PANDEMIA

Variante ômicron impacta rotina de milhares de famílias brasilienses

Desde todos da casa com covid-19 ou apenas um membro infectado, o dia a dia de muitas pessoas muda quando a doença entra no lar

Samara Schwingel
postado em 31/01/2022 05:55 / atualizado em 31/01/2022 05:57
 (crédito:  Arquivo Pessoal)
(crédito: Arquivo Pessoal)

A servidora pública Vanessa Moura, 40 anos, sentia desconforto na garganta há uns dias. Desconfiada de gripe, foi ao hospital e fez testes para covid-19 e influenza. Dias depois, o resultado: positivo para o novo coronavírus. O marido, Fernando Moura, 45, e o filho, David Moura, 12, também testaram positivo dias depois. A infecção mudou a rotina da família por 10 dias. "Ficamos isolados em casa. O David não podia descer para ver os amigos e curtir o fim das férias. Tivemos que nos adaptar", relata Vanessa.

A alta na taxa de transmissão causada pela variante ômicron impactou o dia a dia de milhares de famílias brasilienses. "Estávamos começando a voltar ao normal. Com os cuidados, voltamos para a academia, a receber amigos, trabalho presencial", conta Vanessa. Foi a primeira vez que todos da casa pegaram covid-19 e só o filho ainda não tinha se vacinado. "Quando ele ia tomar a vacina, eu comecei com os sintomas", diz. Moradora do Sudoeste, ela relata que os sintomas foram físicos e mentais. Cansaço, febre e tosse foram os principais. "Foi horrível não poder sair de casa, sem trabalhar", complementa.

O dia a dia de quem é o único a testar positivo na família não é fácil. Vanessa Nicolau de Lima, 35, está com covid-19 há cerca de uma semana. Ela não sabe como se infectou, mas, assim que sentiu sintomas suspeitos, começou com os cuidados. "Primeiro foi uma dor de ouvido e de cabeça. Depois, febre. Até que procurei um médico e ele indicou que eu fizesse o teste RT-PCR", diz. E o resultado: positivo. Como mais ninguém na casa de quatro pessoas se infectou com a doença, a biomédica precisou se isolar e mudar a rotina. "Fico com duas máscaras o dia inteiro. Até durmo de máscara, e na sala. Na hora das refeições, fico em ambiente separado", relata.

Moradora de Sobradinho, ela explica que o maior medo é contaminar a filha mais nova, Mel, de oito anos. "Ela é a única que ainda não tinha se vacinado por causa da idade. Quando íamos levá-la a um posto, eu fiquei doente", conta. Semanas antes, a caçula estava gripada. "A avó ficou doente e pediu para que buscássemos a Mel na casa dela antes do dia previsto. O pediatra pediu exames e descobrimos que ela estava com influenza", relata. Elas cumpriram o primeiro isolamento e, agora, estão em mais um.

Riscos

Segundo o infectologista do Hospital Santa Lúcia Werciley Júnior, quando uma pessoa testa positivo para covid-19 é difícil que o restante da família fique negativo. Mas, não é impossível. "Depende da carga viral, que é uma coisa que a vacina ajuda a diminuir, e da genética. Existe um fator genético que é sobre proteínas do organismo a quais o vírus se liga. Há pessoas com baixa expressão dessas proteínas, assim, o vírus 'gruda' menos nessa pessoa e não se multiplica. Por isso, há quem, mesmo morando com alguém que testou positivo, não se infecte", explica.

O médico afirma que, a partir do surgimento de sintomas, é preciso iniciar o isolamento do infectado e o uso de máscaras em casa. "O ideal é não pegar a doença porque, apesar da ômicron ter se mostrado menos agressiva, até por causa da vacina, ainda há pessoas que se contaminam e evoluem para a forma grave da doença", considera. Werciley explica que os principais sintomas da ômicron são: coriza nasal, febre, dor no corpo, dor de cabeça e muita tosse.

Ontem, a taxa de ocupação de unidades de terapia intensiva (UTI) voltadas para o tratamento da covid-19, na rede pública, estava em 91,76%. Na rede privada, a taxa era de 69,70%. Na fila de espera por um leito de UTI há 115 pessoas, sendo 23 com suspeita ou confirmação de infecção pelo novo coronavírus.

 

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Covid nos pets

No início da pandemia, ouvia-se relatos de animais com o vírus. Segundo veterinários, as infecções realmente ocorreram, mas não há riscos de o humano transmitir para o animal de estimação ou vice-versa. Os sintomas em animais são diferentes e não possuem um padrão. Por isso, é necessário investigar e tratar os sintomas.

