O Parque Ecológico de Águas Claras abriga vários animais e, próximo à lagoa do parque, é possível ver cágados, patos, gansos, saguis e muito mais. Mas são as capivaras que roubam a cena e chamam a atenção de quem passa pelo local. A equipe de reportagem do Correio contou cerca de 10 no parque, na tarde de ontem. Apesar do aumento da presença dos animais, o essa visitação dos bichos não é recente no local.
O funcionário público Wellington Soares, 48 anos, morador de Águas Claras, frequenta o parque há cerca de 10 anos e conta que a presença das capivaras não é nova. "Agora está mais frequente, porém elas sempre estiveram aí, um pouco mais isoladas, mas aumentou o número e parece que tem uma família grande de capivaras aí", relata. Segundo o morador da cidade, a presença dos animais representa algo benéfico em relação ao parque. "Acho que é um sinal de que o parque está bem preservado, porque tem uma vida selvagem assim tão à vontade aqui dentro, para nós não representa nenhum risco", afirma.
O Instituto Brasília Ambiental (Ibram) reforça esse ponto, destacando a aparição dos animais como reflexo do alcance do objetivo do parque. "O Parque Ecológico Águas Claras é uma Unidade de Conservação do Distrito Federal que tem por objetivo garantir a preservação, a utilização sustentável, a restauração e a recuperação do ambiente natural formando um banco genético, por conservar as amostras de organismos vivos, tais como plantas e animais. Por este motivo, a aparição de capivaras é um indicativo positivo de que aquele ambiente está cumprindo com o papel para o qual foi criado", afirma o órgão.
A dona de casa Fernanda Costella, 41 anos, moradora de Águas Claras, frequenta o parque há cerca de três anos com o marido e as filhas, Carolina, 8 anos, e Letícia, 2 anos. A visitante também relata que as capivaras já apareceram diversas vezes, mas não representaram perigo. "É bem tranquilo, elas ficam na delas. É só ninguém perturbá-las. Estão no habitat delas", relata. No entanto, a moradora de Águas Claras alerta àqueles que têm animais para que cuidem e não os deixem atacar as capivaras. "É importante prender o seu animalzinho, porque elas estão ali se alimentando no habitat delas sem incomodar ninguém, mas elas podem se assustar e de repente reagir", adverte.
A presença dos animais foi tão comentada que não atraiu somente a atenção dos brasilienses, mas também de quem visita a capital. O fisioterapeuta Rodrigo Barbosa, 38, veio de Ituiutaba (MG) para passar o réveillon com a família em Águas Claras e não deixou de ir ao parque. "Sempre que visitamos Brasília, temos o costume de vir ao parque ecológico para fazer uma caminhada e ver os animais", explica. O visitante também ressaltou que é importante a presença dos animais no local, já que é raro ver situações assim, principalmente em grandes centros urbanos. "Acho interessante, pois nos aproxima da vida animal, uma vez que quem mora na cidade não tem o costume de avistar esse animais, principalmente soltos assim na natureza", afirma.
Cuidado
As capivaras chamam a atenção de quem passa, mas é preciso ter cuidado ao se aproximar delas. O professor do Departamento de Ecologia da Universidade de Brasília (UnB) e doutor em zoologia André F. Mendonça recomenda não se aproximar demais, já que ferimentos causados pelos animais podem se agravar. "O principal cuidado que os visitantes devem ter é não chegar perto, nem acuá-las e nunca feri-las. No caso de ferimento é muito importante que a pessoa vá a um hospital para que seja avaliado por um médico. Pois, como são animais silvestres que estão associados a corpos d'água, existe uma chance maior de o ferimento infeccionar", explica.
Outro ponto levantado pelo professor foi o cuidado com os pets, pois os conflitos entre animais domésticos e silvestres podem causar sérios danos aos envolvidos. "É importante ressaltar que, no caso de avistarem uma ou mais capivaras, é importante que os animais (domésticos) estejam presos ou que seja colocada uma coleira (neles). O perigo é que o animal de estimação, principalmente cachorros, pode atacar. O resultado, em qualquer hipótese desse evento, é potencialmente ruim pois um dos animais ou os dois podem sair feridos ou, em casos mais graves, vir a óbito devido aos ferimentos", esclarece.
O professor também alerta para o risco de ataques das capivaras. Apesar de serem calmos, os roedores podem se tornar agressivos em certas situações. "Em condições normais, as capivaras são animais bastante tímidos e que fogem com a aproximação de pessoas. Entretanto, como todo animal silvestre, as capivaras irão se tornar agressivas se forem acuadas ou agredidas. Um grupo de capivaras é formado, normalmente, por um macho, várias fêmeas e filhotes. Desta forma, como são animais sociais como nós, caso uma fêmea ou filhote sejam agredidos ou acuados, outro membro do grupo pode atacar para defender", adverte.
O Ibram também ressaltou que, em relação a animais domésticos, é importante cuidar para que não entrem em conflito com as capivaras, pois, assim também evitam que eles levem para casa carrapatos dos roedores. "A capivara é um dos hospedeiros do carrapato-estrela (Amblyomma cajennense), que transmite a doença Febre Maculosa Brasileira (FMB). O carrapato pode ser encontrado também em cavalos e outros animais de grande porte, cães, aves domésticas, roedores e na capivara. Porém, na história do DF, há o registro de apenas três casos da doença, sendo que o último registro ocorreu em 2016. Em nenhum deles o infectado foi a óbito", explica o órgão. Uma maneira de não ter contato com o parasita é evitar área de vegetação densa e utilizar nos animais produtos de proteção e coleira.
Hoje, há somente uma pesquisa sobre monitoramento de capivaras sendo realizada na orla do Lago Paranoá e ela é feita pela Secretaria de Meio Ambiente do Distrito Federal (Sema-DF), em parceria com a UnB. Também é importante lembrar que capivaras são espécies nativas do Cerrado e protegidas por lei, sendo proibida sua caça, apanha, captura, coleta, abate, transporte, translocação e/ou manipulação, bem como a castração dos indivíduos da espécie.