Celebre a vida

Correio Braziliense
postado em 26/01/2022 00:01

Que país é este em que excelências comemoraram a parada cardíaca de uma criança no interior de São Paulo como troféu na campanha contra a vacinação? Depois, eles descobriram que a parada cardíaca da criança nada teve a ver com a imunização. O Brasil era referência internacional de vacinação e eles querem destruir tudo. E, para isso, contam com a omissão de nosso parlamento.

Enquanto os governantes exigem que os professores e crianças retornem às aulas em março, o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, emitiu nota para comunicar que, em atenção à escalada do número de casos de covid-19, as atividades presenciais seriam suspensas nas dependências daquela Casa: "Essa medida visa diminuir a circulação de pessoas nas dependências desta Casa Legislativa, preservando a saúde não só dos parlamentares, mas também dos servidores e dos colaboradores, considerando os efeitos do recrudescimento da pandemia."

Não questiono a intenção de preservar a saúde dos que circulam pela Câmara dos Deputados. Todos merecem ter a vida protegida. O que causa estranheza é o silêncio do presidente da Câmara e do presidente do Senado para as sandices de autoridades do alto escalão da República que consideram a morte de uma criança um troféu.

Parece que têm preocupações mais urgentes: o orçamento secreto, o fundão eleitoral ou a campanha para a presidência da República. Como diz o padre Antonio Vieira, a omissão é um pecado que se faz não se fazendo. O salteador na charneca, com um tiro, mata um homem; o príncipe, o ministro, o governador e a autoridade, com uma omissão, matam de um golpe uma monarquia, um país, um estado ou um distrito".

Uma nota técnica assinada por pesquisadores da Universidade de Brasília (UnB), Universidade Federal de São João Del-Rei (UFSJ), Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), a Universidade do Estado da Bahia (UNEB), entre outras, alerta para a necessidade de adiar a volta às aulas, ante a escalada crescente de contaminação.

Quem garante que o ambiente de todas as instituições de ensino é seguro nunca visitou uma escola da periferia do DF ou pensa que o Brasil é a Dinamarca ou a Suécia. Infelizmente, algumas são insalubres, não têm janelas, não têm arejamento. Se as escolas são atividades essenciais, é preciso, urgentemente, priorizar vacinação dos professores, dos funcionários e das crianças. É o que protegerá, não apenas eles, mas, também seus familiares.

A UnB retomou as atividades, mas somente 15% das aulas são presenciais. Reiniciar o período letivo das escolas públicas do DF em fevereiro, com 100% presencial, quando nem todas as crianças estarão vacinadas, é uma temeridade ante a velocidade de contaminação da nova variante.

Mas é bonito ver que, apesar de toda a campanha estúpida contra a vacinação das crianças, elas fazem a festa quando vão aos postos se imunizar. É uma tradição reconhecida no mundo. Não ouça os governantes irresponsáveis que celebram a morte, vacine as crianças, celebre a vida.

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