Por mais que pareça, à primeira vista, ela não é somente uma professora do curso de farmácia da Universidade de Brasília (UnB). Taís Gratieri, 38 anos, quando ainda estava na graduação, esperava pelo momento em que se tornaria acadêmica. Desde o primeiro ano do curso, começou a fazer iniciações científicas. Ainda bem, porque sua jornada a levou a ser eleita membro da Academia Brasileira de Ciências (ABC).
A categoria na qual ela fará parte é a de jovens pesquisadores. "Jovens entre aspas", diz a pós-doutora em farmacotécnica. Nessa divisão, fazem parte pessoas de até 40 anos. Segundo a pesquisadora, ela ficará na academia durante cinco anos, não-renováveis, e depois se tornará alumni.
Eleita entre um grupo de cinco pessoas, Taís foi a escolhida de sua região. Conforme explicação dela, na Academia Brasileira de Ciências, os processos são diferentes e as regiões também. A categoria que ela estava incluída era o Centro-Oeste e Minas Gerais. Para concorrer entre os cinco, um membro da academia precisaria indicá-la, e foi assim que ocorreu.
Outros professores da UnB fazem parte da academia. Por ser uma comunidade científica, o objetivo da instituição é promover integração entre os cientistas, além de ser uma sociedade de representatividade. Os membros filiados participam de congressos e apresentam seus trabalhos.
A ABC é uma sociedade científica honorífica que contribui para o estudo de temas de primeira importância para a sociedade, visando a dar subsídios científicos para a formulação de políticas públicas. Entre suas missões, está promover a mobilização da comunidade científica para que atue junto aos poderes constituídos, com foco no avanço científico e tecnológico nacional e o incentivo à inovação.
Trajetória
Taís tem doutorado direto em farmacotécnica pela Universidade de São Paulo (Ribeirão Preto), com um ano na Universidade de Saarbrücken, na Alemanha, sendo o diploma em ciências. O pós-doutorado é em metodologias para promoção da permeação de fármacos pela Universidade de Genebra, na Suíça. Sem desperdiçar oportunidades, a pesquisadora foi contratada pela instituição.
Depois de dois anos na Suíça, ela voltou para o Brasil no programa Ciências Sem Fronteiras, por meio do Atração de Jovens Talentos. O edital prevê o investimento em pesquisadores que estão fora do país, de forma que eles possam voltar ao país de origem, mas estrangeiros também podem participar. Taís ficou somente três meses no programa e passou em um concurso para lecionar na Universidade de Brasília. A partir de 2012, então, ela se tornou professora na instituição.
Agora que ela ganhou uma cadeira na ABC, não pretende parar de coordenar o Laboratório de Tecnologia de Medicamento da UnB (LTMAC). Atualmente, coordena oito alunos de pós-graduação: mestrado, doutorado e pós-doutorado. Seu objetivo é continuar atuando na formação de recursos humanos, tocar e conduzir os projetos científicos, além de publicar artigos.
"Estamos em um momento de grande dificuldade no país para ciência, com muitos cortes", lembra Taís. "Mas, recentemente, a Fundação de Apoio à Pesquisa no Distrito Federal tem tido uma atuação fundamental aqui no DF. Tem fomentado os projetos da gente", conta.
Mesmo com o cenário ruim para a pesquisa, ela segue acreditando: "O meu objetivo é conduzir e concluir esses projetos, além de continuar contribuindo para a inovação e ciência no país".
Área de atuação
Taís trabalha para garantir que as formulações aplicadas nas superfícies do corpo tenham a ação que se espera delas. Para ter efeito, quando se aplica algum medicamento numa superfície, seja na pele, nos olhos ou na vagina, o fármaco, isso quer dizer, o princípio ativo, precisa penetrar no tecido.
Ela explica que para um creme com um antifúngico tratar uma micose, precisa atravessar camadas mais externas da pele e chegar onde está a infecção, mas é necessário que seja em quantidades suficientes para ter o efeito terapêutico.
Mas não é fácil para as moléculas atravessarem a pele, ou vencerem as barreiras de proteção dos tecidos, como olhos e mucosas, segundo a pós-doutora. O motivo é que o corpo tem mecanismos de proteção para impedir a entrada de "coisas estranhas".
"Há muitos estudos para fazer com que as moléculas cheguem onde precisam chegar. Tanto moléculas que deixam os tecidos mais 'permeáveis', como moléculas ou sistemas que fazem com que a formulação fique mais tempo em contato com os tecidos, ou técnicas que 'forçam' a entrada", argumenta.
A pesquisa serve para tratar doenças superficiais de forma não invasiva, ou seja, sem precisar dar uma injeção, por exemplo. "Muitas vezes seria mais vantajoso tratar uma doença superficial de forma tópica do que ingerir um medicamento oral. Isso porque quando você ingere o medicamento ele é absorvido e distribuído, ou seja, espalhado pelo corpo todo. Para chegar onde precisa em quantidades suficientes às vezes precisa de uma alta dose. Isso pode levar a outros efeitos indesejáveis", explica.
O trabalho é feito em várias frentes, de acordo com a professora: entendendo o que afeta a permeação das moléculas; desenvolvendo modelos (in vitro sem o uso de animais) para estudar a permeação das moléculas em diferentes condições (como em pele queimada, pele sebácea, ou sob fluxo lacrimal no caso dos olhos) e desenvolvendo e estudando novos sistemas e tecnologias capazes de promover a permeação.