Entrevista | Márcia Abrahão | Reitora da UnB

Reitora da UnB defende passaporte de vacinação em prol da coletividade

Gestora reforça o papel de colaboração da universidade para conter a covid-19 e destaca apoio da comunidade acadêmica

Bernardo Guerra*
postado em 29/01/2022 06:00 / atualizado em 29/01/2022 08:06
CB.Poder entrevista a Reitora da UnB Márcia Abrahão -  (crédito: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)
CB.Poder entrevista a Reitora da UnB Márcia Abrahão - (crédito: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)

Em defesa da responsabilidade social da instituição de ensino, pesquisa e extensão e o cuidado com a saúde da comunidade acadêmica, a reitora da Universidade de Brasília (UnB), Márcia Abrahão, defendeu, ontem, no CB.Poder a obrigatoriedade do comprovante de vacinação para o acesso aos prédios dos campi da entidade. Em entrevista ao programa, que é uma parceria do Correio com a TV Brasília, ela destacou que a decisão anunciada esta semana vem ao encontro de outras medidas que visam minimizar a disseminação do vírus.

Com circulação média de 60 mil pessoas diariamente, ela afirma que a posição é acertada e tem recebido amplo apoio de estudantes, professores, servidores e usuários em geral. "Nós aprovamos o passaporte de vacinação no Conselho de Administração sem nenhum voto contrário. Foram 47 votos favoráveis e duas abstenções", comentou.

Para a jornalista Darcianne Diogo, que comandava a bancada, a reitora respondeu sobre a redução do orçamento destinado à universidade para o ano de 2022 e os impactos previstos para o funcionamento da instituição, principalmente na área de pesquisa. Em relação ao aniversário de 60 anos da autarquia de educação superior, que acontece este ano, a reitora afirma que diversos eventos marcarão as comemorações, juntamente com a celebração do centenário de nascimento de Darcy Ribeiro, fundador da Universidade de Brasília.

Como vocês chegaram a essa decisão do passaporte de vacina, anunciada na quinta-feira? O que foi levado em consideração?

A UnB tinha decidido em novembro que iria cobrar o comprovante de vacinação para o acesso à Biblioteca Central e ao Restaurante Universitário. Estávamos fazendo isso e vimos que deu certo. A comunidade está gostando muito. Antes, havia uma discussão jurídica no Brasil sobre a exigência da comprovação e, no dia 31 de dezembro, o ministro do supremo Ricardo Lewandowski deu um parecer favorável para o assunto e nós podemos aplicar a condição. Nesta semana, nós chamamos os diretores das faculdades e institutos, perguntamos o que eles achavam, porque quem decide é o Conselho de Administração, e eles foram majoritariamente favoráveis. Então, na quinta-feira, nós aprovamos sem nenhum voto contrário, houveram duas abstenções, 47 votos favoráveis e muitos elogios da nossa comunidade. O Diretório Central dos Estudantes e a Associação dos Docentes já tinham reivindicado isso, porque dá tranquilidade para a comunidade.

Como vai ser a fiscalização?

Primeiro, temos que deixar claro que a vacinação não é suficiente sozinha para acabar com a pandemia. Ela é fundamental, mas nós precisamos continuar com o distanciamento social, com o uso de máscaras, com uma boa ventilação e com toda essa gama de ações. A cobrança vai ser física, ou seja, nos espaços gerais da universidade. Por exemplo, hoje, para entrar no Restaurante Universitário, a pessoa tem que apresentar um comprovante de vacina, que pode ser o cartão físico, ou no app do SUS, e também a identidade. A mesma coisa vai acontecer nos demais espaços. A fiscalização será nas entradas das edificações dos prédios, como na entrada do CO — Centro Olímpico —, da fazenda e assim por diante.

Como estão sendo as aulas? Alguns alunos já estão em módulo presencial?