A veterinária Ana Lívia Sousa explica que os sintomas em animais não costumam ser respiratórios. "É como se fosse outra doença. Normalmente, o diagnóstico é feito com exame de imagens e sanguíneo. Mas não existe um teste específico para identificar a covid-19 em animais", afirma.

Ela explica que é importante fazer a higiene dos animais sempre que retornar com eles da rua. "A gente sempre recomenda que faça a higiene do animal, mas isso para que ele não seja um carreador do vírus. Assim como objetos podem levar o vírus para um ambiente, o animal também pode, mas não como uma infecção nele, e sim, nas patas, por exemplo", diz.

Ana Isabel Teixeira, veterinária, explica que há pesquisas, inclusive no Brasil, voltadas para o desenvolvimento de testes de covid-19 para animais. Porém, por enquanto, não há nada do tipo no mercado. "É um protocolo adaptado do que é utilizado em humanos", comenta. A especialista reforça que é preciso investigar para saber se um animal está com covid-19 ou não, mas ressalta que os casos ainda existem. "Pesquisas mostram que ainda têm animais se infectando com o vírus", diz.

Três perguntas para

Ana Helena Germoglio, infectologista

Quando uma pessoa da família testa positivo, quais devem ser as atitudes?

A primeira coisa a ser feita é segregá-la. De preferência colocá-la em um cômodo isolado para evitar contaminar as outras pessoas.

Todos precisam se testar? Qual o teste mais indicado?

É preciso testar as pessoas. E, caso negativo, não necessariamente a pessoa não possa testar positivo futuramente. Mas o mais importante é que, quem for positivo, precisa ser separado do resto da família. O melhor teste é o RT-PCR, mas ele é mais caro, está mais difícil de ser encontrado e o resultado demora mais tempo para sair. Então, como opção, a gente faz o teste de antígeno para saber se está ou não infectado, mas apenas quem está com sintomas. Lembrando que, tanto o antígeno quanto o PCR dando negativo, é interessante repetir a testagem após 24h ou 48h.

Quando o isolamento do infectado pode acabar?

Nos casos leves e moderados, a gente considera a nova recomendação do Ministério da Saúde, de sete dias, desde que esteja sem sintomas há, pelo menos, 24h e sem uso de remédios. Para pacientes que evoluem para formas graves, são 20 dias. Para sair do isolamento, a gente não recomenda a testagem. Porque o PCR pode vir positivo nos primeiros três meses após o diagnóstico, e não necessariamente indica que o paciente vai estar contaminando outras pessoas. Quer dizer, apenas significa que há partícula viral ali, material genético do vírus, mas aquele vírus não está contaminando.

 

Convencidos a se vacinarem

 (crédito:  Bárbara Cabral/Esp.CB/DA.Press)
crédito: Bárbara Cabral/Esp.CB/DA.Press

Mesmo no segundo ano de vacinação contra a covid-19, o servidor público Renato Brandini Júnior, 42, decidiu receber a primeira dose no braço apenas ontem, na UBS 1, da 612 Sul, por influência dos filhos, Pedro, 6, e Lucas, 8. Morador do Noroeste, ele estava acompanhado da esposa e também funcionária pública Larissa Brandini, 40, que foi a principal incentivadora do marido, que tem medo de agulha. “Acho importante a vacinação, mas eu vou tomar porque quero viajar em julho com eles para a Flórida e vamos ficar 13 dias. Até lá estarei com a segunda dose”, diz.

Larissa recorda como foram as conversas com o marido para convencê-lo a se imunizar contra a doença. “Estava um dia tranquilo para a gente se vacinar, e as crianças estão se vacinando bastante, por conta do retorno às aulas”, analisa. Em tom de brincadeira, ela diz que o momento coincidiu com a terceira dose dela. “Foi um dia de vacina para a família toda, e deu para convencer o mais velho (marido). Há também a questão da segurança da família, com os avós deles aqui em Brasília”, complementa a servidora.

Moradores de Taguatinga Norte, os também funcionários públicos Alex Klei Siqueira da Silva, 48, e Gislene Henrique de Souza, 48, tiveram dificuldade para convencer a filha, Sofia Luna Siqueira de Souza, 7, a não ter medo da agulha. “Para a gente, a vacina é uma segurança para ela, porque perdemos parentes para a covid-19. Eu também perdi dois amigos do trabalho”, conta o pai de Sofia.

Alex reclama da falta de fiscalização do GDF em relação ao controle de aglomerações e uso obrigatório de máscaras em locais abertos. “Saímos em comércios e vemos aglomeração e o não uso da máscara, o que acaba aumentando os casos”, critica. Na visão dele, os comerciantes deveriam orientar melhor os clientes. “Os próprios empresários pedem que liberem o comércio, mas não prezam por segurança, como em mesas com mais de seis pessoas”, exemplifica.

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