Investigação /

Caseiro morre na prisão

Agentes penitenciários de Goiás encontraram Wanderson Mota Protácio já sem vida, na cela. Em dezembro, ele confessou ter assassinado a namorada grávida, a enteada de 2 anos e um vizinho

A Polícia Civil do Estado de Goiás (PCGO) investiga a causa da morte de Wanderson Mota Protácio, de 21 anos. O assassino confesso da namorada grávida de quatro meses, Raniere Aranha, 19, da enteada Geysa Aranha, 2 anos e 9 meses, e do fazendeiro Roberto Clemente de Matos, 73, foi encontrado sem vida numa das celas do Complexo Prisional de Aparecida de Goiânia — distante cerca de 218km de Brasília —, na manhã de ontem, enquanto os policiais penais entregavam o café da manhã. 

Se condenado pelos crimes atribuídos a ele, o caseiro poderia receber uma pena de mais de 200 anos. Wanderson estava preso desde 4 de dezembro do ano passado, depois de se entregar à polícia. Um dia antes, em 3 de dezembro, o caseiro entrou na residência de uma mulher identificada como Cinda Mara de Alves Siqueira, 54, moradora de Mocambinho, distrito de Gameleira, e chegou a ameaçá-la. Lá, a mulher teria convencido o acusado a se apresentar na delegacia. Cinda e o marido levaram Wanderson de carro até a delegacia da área.

Após prestar depoimento, Wanderson foi conduzido ao presídio de Aparecida de Goiânia, onde aguardava o julgamento. Na unidade prisional, o acusado ocupava uma cela sozinho, ficando isolado dos demais presos. Na manhã de ontem, durante o procedimento de entrega da alimentação aos detentos, os servidores do Núcleo de Custódia encontraram Wanderson desacordado, segundo informações da Diretoria-Geral de Administração Penitenciária (Dgap).

Equipes do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) compareceram ao presídio e atestaram o óbito de Wanderson. Em nota, a Dgap informou que o preso estava sozinho na cela e foi encontrado pendurado com um lençol no pescoço. "O ocorrido também foi repassado à Polícia Civil para as investigações pertinentes. O Instituto Médico Legal foi até o local para a retirada do corpo e demais procedimentos."

Luto

Em entrevista ao Correio, a doméstica Helena Aparecida, 37, tia de Raniere, admitiu que a família se sente aliviada com a notícia. "Sei que é errado desejar a morte do autor, mas ele recebeu o que mereceu", desabafou. Raniere havia se mudado há pouco mais de 30 dias para a chácara onde Wanderson era caseiro, em Corumbá de Goiás. A jovem estava grávida do companheiro quando foi assassinada a facadas dentro da própria casa.

"Não vamos trazer ela (Raniere) de volta, mas é um alívio saber que ele não será solto e não fará essa maldade com mais ninguém. Tínhamos medo de que ele pudesse ser liberado a qualquer momento. Não está sendo fácil lidar com o luto. Bate um desespero, mas estamos caminhando", desabafou Helena.

Raniere e a filha Geysa foram veladas em 29 de novembro em clima de comoção e revolta, no Velório São Miguel, em Corumbá. Um dia depois, as duas foram sepultadas.

Captura

Em 28 de novembro, Wanderson, a namorada e a enteada passaram o dia inteiro na casa da sogra, no centro de Corumbá, pois era folga de Wanderson. No fim da tarde, a mãe de Raniere foi levá-los até em casa, em uma fazenda distante cerca de 25km.

Foi durante a noite que Wanderson assassinou a mulher grávida e a criança a golpes de facão. Segundo o depoimento que o próprio acusado prestou à polícia, após matar mãe e filha, ele trancou a porta da casa, foi até uma propriedade vizinha, furtou um revólver com seis munições e caminhou poucos metros até uma outra residência, onde atirou contra a cabeça do fazendeiro Roberto Clemente de Matos. Ele ainda tentou estuprar a esposa de Roberto e atirou contra o ombro da vítima.

As buscas por Wanderson duraram quatro dias e mobilizaram cerca de 70 policiais militares e civis de Goiás. Após a prisão, o caseiro prestou depoimento na 3ª Delegacia Regional de Polícia de Anápolis. Durante o interrogatório, Wanderson pediu perdão para a mãe de Raniere. "Peço perdão para a mãe dela (Raniere), mas acho que ela não vai me perdoar, não. Acabei com a vida dela e acabei com a minha também", declarou.

Passagens

Ainda em depoimento, Wanderson Mota confessou que matou um homem no Maranhão, quando tinha apenas 13 anos. À época, o Correio apurou junto a fontes da PCGO que o acusado namorava uma adolescente no Maranhão. Em determinada ocasião, a menor teria sido agredida pelo tio. Incomodado, Wanderson chamou a atenção do familiar e pediu para que ele parasse de bater na garota.

Segundo as investigações, Wanderson relatou que o tio da adolescente pediu para ele ficar quieto, caso contrário o mataria. Wanderson, então, pegou uma faca e o matou.

Em dezembro de 2019, Wanderson foi preso por tentativa de feminicídio contra a cunhada do pai. Consta nos autos do processo que a vítima recebeu diversos golpes de faca nas costas. A discussão começou após Wanderson chegar em casa alcoolizado e sob efeito de drogas.

Na casa, ele ameaçou a mulher, ordenando que ela entrasse em um quarto com ele. Após a negativa, passou a golpeá-la. Mas, a faca se quebrou. Wanderson fugiu pulando o muro, mas foi localizado e preso em seguida.