Desde o dia 6 de janeiro, moradores e trabalhadores do prédio vizinho ao edifício que desmoronou, em Taguatinga Sul, vivem em espera. Os ocupantes do prédio amarelo, de dois andares, que fica ao lado do que ruiu, relatam o sentimento de insegurança sobre o retorno para o imóvel. Mesmo após a Defesa Civil afirmar que ele não vai desabar, os ocupantes afirmam ter dúvidas e dizem que não receberam uma posição oficial da proprietária para voltarem ou não.
A empregada doméstica Kelen Cristina Cardoso da Silva, 40 anos, é uma das que têm receio. Em agosto de 2021, ela se mudou para o segundo andar com os dois filhos, de 18 e 20 anos. Ela, que pretendia trocar os móveis da sala, usou o dinheiro para custear uma mudança de emergência. Naquela manhã, ela lembra do momento em que os bombeiros e a Defesa Civil pediram para que o prédio em que morava também fosse desocupado, pois não havia a confirmação se a estrutura havia sido comprometida pelo desmoronamento do edifício ao lado. "Felizmente, não ficou nada para trás, mas algumas coisas minhas estragaram durante a mudança, mas a coisa que mais me intriga é: como aquele senhor (dono do prédio) não pensou no tanto de gente que ele estava prejudicando?", questiona.
Kelen afirma que, após o episódio, conseguiu alugar um apartamento no bairro Areal, de Águas Claras, para moradia de emergência. "É uma situação bem constrangedora, porque entrei de férias no dia 5 de janeiro (véspera do desabamento), e estava planejando viajar no sábado para a casa dos meus pais, que fica em São João D'Aliança (GO), mas não tive como viajar. Naquela manhã o que fizemos foi evacuar o prédio", conta.
Parados
O proprietário da Torneadora e Recuperadora Confiança Jean Posta, 54 anos, trabalhava no local há 13 anos e lamenta não ter tido retorno do dono do prédio que desabou. "Não entraram em contato comigo, e estou parado com meus 10 funcionários. O que ainda consigo fazer é trabalhar com um torno — mecânico para peças — ligado em uma oficina do outro lado da rua para atender as exigências dos meus clientes", conta.
Jean afirma que está atrás de um novo local para trabalhar e tentar voltar às atividades normais. Ele, que mora em Vicente Pires com a esposa e dois filhos, recentemente foi diagnosticado com dengue, o que o deixou ainda mais vulnerável. "Eu estava com dengue há cinco dias, com mal estar, febre, tontura e ânsia de vômito", diz. Inseguro sobre o futuro da loja, ele não consegue estimar a perda financeira com o serviço parado. "Estou calculando o prejuízo", lamenta.
Aguardando
Procurada, a dona do prédio não pretende se manifestar no momento. Entretanto, a reportagem apurou que ela aguarda a demolição do prédio que ruiu para saber a extensão dos danos no seu imóvel e assim definir como vai prestar apoio aos residentes. A imobiliária responsável por administrar os apartamentos não cobrou o aluguel de janeiro e tem recebido alguns moradores para viabilizar outros aluguéis pelo DF.
No último dia 14, especialistas recomendaram a demolição do que sobrou do prédio que desabou na Área Especial 20 da QSE e a instalação de escoras na estrutura vizinha, o que foi feito. Segundo a Defesa Civil, o prédio não corre o risco de desabar, mas segue interditado e sem acesso aos moradores.
A assessoria do dono do prédio que desabou informou que ainda não há definição quanto ao apoio para os moradores do edifício amarelo, e que as questões estão sendo resolvidas por partes. "A prioridade agora é garantir uma demolição segura, e seguir com os acordos com as famílias", comunica.
Memória
Em 6 de janeiro, Neila Lara Baragchum, 50, uma das donas de uma oficina ao lado do prédio da Área Especial da QSE 20, em Taguatinga Sul, alertou ao Corpo de Bombeiros Militar do DF (CBMDF) sobre o risco de desabamento do prédio. Os militares fizeram uma avaliação no prédio e constataram inúmeras rachaduras. A Defesa Civil chegou em seguida e deu a ordem para que todos os moradores saíssem dos apartamentos imediatamente, assim como do imóvel vizinho. Nos dias seguintes, cachorros e gatos foram resgatados do edifício, e alguns pertences de moradores, mas não todos. Os dois prédios foram fechados para impedir a entrada de pessoas.
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