O avanço da pandemia de covid-19 fez com que o Governo do Distrito Federal (GDF) voltasse com mais uma medida restritiva na cidade. O governador Ibaneis Rocha (MDB) adiantou que o Executivo local prepara um decreto para suspender o uso de pistas de dança. "São pequenos ajustes. Vamos proibir pistas de dança. Estão preparando o decreto", informou ao Correio. Enquanto o GDF tenta combater a doença, a taxa de transmissão chegou a 2,15, a maior deste ano, que teve o ápice na última semana, com o índice a 2,12. O recorde desde o início da pandemia é de 2,61, registrado em março de 2020.
Segundo fontes do GDF ouvidas pela reportagem, serão consideradas as pistas de dança, principalmente, de bares. Seria uma forma de evitar e diminuir as aglomerações registradas em locais que contam com apresentações musicais, por exemplo. A infectologista Ana Helena Germoglio explica que, neste momento da pandemia, a volta das restrições é válida, mas é preciso focar em todas as atividades de risco e não apenas em um segmento. "Qualquer atividade que envolva muitas pessoas sem máscara e sem distância mínima, independentemente se for dança, jogo ou qualquer atividade. O importante não é a dança em si, mas o uso de máscara", destaca.
Entre a última sexta-feira (14/1) e segunda (17/1), o DF registrou 5.648 casos e duas mortes pela covid-19. O total de notificações chegou a 546.900 infecções e 11.128 óbitos. Com a atualização dos dados, a média móvel de ocorrências dos últimos sete dias está em 3.841,80, valor 1.238,61% maior do que o registrado há duas semanas. A mediana de vítimas diminuiu 20% em relação ao mesmo período e está em 1,60.
Ômicron
O avanço da taxa de transmissão (RT) da covid-19 é um alerta constante para os moradores do DF. De acordo com dados do boletim epidemiológico da Secretaria de Saúde (SES-DF), o RT está em 2,15, o que significa que um grupo de 100 pessoas é capaz de infectar outras 215. Breno Adaid, pesquisador do Centro Universitário Iesb e doutor em administração e pós-doutor pela Universidade de Brasília (UnB) em ciência do comportamento, acompanha o índice desde o começo da pandemia e destaca que a perspectiva é de que o número de casos aumente ainda mais nesta semana.
"Embora essa variante (ômicron) pareça menos agressiva do ponto de vista dos casos graves, se houver um acúmulo de casos em um curto período de tempo, o risco é que uma parcela desse público vai precisar de atendimento hospitalar, e o que pode acontecer é não termos capacidade de atender a todos", argumenta. Na avaliação de Breno, o modo mais eficaz de conter o avanço dos casos é um modelo de restrição moderada. "Vários estudos foram publicados de contenção de contágio, e os modelos de restrições moderadas são eficazes, pois as pessoas mantêm a vida semi-normal com algumas reduções, sem sofrerem tantas alterações em seus comportamentos", explica.
Campanha
Em meio ao perigo de infecção, Elon Rufino da Silveira, 43 anos, morador do Jardim Mangueiral, não perdeu a chance de imunizar o filho Rafael Silveira, 8 anos, no unidade básica de saúde (UBS) 1 do Cruzeiro, nessa segunda-feira. O menino estava ansioso. "A expectativa é alta pela vacinação, com ela, ele poderá voltar para as aulas de forma apropriada e mais segura", aponta Elon. Rafael é diabético, e os pais preferiram mantê-lo no ensino a distância devido ao risco dele contrair a covid-19.
Manoela Bartos, 43, servidora pública e moradora de Águas Claras, também garantiu a imunização da filha Yara, 11. "A ansiedade é enorme, e a pandemia tem sido muito difícil, como foi para todo mundo. Perdi dois tios que moravam aqui, no DF. E fizemos um isolamento a rigor, mas isso causou um quadro de ansiedade nas crianças", lamenta. Após tirar as dúvidas com os especialistas, a mãe confessa que está segura. "A gente fica com medo, porque tem muitas informações desencontradas, mas a cardiologista da gente falou que podia ficar tranquila com a vacinação", ressalta.
A psicóloga Isleidy Barbosa, 42, moradora do Cruzeiro Velho, levou o filho Pietro Barbosa, 11 anos, para se imunizar. "Alguns coleguinhas dele, de 12 anos, já se vacinaram, então ele estava bem ansioso", conta. A preocupação de Isleidy era levar o vírus para casa, devido a rotina de trabalho. "Tomamos todos os cuidados para não deixá-lo vulnerável, mas era um medo. A vacinação é super necessária", frisa. No DF, até segund-feira, 5.044 crianças de 11 anos ou com comorbidades foram vacinadas. A campanha de imunização dos adultos continua na capital, ao todo, 2.321.708 pessoas tomaram a primeira dose; e 2.210.439 estão com o ciclo completo. O reforço foi aplicado em 617.959 moradores do DF. Da população geral (3.052.546), 76% tomou uma dose e 72,41% está com o ciclo de imunização concluído.