Ao percorrer regiões administrativas do Distrito Federal, é possível notar um problema comum nas ruas e avenidas dessas cidades: a desordem da fiação nos postes públicos. Além da poluição visual, os moradores temem os riscos que a bagunça nessas redes pode ocasionar. Levantamento feito pelo Correio aponta que, ao menos quatro regiões se mostraram problemáticas em relação ao emaranhado de fios: Taguatinga Sul, Vicente Pires, Paranoá e Sol Nascente.
Coordenador do curso de engenharia elétrica do Centro Universitário do Instituto de Educação Superior de Brasília (Iesb), Maurício Lopes Tavares destaca que a fixação da rede de distribuição obedece normas técnicas e da própria concessionária, "sujeitas à regulamentação da Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica)". "Os postes devem manter as condições de afastamento, isolamento e altura mínima em relação ao solo. Tipicamente, a fiação desordenada não é da rede elétrica, são de cabos de fibra óptica, TV a cabo ou telefonia, que muitas vezes não obedecem a fixação adequada", pontua.
Líder comunitário do Sol Nascente, Edson Batista, 41 anos, relata que a região administrativa sofre com os problemas de fiação desorganizada. "Os moradores pedem melhoria da rede, como colocar iluminação nas ruas e impedir as gambiarras. Porque muitas quadras ainda estão com postes de madeiras, colocadas pela própria população e com fios puxados pelos moradores. Alguns setores foram regularizados, como Santa Rosa e o condomínio Brasil, mas muitos outros estão sem atendimento", declara.
A Neoenergia explica que, para fazer as alterações nos postes, precisa de autorizações de outros órgãos do governo, diz Edson. "Desse jeito, a nossa energia fica com potência baixa, os aparelhos queimam, o chuveiro não esquenta. Os moradores querem sair da ilegalidade e começar a ter um padrão de qualidade. E isso é positivo para a empresa, pois vai trazer lucro para elas, e qualidade para a gente", avalia.
Apesar de regularizado, o Paranoá enfrenta basicamente a bagunça da fiação. O relato é do morador Cristiano Soares, 33. "Causa muito problema (a desordem dos fios), até porque fica feio o emaranhado e tem o risco de alguém levar o choque. As pessoas ficam com medo", acrescenta.
Queixas
Engenheiro de automação e especialista em energia, Júlio Seype pontua que há riscos quando se mistura, desordenadamente, cabeamento elétrico da alimentação de residências, com cabeamento de dados. "A norma diz que no ponto mais alto do poste deve ser passado a rede elétrica e no mais baixo a rede de dados, com espaçamento limites entre eles. Para que não haja interferência e nem riscos de curto circuitos. Se um cabo romper e ele estiver energizado, ele pode até gerar um campo elétrico próximo ao ponto que toca no solo. Por isso, as pessoas devem se manter afastadas", diz.
Mesmo os profissionais acostumados a mexer na rede com riscos, ressalta ele. "Se o cabeamento estiver bagunçado, o técnico pode sofrer choque acidental. Quando é um trabalho realizado pela concessionária, no caso do DF a Neoenergia, eles costumam desligar o fornecimento de energia para maior segurança do trabalhador, mas os operadores de telefonia trabalham com a rede em funcionamento", alerta. O especialista orienta que em caso de riscos, os moradores devem acionar ou o Corpo de Bombeiros ou a Neoenergia. "Nunca devem se aproximar porque não dá para saber se o cabo está energizado ou não", ressalta.
É esse o principal medo vivenciado pelos moradores de Vicente Pires. "Muita gente tem feito reclamação nos grupos de WhatsApp da associação. São os próprios moradores que nos tem procurado e reclamado, porque, além da estética, tem a questão do risco da quantidade de fios que está sobrecarregando a rede elétrica. Principalmente os de fibra óptica, que estão trazendo preocupação. E no lugar de melhorar, parece que o cabeamento só está aumentando", opina o líder da Associação de Moradores de Vicente Pires e Região (Amovip), Gilberto Camargos.
Melhorias
A Neoenergia, em nota, defendeu que iniciou um procedimento rotineiro de ordenamento das redes de telecomunicações do DF, "para minimizar o risco de acidentes com a população". "Nas ações preventivas são removidas as fiações que oferecem riscos à segurança da população e estão sem a identificação necessária da empresa responsável, contrário ao que estabelece a legislação do setor elétrico nacional. A atividade de segurança tem o intuito de disciplinar a utilização de postes que, por força da Resolução Conjunta nº 001/1999, da Aneel/Anatel/ANP, a distribuidora é obrigada a compartilhar com as operadoras de telefonia, TV a cabo, transmissão de dados, entre outras. E essas empresas, por sua vez, têm a obrigação de zelar pelas boas condições de suas redes e pela manutenção delas", destaca.
Em relação ao tema, a Conexis Brasil Digital, associação que representa as principais operadoras de telecomunicações do Brasil, detalhou que "as prestadoras de serviços de telecomunicações seguem os padrões estabelecidos em regulamentos e normas técnicas para a instalação de fios e cabos nos postes e mantém equipes de prontidão para atendimento de eventuais emergências". "A fiscalização cabe à empresa proprietária do poste que deve acionar as empresas de telecomunicações para reparos em caso de necessidade", finaliza a nota.
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