Apesar dos altos números de casos de covid-19 registrados neste primeiro mês de 2022, o Distrito Federal ainda deve passar pelo pico de infecções relacionadas à variante ômicron da doença. De acordo com especialistas, as duas próximas semanas serão críticas. Ontem, a capital federal registrou 4.780 casos, e a taxa de transmissão estava em 2,31. Enquanto isso, o Governo do Distrito Federal (GDF) segue com a vacinação de adultos e crianças. Para a imunização dos pequenos, o Ministério da Saúde entregou mais 16,3 mil doses ontem. Assim, o governador Ibaneis Rocha (MDB) anunciou, nas redes sociais que, a partir de hoje, estará aberta a vacinação para todas as crianças de 8 a 11 anos.
Para o médico da Sociedade de Infectologia do DF Dalcy Albuquerque, a previsão de pico é baseada no comportamento da ômicron em outros países. "O que a gente tem visto em outros locais é que essas epidemias de ômicron tem durado em torno de dois meses. Se isso valer para nós, acredito que nas próximas semanas será o pico", explica. O especialista afirma que esta nova cepa da doença é altamente transmissível, e que, por isso, os índices pandêmicos estão em patamares tão altos quanto os do início da crise sanitária. "Ela (ômicron) tem uma capacidade e uma taxa de ataque de transmissão muito grande. Então, realmente ela elevou a nossa taxa de transmissão lá pra cima, a nível até que nós não tínhamos tido antes", diz.
Apesar disso, Dalcy frisa que a maioria dos casos é leve. "O que nós estamos tendo é um número muito grande de casos notificados. Como ela transmite muito rápido, esgota os suscetíveis. As pessoas podem ficar doente muito rapidamente, então é aquele sobe e desce. A boa notícia é que, pelo menos, o aumento das ocupações de leitos, e, principalmente, de UTI, não tem acompanhado esse mesmo ritmo de crescimento do número de casos", considera. Porém, ele ressalta que ainda é necessário ter cuidados. "Ela é menos agressiva, mas ser menos agressiva não indica que ela não possa eventualmente provocar algum quadro grave", completa.
Medidas restritivas
O GDF está preparando um decreto para proibir o uso de pistas de danças na capital federal. Por enquanto, esta é a mais recente medida de combate ao avanço da pandemia anunciada pelo governador Ibaneis. Procurado, o Executivo local informou, por meio de nota, que novas medidas para conter o avanço do novo coronavírus são anunciadas semanalmente nas coletivas de imprensa promovidas pela Secretaria de Saúde do DF.
Para a infectologista Joana D'arc Gonçalves, as medidas restritivas já se tornaram bastante severas em outros pais. "As principais ações são em relação à disponibilidade de testagem para a população e restringir ações de aglomerações. Eventos maiores e locais devem controlar o número de pessoas que entram", explica. Porém, ela destaca que falar em fechamento de serviços é algo impensável neste momento. "As questões, agora, são mais voltadas para a conscientização. Vacinação e cumprimento de medidas não farmacológicas são essenciais. É buscar o equilíbrio entre o interesse econômico e a saúde da população", complementa.
Ela reforça que o uso de máscaras é uma das medidas mais importantes. "Falamos isso desde o início da crise. O ideal é retomar todas as orientações do passado. Utilizar as máscaras corretas, trocá-las frequentemente e higienizar as mãos", detalha. Joana diz, ainda, que o isolamento social também é essencial. "Se está com sintomas não saia de casa, não se exponha e não exponha os outros ao risco. Se puder, trabalhe a distância. Não frequente locais com grandes aglomerações", frisa a infectologista. A médica diz que também é preciso buscar os não-vacinados. "E isso inclui as nossas crianças", diz.
Vacinação
Com a chegada de novas doses a serem direcionadas para crianças, o GDF optou por ampliar a vacinação deste público para todos que têm de 8 a 11 anos. No total, esse grupo soma cerca de 155.522 pessoas. Até o momento, 7.149 crianças de 11 anos foram vacinadas durante a campanha para este público — que teve início no último domingo.
Segundo orientações da Secretaria de Saúde, as crianças precisam comparecer aos postos de atendimento com pais ou responsáveis e portando o cartão de vacinação. Além disso, devido a recomendações do Ministério da Saúde e da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), as crianças precisam ficar no local em que receberam a vacina por, pelo menos, 20 minutos depois da aplicação, a fim de serem observadas por equipes médicas.
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NUMERALHA
76,16% da população vacinada com uma dose
72,51% com o ciclo vacinal completo
621.376 doses de reforço aplicadas
7.149 crianças vacinadas
*população total de 3.052.546
Pico da ômicron
"A previsão estimada é de mais duas semanas para o pico. Porque é uma estimativa baseada nas outras ondas que foi aproximadamente entre quatro a cinco semanas após os picos que ocorreram nos Estados Unidos ou na Europa. O nosso cenário é de elevação da transmissão. Estamos tendo um aumento na detecção, mas temos que lembrar também que está mais fácil fazer a detecção. Nós temos tanto teste rápido como antígeno e o RT-PCR, coisas que na primeira onda, a gente tinha dificuldade de ter volume de exames. Agora, está mais fácil de fazer esses exames, com isso talvez tenha demonstrado um aumento e uma taxa mais elevada.
