro e ontem, a taxa de transmissão do novo coronavírus na capital aumentou 146%. Em 3 de janeiro o valor era de 1.
De acordo com o texto assinado pelo governador em exercício Paco Britto (Avante), a proibição do uso de pistas de dança vale para eventos pagos e gratuitos."Proibição de espaço para dança e aglomeração de pessoas em áreas públicas e privadas, seja em eventos pagos ou gratuitos.", diz o decreto. Em relação ao uso de máscaras, a medida foi anunciada durante coletiva no Palácio do Buriti. O secretário-chefe da Casa Civil, Gustavo Rocha, afirmou que a intenção do GDF é de que as restrições durem o menor tempo possível.
"A ideia é que a gente possa voltar à normalidade com a maior rapidez possível. E essas medidas servem para isso", disse o secretário. Com a volta da obrigatoriedade do item, voltam a valer as multas para quem for pego descumprindo a regra. O valor pode chegar a R$ 2 mil para cada infração. Segundo Rocha, a fiscalização é de responsabilidade da Secretaria de Proteção da Ordem Urbanística, DF Legal. "Será feita mediante denúncia e, também, no dia a dia. Então, será intensificada a fiscalização e, se for necessário, agregar outros órgãos do poder público, assim será feito", complementou o secretário.
Apesar das novas medidas, Paco Britto reforçou que o GDF não tem intenção de fazer um novo lockdown. "Nós queremos parceria com os estabelecimentos e a compreensão dos empresários para nos ajudarem e ajudarem a população e seus próprios negócios. Porque não adianta (estar aberto) com as pessoas infectadas e internadas. Pedimos compreensão", declarou.
Impactos
Para o infectologista José David Urbaez, as medidas restritivas são importantes. "As restrições das aglomerações têm de avançar, sem dúvidas. Formaturas, casamentos e tudo isso onde se tem aglomeração tem de ser restrito. E as pessoas precisam entender que não se combate um vírus como a covid-19 sem essas medidas", disse. Ele considera que a vacinação é importante, mas não é a única forma de enfrentar a pandemia. "Vacina sozinha não acaba com a pandemia", frisou. O médico ainda afirmou que o uso de máscaras nunca deveria ter sido retirado, e que é preciso utilizar o item corretamente. "Não adianta estar com máscara de pano. No mínimo uma cirúrgica", complementou.
Ontem, o DF registrou 2.308 novos casos e três mortes pela covid-19. Desde o início da crise sanitária, foram 553.988 infectados e 11.135 óbitos. Com isso, a média móvel de casos chegou a 3.652,80, valor 615,11% maior que o de 14 dias atrás. A mediana de mortes está em 2,40, o que indica um aumento de 20% quando comparado com o mesmo período.
Vacinação
Os gestores do GDF anunciaram que, para o retorno às aulas da rede pública, marcado para 14 de fevereiro, a Secretaria de Saúde fará uma semana de intensificação da vacinação. De 7 a 12 de fevereiro, haverá mais unidades básicas de saúde (UBSs) voltadas exclusivamente para o atendimento de crianças de 5 a 11 anos e outras para aquelas de 12 a 17 anos. Por enquanto, o DF vacina o público de 8 anos ou mais.
Ontem, a vacinação foi marcada pela emoção. Na UBS 5 de Taguatinga. Ana Paula Correia, 51 anos, comerciária e moradora da região administrativa, não conseguiu conter as lágrimas quando viu o filho, João Vitor, de 10 anos, receber a primeira dose do imunizante. "É muito emocionante a gente ter essa segurança. Principalmente porque tivemos perda de parentes. Perdi uma tia, que tinha mais de 60 anos, e morava no DF", conta.
Quem também não escondeu a animação de ser imunizada foi Helena Moraes Gonçalves, de 9 anos, que carregava um cartaz das Meninas Superpoderosas inscrito: "obaa, chegou a minha vez". O pai de Helena, Márcio Silva Gonçalves, 43, morador de Taguatinga e servidor público, destacou que estava ansioso para ver os filhos vacinados. "Eles não voltaram às aulas no ano passado porque, embora acabassem prejudicados, era uma situação que a gente precisava de tranquilidade para um retorno seguro. A vacina traz isso. O isolamento causado pela pandemia foi um período difícil, e percebemos nas crianças a falta do convívio com os colegas. Diria que até no primeiro ano foi mais tranquilo; no segundo ano, no entanto, eles tiveram mais dificuldade de aprendizado", conta.