Em 2021, o Distrito Federal registrou 169 mortes em acidentes de trânsito. O número representa uma redução de 26% em comparação com o ano anterior, em que ocorreram 227 mortes no trânsito. Os dados são do mais recente levantamento feito pelo Departamento de Trânsito do Distrito Federal (Detran-DF). Apesar da queda, especialistas acreditam que o índice de violência no trânsito poderia ser menor se motoristas e usuários do trânsito respeitassem as regras, como limite de velocidade e prudência. É o que afirma o professor da Faculdade de Medicina e especialista em trânsito David Duarte Lima.
Para ele, as principais causas dos acidentes no trânsito estão relacionadas ao binômio imprudência e consumo de drogas. "De forma geral, são dois os principais fatores: excesso de velocidade ou velocidade incompatível com a circunstâncias da via e o consumo de álcool e drogas, principalmente álcool ao volante'', explica.
Desde os primeiros dias do ano, acidentes fatais foram registrados. No último domingo, uma pessoa morreu e outra ficou em estado grave após um acidente na BR-080, envolvendo dois carros. Segundo informações do Corpo de Bombeiros Militar do Distrito Federal (CBMDF), a passageira de um dos veículos, que era menor de idade, ficou presa às ferragens do carro e precisou ser desencarcerada para receber o atendimento. Infelizmente, a jovem não resistiu aos ferimentos do acidente e morreu no local.
Nova chance
Em janeiro de 2021, Nancy Sirlene, 39 anos, viveu momentos de horror ao sofrer um acidente na BR-020, em Planaltina. Ela conta que as informações que tem do acidente vieram de outras pessoas, pois havia bebido bastante no dia. "Eu estava com duas amigas, voltando para casa depois de uma festa. A que estava dirigindo também havia bebido. Outra colega que estava com a gente, me contou que pediu para descer próximo ao Colorado, pois estávamos indo muito rápido e ela estava com medo", disse. "No momento do acidente, também me falaram que o carro estava a 210 km/h. Minha amiga perdeu o controle na via e bateu em um poste. Ela acabou morrendo", conta Nancy.
Formada em pedagogia, Nancy contou que acabou ficando com sequelas por causa do acidente e, por isso, não pode mais trabalhar. "Estou de cadeira de rodas, porque eu perdi o movimento das pernas. Os médicos me disseram que, somente após dois anos, vou saber se os danos serão permanentes", relata Sirlene. Ela também contou que precisa utilizar fralda, pois o cérebro não passa mais informações para a parte de baixo de seu corpo e, desta forma, não sente mais quando precisa evacuar. "Também preciso usar uma sonda de quatro em quatro horas para retirar minha urina", enumera.
Em retrospectiva, Nancy lamenta por saber que tudo poderia ter sido evitado. "Poderíamos ter deixado o carro próximo ao local da festa e voltado para casa de outra forma. Também poderíamos ter dormido na casa de algum amigo", reflete. Por fim, ela deixa um recado para quem está no trânsito diariamente. "Beber e dirigir não combinam de forma alguma. Nesse acidente, eu fiquei viva para contar a história, mas, a minha amiga morreu e deixou três filhos", concluiu.
Sinistros
De acordo com o Detran-DF, há um ranking de infrações que depende da consciência dos motoristas para ser revertido. O excesso de velocidade causou, em 2021, 1.584.122 transgressões ao trânsito. A falta do uso de cinto de segurança foi contabilizada em 98.750 autuações. O uso de celular ao volante foi outro responsável por infrações, com 92.482 flagrantes. Estima-se que o número de desrespeito ao ordenamento do trânsito seja ainda maior, pois nem sempre há flagrante.
O professor do Departamento de Psicologia e especialista em trânsito Hartmut Gunther chama atenção para a nomenclatura utilizada. "O termo mais exato é 'sinistro'. Esses eventos não são acidentes, não são por acaso. Geralmente, têm causas identificáveis. Tipicamente, são mais de uma causa e achar a principal é um tanto complicado", explica. A relação causal para a ocorrência de sinistros pode ajudar a compreender sua natureza e ajudar a traçar estratégias para sua diminuição.
Para os condutores, o professor Gunther destaca a importância da direção defensiva, como principal atitude para proteger a si e aos outros. "Dirigir defensivamente, em outras palavras, não é só cuidar de si mesmo, mas tentar antecipar eventuais problemas. Que no fundo é outra maneira de falar para prestar atenção", recomenda. O pesquisador também alerta que os cuidados devem ser redobrados para os pedestres, que são mais frágeis.