Tem que manter a vacinação, uso de máscara e fazer o rastreio dos sintomáticos para podermos, o máximo possível, afastar essas pessoas e diminuir a contaminação. É necessário manter todos os cuidados de prevenção, mas o mais importante é a vacina; com ela se inibe a geração de novas variantes. Sem ela, existe grande chance da gente induzir mutações do vírus e com isso gerar variantes que podem ser ou resistentes aos anticorpos que a vacina produz ou até mesmo uma cepa mais violenta, que pode levar as pessoas para mais casos de internação. Hoje a gente vê um grande volume (de casos), mas por causa da vacinação, são baixas as taxas de internação. E, graças a Deus, a gravidade também não está sendo proporcional ao número de casos."
Werciley Junior, infectologista e coordenador da Infectologia do Hospital Santa Lúcia
Testes em farmácias
Marcelo Ferreira/CB/D.A Press
A Secretaria de Saúde, em parceria com a Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do DF (Fecomércio) e com o Sindicato do Comércio Varejista de Produtos Farmacêuticos (Sincofarma-DF) começou, ontem, a realizar testes gratuitos da covid-19 em farmácias do Distrito Federal. No entanto, o dia foi marcado por contratempos. Na primeira lista divulgada, com 23 estabelecimentos, havia uma unidade que não iria mais realizar os testes. Hoje, a lista atualizada conta com 22 pontos e o atendimento deve ser agendado.
Com o desencontro de informações, algumas pessoas tiveram viagens perdidas. Uma delas foi a secretária Taiala Noaves, 30 anos, moradora de Ceilândia e que se deslocou até a Vila Planalto para fazer o teste. "Estou com tosse, dor no corpo e de garganta, além de dor de cabeça. A gente tenta se isolar, mas preciso descobrir se estou com covid-19, e quando chego, descubro que a farmácia não vai fazer", pontua. Em uma farmácia do Gama, o agendamento que seria para a semana inteira esgotou-se em horas.
Ao Correio, um proprietário de farmácia disse que a secretaria avisou tardiamente sobre as normas. "Eles queriam que os clientes que fossem ser testados não tivessem contato com a loja e entrassem por uma outra porta, além de ser necessário uma outra sala com exaustor e exclusiva para os testes. Já tenho um exaustor, mas queriam outro. Não tenho condições de fazer essas modificações em menos de 24h. Quando me cadastrei no programa, imaginei que a Vigilância viria aqui e diria o que era necessário com antecedência", disse o empresário, que pediu para não ser identificado.
Suporte
Presidente do Sincofarma-DF, Francisco Messias Vasconcelos, confirma que o dia foi tumultuado, mas diz que, ao longo do período, os problemas foram sendo resolvidos. "Tivemos algumas drogarias que desistiram de participar do programa. Até agora, quatro desistiram. A partir de amanhã (hoje) todas as drogarias estarão em pleno funcionamento na testagem", garantiu. Ele destaca que há outras unidades interessadas no programa. "Há mais de 30 farmácias que mostraram interesse. O sindicato vai visitar cada uma delas e ver quais têm estrutura e, depois, passaremos para a Secretaria de Saúde", diz.
Apesar disso, algumas farmácias se programaram. A Drogaria Messias, no Setor O de Ceilândia, começou a agendar os testes. "Até às 12h, já tínhamos 100 pessoas agendadas. Estamos com vagas somente para a próxima semana. Isso fazendo testes todos os dias, das 8h às 18h. Separamos o intervalo de 30 minutos para cada paciente. Esperamos atender de 11 a 12 pessoas por dia", conta Moana Gomes Vasconcelos, 23, farmacêutica da unidade. Na Drogaria Brasil, da CL 214 do Santa Maria, Mariza Faria, supervisora, conta que a procura começou cedo. "Às 8h da manhã, entregamos 30 fichas plásticas e às 8h30 começamos a fazer os testes. Durante o período da tarde, às 13h30, entregamos mais trinta fichas. A média será de testar essas 60 pessoas por dia", detalha.
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Taxa se aproxima do recorde
Segundo o boletim epidemiológico publicado ontem pela Secretaria de Saúde, o DF registrou 4.780 casos e quatro mortes. Com a atualização, o total de infecções chegou a 551.680 e 11.132 óbitos desde o início da pandemia. A média móvel de casos aumentou 916,92% em comparação a 14 atrás e está em 3.953,80. A mediana de mortes chegou a 2, valor 25% maior em relação ao mesmo período. A taxa de transmissão chegou a 2,31, a maior desde março de 2020, quando o recorde foi de 2,61.