Sabe-se que o Brasil é marcado pelas desigualdades, sejam elas de raça, classe ou gênero. E, nestes últimos anos, elas têm se intensificado por conta da pandemia da covid-19. Mesmo sem o vírus fazer distinção entre pessoas, a população mais vulnerável acaba como a mais afetada, seja pela doença em si ou pelos efeitos dela na sociedade.
Diminuir as consequências das desigualdades tem sido o foco de algumas iniciativas do Distrito Federal e Entorno. As ações promovidas por diversas organizações buscam tornar a realidade do público-alvo mais confortável, além de fornecer meios para uma possível melhora de vida daqueles que passam por dificuldades. Conheça algumas dessas iniciativas:
Jovem de Expressão
O grupo atua no Distrito Federal há cerca de 15 anos, proporcionando, de forma gratuita, a inserção da juventude em diversas atividades voltadas a educação, saúde mental, mercado cultural e empreendedorismo. A organização oferece escola de idiomas, cursos preparatórios, terapia, oficinas, espaço para voluntariado e para atividades da comunidade, editais de financiamento, formação e acompanhamento empreendedor.
Antes da pandemia, diariamente, cerca de 150 jovens participavam do projeto. Mas, assim como ocorreu em muitos setores, o programa precisou se adaptar às necessidades do período de crise sanitária. Com isso, passou a adotar o modelo remoto; posteriormente, um formato híbrido; mas, no fim do ano passado, voltou a atuar de forma presencial.
De acordo com o coordenador pedagógico do programa, Max Maciel, 39 anos, mais de 150 jovens estão inscritos no cursinho pré-vestibular, mais 100 participam do curso de línguas, e a média de pessoas por oficina variava entre 15 e 20 pessoas. "É importante pontuar que o jovem atua em uma sobreposição de ações, entre várias oficinas. Não temos só um foco, e isso tem dado um giro e uma facilidade de atendimento. A demanda que o espaço tem ainda é restrita, porque, apesar de tudo, nossa demanda é muito grande", completa.
Para Jonathan e Silva, 20, estudante de ciência política na Universidade de Brasília (UnB), o tempo que participou do projeto no cursinho pré-vestibular foi incrível, pois, segundo o estudante, isso o ajudou a realizar seu sonho de entrar na UnB. Jonathan também teve aulas de inglês graças ao projeto. Para ele o programa deve ser fortalecido e reconhecido "por ter pessoas que estão dispostas a agregar conhecimento para essa parte da população mais marginalizadas, uma parte que a gente pode dizer que o estado não vê, mas que tem um grande potencial e a gente tem o jovem de expressão para poder desenvolver e aprimorar ainda mais esses potências".
Para mais informações sobre o projeto acompanhe o perfil no Instagram: @jovemdeexpressao.
Instituto Barba na Rua
O projeto começou em 2015, como um coletivo criado por Rogério Barba, 50, que esteve por 25 anos em situação de rua, de 1989 a 2014. Ele acreditava que deveriam existir iniciativas para contemplar as pessoas nessa condição com mais do que comida e roupas. "Sempre pensei que, na rua, poderia existir esporte, cultura e lazer. Por isso, criei o instituto: para poder levar aquilo que sempre achei que as pessoas precisavam", destaca.
Só no ano passado, o instituto distribuiu cerca de 57 mil marmitas. Atualmente, são, em média, de 1,5 mil a 2 mil por mês. Além disso, o projeto tem entregado 250 cestas básicas mensalmente e promovido o encaminhamento de pessoas para casas de passagem, comunidades terapêuticas e até mesmo de volta para as famílias.
O projeto contribui com pessoas como Luís Waldir, 45, que veio trabalhar em Brasília por causa do avanço da pandemia, mas acabou desempregado e sem onde morar. Ele passou um longo período na rua até encontrar Barba Rogério, responsável pelo instituto. No encontro, Luís contou pelo que passou e conseguiu um lugar para ficar. "Dois dias depois, ele (Barba) me levou para a casa dele. Comecei a dormir lá e, como sou habilitado, passei a trabalhar como voluntário no projeto", relatou.
