Pequenas empresas

Severino Francisco
postado em 20/01/2022 00:01

Logo no início da pandemia, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, fez o alerta: honrem seus compromissos financeiros, pois isso é importante para o equilíbrio da economia. Pude avaliar a magnitude do drama enunciado pela excelência em um episódio caseiro. Durante a pandemia, contratei um jardineiro para cuidar do quintal uma vez por mês.

Certo dia, não retirei o dinheiro no banco e prometi que pagaria no dia seguinte. No entanto, me esqueci e, uma semana depois, ele me ligou pedindo desculpas por cobrar, mas argumentando: "Esse dinheiro é pouco, mas é importante para eu pagar o meu remédio para pressão". É isso mesmo, se eu não pago, o jardinheiro quebra.

Na teoria, Campos estava corretíssimo. Mas, em um átimo, pensei: se os governantes não fazem nada para amparar as pequenas e as médias empresas vamos assistir a uma quebradeira geral. Infelizmente, não deu outra. Nem sempre as pessoas deixam de honrar os compromissos financeiros por calote. A maioria deseja estar com as contas em dia. Mas existem certas circunstâncias que inviabilizam o pagamento das dívidas contratadas. E a pandemia foi precisamente uma situação excepcional que exigia ações do governo para garantir a sobrevivência de quem faz a economia girar.

A pandemia suscitou uma onda inédita de solidariedade entre as pessoas e as instituições. Todavia, em vez de aproveitar toda essa energia positiva para vencer as dificuldades suas excelências preferiram despender a força em negacionismos e asnices que atentam contra a saúde pública e a saúde econômica.

Todos sabem que as pequenas e as médias empresas são as que mais produzem empregos. Apesar disso, elas não mereceram atenção compatível com a sua relevância. Na fatídica reunião de 20 de abril de 2020, o ministro Paulo Guedes afirmou, a plenos pulmões, que o governo federal não devia investir nas pequenas empresas, mas, sim, nas grandes, pois ainda ganharia dinheiro. É isso mesmo, para os amigos tudo, para as pequenas empresas, a lei.

E, de fato, vemos que uma boa parte das grandes empresas multiplicaram os ganhos na pandemia, enquanto as pequenas faliram ou sobreviveram, mas estão à beira da falência. Só criaram planos complicados, burocráticos, inacessíveis e com juros extratoesféricos, concebidos, meticulosamente, para não funcionar.

Gosto das lojinhas de entrequadras, dos pequenos cafés, dos barzinhos. Lá, você encontra opções diversificadas. Eles constituem uma riqueza de coisas mínimas e imprimem alma à cidade. Enquanto isso, temos no Congresso Nacional lobbies para defender as coisas mais absurdas: invasão de terras indígenas pelo garimpo, flexibilidade da fiscalização do desmatamento, voto impresso, liberação de armas, surrupio de direitos, aumento nas verbas do fundão e orçamentos secretos. Coisas que só fazem mal ao país.

Acordem, excelências, não é possível que os senhores não dispensem um mínimo de atenção a quem produz mais empregos no país. As eleições estão próximas e, mesmo com orçamento secreto, não tenham dúvidas de que as ações dos senhores serão avaliadas com muito carinho pelas urnas. Os senhores acham que enganam os eleitores e ainda pedem troco, mas podem ter surpresas.

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