Entrevista | Alexandre Nikolay | médico pediatra

Vacinar criança para frear pandemia

Coordenador da Emergência Pediátrica do Hospital Santa Lúcia fala sobre a importância da imunização infantil contra a covid-19 e a respeito das fake news que envolvem o tema. Para especialista, desinformação causa receio nos pais

Entrevistado no CB.Saúde — programa em parceria do Correio com a TV Brasília — pelo jornalista Vicente Nunes, o médico pediatra e coordenador da Emergência Pediátrica do Hospital Santa Lúcia, Alexandre Nikolay, reforçou a importância da prevenção contra a covid-19 e destacou a vacinação das crianças para frear o avanço da pandemia. O profissional da saúde esclareceu sobre a importância da imunização infantil: É por isso que as crianças tomam vacinas nos primeiros anos de vida para evitar mortes e doenças.

A desinformação gerada pelas fake news contribuiu para a rejeição à vacina e o receio dos pais. No entanto, o médico acredita que a campanha de imunização infantil irá avançar. "Essa força de ideologias, incluindo política juntamente de ciência, confunde inclusive a gente, que recebe fake news e tem que ir checar para ver se aquele artigo realmente é sério ou é um artigo falsificado. (...) Eu acho que os pais ainda estão no receio quanto ao desenrolar dessa vacinação. Nos Estados Unidos, vemos que já passaram de 8 milhões de vacinados, e que a vacinação evolui sem intercorrências e sem efeitos colaterais graves. E acho que a população, aos poucos, vai pegar confiança e partir para vacinação em massa". Confira trechos da entrevista:

Qual a importância da
vacinação infantil?

"A vacinação de um modo geral é importante. Então, a gente vê desde os primórdios, quando começaram as primeiras vacinas, que evitamos muitas mortes e aumentamos expectativas de vida da população em geral. Estamos passando pela vacinação dos pequenos de 5 a 11 anos. Isso faz com que essas crianças evitem complicações, evitem mortes. Apesar dessas mortes serem em número muito pequeno, cada número desses é importante para cada família — não adianta a gente dizer que vai evitar 0,01% se naquela família, aquela criança é 100%."

Por que, de repente, surgiu essa onda contra a vacinação, sendo que o Brasil tem uma história muito importante de imunização de crianças: nós conseguimos erradicar doenças terríveis como a poliomielite. De onde vem essa resistência em relação à vacina?

"Eu acho que a pandemia fez aflorar em algumas pessoas essa incerteza, a vontade de brigar, às vezes, sem ter um embasamento prático e teórico. Então, eu acho que vem principalmente disso, dessa insegurança de 'Ah, será que a vacina é segura?', 'Será que essa vacina não é segura?', 'A longo prazo, o que será que essa vacina vai me causar?'. Acho que isso vem principalmente da incerteza, digamos que seja da ignorância, de não conhecer o embasamento científico, e, a partir disso, eles começam a lutar contra algo que a gente está vendo que melhorou bastante a vida da população. Após o início da vacinação dos adultos, a gente viu que diminuiu bastante o número de mortes, o número de hospitalizações. Tendemos a ir para uma vida normal."

Você, como pediatra, recomenda a vacinação das crianças?

"Sim, a recomendação da vacina é essencial. Desde que o paciente nasce, no caso o pequeno bebê, ele já toma as primeiras vacinas nos primeiros dias de vida: hepatite B, BCG. Então, a partir daí ele segue um calendário vacinal evitando essas doenças. Acho que nós (pediatras) somos os primeiros especialistas a indicar esse tipo de terapêutica preventiva."

Como é possível quebrar essa resistência em relação às vacinas? Eu sei que muito do que vemos hoje tem origem nas fake news, notícias falsas. Estava conversando com amigas que participam de grupos de pais pelo WhatsApp, e foi feita uma enquete nesses grupos, que, inclusive, têm pais médicos. Metade se mostrou a favor da vacina, outra metade contra. Alguns médicos contra a vacina, por quê?

"Eu acho que, às vezes, eles não convivem no dia a dia com esse tipo de paciente, com as famílias sofrendo. Então, eu acho que isso faz com que você não acredite no que está acontecendo realmente. Em segundo lugar, eu acho que essa força de ideologias, incluindo política juntamente de ciência, confunde inclusive a gente, que recebe fake news e tem que ir checar para ver se aquele artigo realmente é sério ou é um artigo falsificado. Chegam artigos muito bem falsificados, que deixam até a gente em dúvida. Quando acessamos no próprio site da revista, a gente vê que aquele artigo realmente não existe."

Desde quando começou a vacinação no Distrito Federal, optou-se por vacinar os meninos e meninas de 11 anos e as crianças com comorbidades de 5 a 11 anos — esse público é estimado em 60 mil pessoas, e até agora pouco mais de 5 mil se vacinaram, é muito pouco. Por quê?

"Eu acho que os pais ainda estão no receio quanto ao desenrolar dessa vacinação. Nos Estados Unidos, vemos que já passaram de 8 milhões de vacinados, e que a vacinação evolui sem intercorrências e sem efeitos colaterais graves. Creio que a população, aos poucos, vai pegar confiança e partir para vacinação em massa. Eu acredito que vamos atingir as metas de vacinação de uma forma geral."

É uma dose pediátrica ou é uma dose de adulto que foi apenas reduzida a quantidade? E os efeitos colaterais no futuro para crianças dessa faixa etária? Existe alguma mudança na composição?

"Quando a gente pensa nas medicações tipo amoxicilina, a mesma que damos para o adulto damos para a criança, só que em doses menores. Então, foi o mesmo que ocorreu com a vacina. A gente tinha 30 microgramas para o adulto, foram feitos testes com 20, 15 e 10, e foi visto que o de 10 tinha maior imunogenicidade e segurança social para crianças. Então, do ponto de vista de adequação para criança, está correto. E o que foi feito para tentar diminuir os efeitos colaterais indesejados da vacina, foi espaçar mais esse espaço entre as duas doses."

O que se sabe até agora sobre a eficácia da vacina nesse público infantil? Ela é realmente eficiente? Ela cumpre o objetivo dela?

"Pelo o que está se vendo nos Estados Unidos, sim. A população pediátrica de lá está se vacinando e está diminuindo bastante o número de casos."

O quadro hoje é mais grave para as crianças do que foi na primeira e segunda onda?

"Em termos de covid, não. Observamos a baixa gravidade e a baixa internação. O número de crianças internadas por conta de covid, ontem (segunda-feira), no HMIB, na ala desse tipo de doenças, era de apenas cinco crianças — a maioria com quadros respiratórios, mas sem necessidade de UTI."

*Estagiária sob a supervisão de Adson Boaventura