Waldir foi encaminhado para uma casa de passagem em São Sebastião, conseguiu um emprego em uma grande empresa do DF e, hoje, tem um imóvel próprio. Atualmente, segue como voluntário no instituto. Agora, a iniciativa quer alçar novos voos. Barba dará início a uma fábrica social, para ajudar pessoas em situação de rua a conseguir renda. "Vamos oferecer cursos para que fabriquem e vendam os próprios produtos. Vamos começar a formar empreendedores", destacou Barba.
Para mais informações sobre o projeto, acompanhe os perfis no Instagram: @barbanarua e
@institutobarbanarua.
No Setor
O Instituto No Setor foi criado em 2018, com o objetivo de transformar o Setor Comercial Sul (SCS) em referência cultural e de responsabilidade socioambiental. O projeto iniciou com a realização do Setor Carnavalesco Sul e, desde o começo, sempre se preocupou com questões ambientais e com a inclusão de quem ocupava o espaço, que é o caso de pessoas em situação de rua.
O No Setor tem feito a gestão de um banheiro público do SCS, junto à Administração Regional do Plano Piloto. A média é de o público atendido tome cerca de 70 banhos diários nele. O espaço está em funcionamento há mais de um ano e tem permitido a contratação de pessoas em condição de vulnerabilidade social.
"Hoje, quem coordena e faz serviços de limpeza é uma pessoa que foi da rua. E ela contrata, consequentemente, pessoas do próprio território para trabalhar lá. Estamos sempre pensando em possibilidades para geração de renda e intermediando pessoas com oportunidades", pontua Felipe Velloso, 32 anos, coordenador-geral do Instituto No Setor.
Para Felipe, quando uma pessoa tem acesso a alguma oportunidade de geração de renda, ela tem, automaticamente, acesso a uma série de direitos e recursos, o que permite que elas tenham mais chances de se tornarem independentes. Ele acredita que o trabalho do instituto é, também, para a saúde mental. As pessoas acompanhadas pela iniciativa têm mostrado um resultado a médio e longo prazos.
Os projetos sociais do No Setor, como banheiro, horta e ações sociais, são mantidos por meio de doações. O instituto recebe donativos de produtos de limpeza ou PIX pelo CNPJ 36.139.498/0001-15.
Para mais informações, acompanhe o perfil no Instagram: @nosetor.
Project Sagaz
A iniciativa Project Sagaz foi criada em 2012, com foco na produção de eventos. Hoje, o projeto promove a cultura hip-hop e, com o tempo, passou a oferecer aulas de DJ, breakdance, produção de eventos, violão e elaboração de projetos culturais. O público-alvo são moradores do bairro Santa Lúcia, em Águas Lindas (GO).
No decorrer dos anos, o projeto ajudou muitas pessoas. Segundo Sidão, 35, um dos líderes da iniciativa, o maior impacto que o projeto causa é a "consciência do coletivo na construção de uma comunidade mais unida". "Esse é o nosso valor: fortalecer nossa quebrada", destaca.
As aulas ficaram suspensas com o início da pandemia, mas, nesse período, o Project Sagaz arrecadou e distribuiu cestas básicas para a comunidade. O trabalho ocorreu de forma pontual. Agora, com a volta das aulas, a iniciativa tem buscado investimento e patrocínio para as competições, pois muitos alunos precisam de recursos para as viagens e material de treino.
O projeto integra o Bitid — Hip-Hop Celebration, no Complexo Cultural de Samambaia, com a apresentação de espetáculos. O próximo evento será entre os dias 4 e 6 de fevereiro, com batalhas de breakdance, de rimas, workshops, pocket shows, grafite e muito mais.
Para mais informações, acompanhe no Instagram: @projectsagaz.
*Estagiária sob a supervisão de Ana Luisa Araujo
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