Qualquer chef iria tremer nas bases se fosse convidado para substituir Salvatore Loi numa cozinha que sequer inaugurou. O brasiliense Leandro Garden (foto), 36 anos, não foi exceção. "Recebi as duas notícias ao mesmo tempo: que Loi não viria mais para Brasília e a proposta para eu assumir as caçarolas de uma casa nova, pronta e montada", conta Leandro, que até admite: "senti um frio na barriga, mas o convite me deixou muito feliz e sou grato a Deus pelo meu nome ter sido considerado capaz de levar adiante uma operação, que, de alguma forma, é comparada ao do grande chef que é Salvatore Loi".
O convite partiu dos dois ex-sócios investidores do restaurante idealizado pelo famoso cozinheiro sardo: o empresário Raul Teixeira (Paris 6) e o arquiteto Luiz Felipe Melo. Com a desistência de Loi, eles acrescentaram um terceiro nome à parceria, o do executivo catarinense Maikon Britto, 45 anos, que, aos 18, emigrou para São Paulo, o único que tem experiência na operacionalização de restaurante. Egressos do Grupo Fasano, Leandro trabalhou no Gero Brasília, desde a abertura, e Maikon veio da capital paulista para montar o Fuego.
Os dois estreiam juntos, nesta segunda-feira, quando o Solo Ristorante abre as portas no Bloco C da 403 Sul, descortinando um ambiente elegante de 80 lugares contando com o mezanino. O salão térreo dá vista para a cozinha de finalização totalmente transparente, enquanto a de produção ocupa o subsolo. Nos fundos, há um chafariz no centro do jardim, cujas portas de ferro vieram do Naturetto.
Gosto de comida
"Meu objetivo é dar uma opção a mais ao brasiliense, que gosta de comer bem e com conforto", diz Maikon. Já o chef, que gostaria "de ter tido um prazo maior antes da abertura, embora a equipe está toda treinada", tem a sua preocupação focada no cardápio. De inspiração italiana, o menu contempla os pratos clássicos, desde o antepasto (burrata com parma, carpaccio, polenta cremosa, brusqueta, salada de atum e outros) até a sobremesa, como tiramissù que leva uma compota de figos frescos feita na casa (R$ 32).
"Comida com gosto de comida" é a proposta do chef, intérprete de uma escola que se chama Fasano. Daí, a extensão do menu capaz de abarcar as principais propostas da gastronomia italiana com diversas pastas e risotos, como o espaguete (massa fresca) com tinta de lula, polvo, camarão à provençal, tomate cassé, manjericão e straciatella com raspa de limão (R$ 85 — foto); o tortelloni recheado com lagostim ao molho velouté cítrico, espinafre e pimenta dedo de moça (R$ 72) ou o sacottini com abóbora ao molho de queijo de cabra e amêndoas laminadas (R$ 48).
O brasiliense que adora carne poderá degustar entre filé au poivre, entrecôte e costelinha suína, o carré de cordeiro com crosta de pistache e pão de miga servido ao próprio molho acompanhado de musseline de inhame trufado (R$ 97). Peixe e frutos do mar também são uma opção forte, com a sugestão do polvo grelhado na brasa com polenta branca, tomates confitados e molho de salsa verde (R$ 115); e o lombo de bacalhau assado na brasa com azeite, batatas laminadas, tomates, azeitonas pretas, cebolas, brócolis e ovo cozido (R$ 120). Solo funciona de segunda a sábado, para almoço e jantar, e domingo, só no almoço até as 17h. Telefone: 3879-1889.
Veio da terrinha
No apagar das luzes de 2021, Brasília ganhou mais uma casa de culinária portuguesa — a Taberna Lusitana — capitaneada por um filho da terra de Camões, Tiago Reis, aquariano que completa 47 anos em 5 de fevereiro e que atravessou os mares para fincar raízes aqui, onde tem mulher e filho brasileiros. Ex-dono de uma rede de padarias em Natal, o empresário português convocou o chef e consultor paulista Beto Fonseca, há sete anos atuando em Brasília, para elaborar o cardápio e tocar o restaurante instalado na 412 Sul, na mesma loja que foi do Balconny.
"A cozinha estava em muito boas condições", comentou o chef, que acompanhou a reforma do espaço transformado num lugar bastante simples e sem luxo. O foco principal da casa é praticar preços baixos. "O prato mais caro de bacalhau no menu executivo sai por R$ 59", aponta Fonseca, que treinou a equipe no preparo das iguarias portuguesas, como cabrito assado no forno com batatas (R$ 135); polvo a lagareiro (R$ 125,90 — foto); caldeirada de peixe, lula, camarão, mix de legumes e batata cozida (R$ 125, para duas pessoas), além da especialidade da casa que é a francesinha, tal como se come no Porto: sanduíche com duas fatias de pão de forma recheadas de carnes (bovina, suína ou de frango) com bacon, linguiça portuguesa, ovo frito e batata frita, servido em prato fundo. Por cima, queijo derretido. O preço varia de R$ 55, a suína, para R$ 65, a bovina.
De pataniscas
ao murro
Ex-professor de natação, o restaurateur alfacinha (como se diz de quem nasceu em Lisboa) importa o queijo da Serra da Estrela para dar mais autenticidade ao menu, cujos tops, como leitão da Bairrada (R$ 135, o quilo) e o prato da casa, lombo de bacalhau do Porto em cama de brócolis ao alho com maionese e batata ao murro (R$ 180, para duas pessoas) têm de ser encomendados, enquanto os do executivo são servidos sempre de segunda a sexta, no almoço, por menos de R$ 45, com exceção do bacalhau. Matéria-prima que, no bolinho, se chama pataniscas (foto). Harmonizam com os rótulos da Porto a Porto, com certeza. Telefone: 98123-6353.
Boníssimo
A Itália sempre esteve em alta na gastronomia brasiliense, haja vista o sucesso que fazem os restaurantes e pizzarias com a pegada peninsular. Como o Italianíssimo (Bloco B da 412 Norte), que, além do forno a lenha, de onde saem deliciosos discos de massa crocante com molhos variados, oferece novo cardápio, a partir de terça-feira. São sete novidades — cinco pratos de carne, peixe e frango, uma entrada e uma sobremesa — muito saborosas, e a que mais me agradou foi o tagliatelle ao molho de funghi trufado que escolta filé-mignon em crosta de macadâmia. Outro filé que vem empanado em crosta de panko é o parmigiana ao molho napolitano, presunto parma e muçarela de búfala gratinada acompanhado de fettuccine com creme de grana padano, cada um por R$ 85,90. Funciona de terça a domingo. Telefone: 3964-4442 (WhatsApp).
Caviar mediterrâneo
Já se viu que a comida italiana é muito apreciada. O que pouca gente conhece é um ou outro ingrediente raro e especial, como a bottarga (foto), que são ovas de peixe. Especialidade rica em proteína e ômega 3, a qual o chef siciliano Luca Scribano se dedica desde quando ainda morava em Ragusa. Em Brasília, ele compra a matéria-prima, proveniente de tainha, na peixaria, e prepara de modo artesanal. "A bottarga está pronta para ser comercializada em duas versões: ralada, embalada em vidro de 50g e inteira, chamada baffa, de 170g", detalha o especialista italiano. O combo sai por R$ 150. Ele se encarrega de entregar o produto e aproveita para "passar receitas". Telefone: 9 8211-2425.
Férias / Como ninguém é de ferro, esta coluna vai sofrer uma pausa antes de voltar em março. Bye bye!