Dentro dessa nossa organização, fizemos um plano de retomada das atividades. Temos cinco etapas, de zero a quatro. Estamos no terceiro momento e, agora, funcionam atividades essenciais e algumas atividades que não são. As aulas deste semestre começaram em 17 de janeiro e são, principalmente, para alunos formandos, que precisam de aulas práticas. Aquelas que são fundamentais para o aluno continuar o seu curso, para poder se formar, e com todos os cuidados, mantendo o distanciamento. Fizemos uma avaliação de todos os espaços da universidade e classificamos eles. Neste momento da pandemia, só podemos usar os espaços que classificamos como A, que são os espaços com total ventilação, 100% adequados para dar segurança para nossa comunidade.

Em relação ao orçamento para o ensino superior, o recurso, sancionado na semana passada, teve uma redução. Qual foi o impacto?

Lamento a falta de prioridade que a educação, a ciência e a tecnologia têm tido no orçamento federal. Somos uma universidade federal, então, dependemos da aprovação no Congresso Nacional. Desde 2015, temos tido uma redução — mais fortemente desde 2019 — e todo ano tem uma nova redução. Por exemplo, para as despesas discricionárias, valor que o Tesouro fornece para a universidade comprar livros, fazer obras, pagar limpeza, luz e etc, conseguimos um valor um pouco maior do que em 2021, de 4,3%. Vai ser um orçamento de 148 milhões para despesas gerais, mas com a inflação ele perde muito e não alcançou sequer o orçamento de 2019. Atualmente, eu faço parte da diretoria da Associação dos Reitores da Universidades e nós fizemos um trabalho muito grande no Congresso Nacional, até agradeço a senadora Rose de Freitas (MDB) por isso, e conseguimos recompor, parcialmente, recursos de todas as universidades, mas ainda estamos longe do que precisamos.

Quais foram os setores mais prejudicados da UnB?

De maneira geral, a pesquisa e o próprio funcionamento da universidade. Quando falamos de funcionamento, é tudo: pesquisa, ensino e extensão. Porque eu destaco a pesquisa? Porque a pesquisa científica, em qualquer país do mundo, é financiada pelos governos, as empresas até complementam com parcerias e projetos específicos, mas a pesquisa básica é financiada pelo governo. Então, a pesquisa é a maior prejudicada com a redução do orçamento do CNPQ — Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico —, do Ministério da Ciência e Tecnologia. A pós-graduação também, com a redução da bolsa da Capes — Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior — e do CNPQ também. E no caso das faculdades, da UnB nesse sentido, o próprio funcionamento. Nós temos que nos desdobrar para manter a instituição funcionando, e o que nós temos feito é tentar recompor um pouco essa queda de orçamento que a gente teve na área da pesquisa. Como a UnB é uma universidade que arrecada um pouco de recursos, nós usamos para tentar recompor as perdas. Na nossa gestão, temos conseguido, mesmo com essas dificuldades, aumentar as bolsas de iniciação científica, bolsas de pós-graduação e a própria assistência estudantil. Durante a pandemia, conseguimos disponibilizar computadores e internet para alunos que não tinham condições e foi com recursos que a universidade arrecadou. Nós temos que fazer isso, não só para a universidade continuar funcionando, como também para continuarmos avançando nas outras atividades.

Em abril a UnB completa 60 anos. Qual vai ser a programação?

Eu tenho a felicidade de ser ex-aluna da UnB e agora dirigi-la nos seus 60 anos. Estamos com uma grande programação, a universidade se organizou para isso, temos uma comissão formada por pessoas de dentro e de fora da instituição. Fizemos o lançamento do tema das comemorações: Atuante como sempre, necessária como nunca. Vamos ter eventos dentro das próprias faculdades e institutos por meio do decanato de extensão, então, cada um vai ter a sua programação. Também, dentro dos 60 anos, vamos sediar o encontro da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, que vai acontecer em julho e é a grande festa da ciência brasileira, nós pleiteamos e conseguimos que fosse na UnB neste ano. Temos a semana universitária, porque também vamos ter o centenário do nascimento do Darcy Ribeiro, que é o nosso fundador, então vamos ter vários eventos relacionados ao centenário de Darcy Ribeiro. Como é um ano eleitoral no Brasil e no DF, e como a Universidade de Brasília é totalmente envolvida na cidade e no país, vamos ter debates com temas importantes, também porque estamos comemorando o bicentenário da independência do Brasil.

*Estagiário sob a supervisão de Juliana Oliveira

 


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