Mesmo registrando aumento de casos diários de covid-19, o Distrito Federal tem visto crescer a quantidade de turistas espalhados em pontos-chave do Plano Piloto. Nos 15 primeiros dias de janeiro, os cinco Centros de Atendimento ao Turista (CAT) de Brasília receberam 2.747 pessoas — média de 183 atendimentos por dia. Em 2021, os centros passaram seis meses fechados devido à pandemia. Considerando os dias em que as unidades operaram, a média do ano passado foi de 100 atendimentos diários. Em 2020, ano em que os CATs funcionaram por apenas dois meses e meio, a média de turistas recebidos por dia ficou em 89. Antes da crise sanitária, em 2019, os centros atenderam, diariamente, cerca de 80 pessoas. Os números são da Secretaria de Turismo do Distrito Federal.
Um dos principais reflexos do crescimento na circulação é o aquecimento dos comércios ambulantes dos pontos turísticos. Tânia dos Santos, 54 anos, vende lembranças de Brasília na Catedral Metropolitana há 13 anos. Segundo a moradora do Novo Gama (GO), o movimento deste ano está melhor do que antes da pandemia. Tânia acredita que parte do aumento pode ser explicado pelo projeto Brasília Iluminada, que, desde o fim de 2020, atrai visitantes ao gramado do Eixo Monumental, próximo a pontos turísticos estratégicos.
"O movimento melhorou bastante, a iluminação aqueceu muito as vendas. O fim de ano não era tão bom para nós, mesmo antes da pandemia, porque o povo corria para o litoral. Depois da iluminação, (o movimento) subiu muito", avalia a vendedora, que tem faturado até R$ 3 mil por dia nesta temporada. Em 2019, as vendas diárias ficavam entre R$ 400 e R$ 600. Em 2020, os números foram ainda piores: Tânia vendia entre R$ 100 e R$ 200 diariamente. "E ficava feliz, dando graças a Deus. Tomara que continue bom assim", torce.
Cristiane Carvalho, vice-presidente do Sindicato do Comércio de Vendedores Ambulantes do Distrito Federal (Sindvamb), concorda que a categoria tem vivido um cenário positivo. Ela destaca que a promoção de eventos na cidade é fundamental para incentivar a circulação de pessoas e, consequentemente, o comércio ambulante. "Para nós, é muito claro que este ano está muito melhor do que o ano passado. Tendo eventos na cidade, os ambulantes conseguem ter bons lucros. O Brasília Iluminada trouxe muitos turistas", celebra.
Segurança
Secretária de Turismo do DF, Vanessa Mendonça atribui o crescimento das vendas de ambulantes aos espaços abertos que a cidade oferece, além das medidas protetivas contra a covid-19. "Brasília é um destino seguro, e a segurança é uma das principais âncoras do turismo. Estamos com um posto de testagem gratuita de covid-19, com resultado em 15 minutos, dentro do CAT do Aeroporto JK, que fica exatamente no desembarque. Brasília oferece espaços a céu aberto, onde é possível a visitação sem aglomerações. Isso é um privilégio para o visitante, que não existe em toda parte", enumera a titular da pasta.
A vendedora de lembrancinhas de Brasília na Praça dos Três Poderes Patrícia Duarte, 39, concorda com a secretária. Para ela, o movimento não voltou ao mesmo nível de antes da pandemia, mas a moradora da Vila Planalto acredita que o cenário poderia ser pior se o local não fosse ao ar livre. "Há dois anos, era melhor, agora não está tão bom, porque muitas coisas ainda estão fechadas. Os museus estão reabertos, mas o STF (Supremo Tribunal Federal), por exemplo, segue fechado para visitações. O povo não pode chegar perto nem para tirar fotos. As grades atrapalham muito os turistas", ressalta Patrícia, que, antes da emergência sanitária, chegava a faturar R$ 3 mil por dia. Em 2021, as vendas diárias mal alcançavam R$ 300. Neste ano, a vendedora tem conseguido arrecadar cerca de R$ 1 mil por dia. "No ano passado, as pessoas ainda estavam com muito medo da doença. Agora que voltaram a passear, mas não como em 2019", completa a vendedora, que atua no local desde 2012.
Cautela
Júlio César Siqueira, 52, acha que o movimento ainda está fraco, apensar da melhora desde 2021. Com ponto na Catedral, o vendedor de água de coco afirma que o cenário não se igualou ao de 2019, quando vendia cerca de 60 cocos. Agora, a saída diária fica entre 30 e 40 unidades.
"O movimento não está como antes, enfraqueceu bastante, estava retomando o fluxo, mas, novamente, começou a cair, por causa dessa nova variante. Este ano, por enquanto, está um pouco melhor do que 2021, mas vai depender da doença e da nossa administração frente a ela, com a vacinação, por exemplo. Agora, a situação continua crítica", reflete o vendedor. "O público está com medo, não sabe o que vai acontecer daqui para frente. Tudo está muito incerto, e de uma hora para outra, pode mudar", complementa Júlio César.
Presidente da Câmara de Turismo da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Distrito Federal (Fecomércio), Luís Otávio Rocha Neves acredita que a nova cepa da covid-19, a ômicron, interferiu no setor de turismo do DF. O dirigente, contudo, reforça o potencial da capital do país para receber viajantes. "Uma vantagem de um destino como Brasília, em um período em que o brasileiro não está viajando para o exterior por medo, é ser um local que a maioria tem vontade de conhecer, pela beleza arquitetônica e pela história da cidade, por mais que não tenha investimento na promoção de Brasília para os brasileiros. Ainda estamos em processo de retomada, longe de voltar completamente", ressalta o presidente.
Luís Otávio defende que a propaganda interestadual de Brasília pode ajudar a alavancar o setor, mesmo no cenário incerto que a ômicron trouxe à pandemia da covid-19. "Estamos com esperança de que a situação volte a melhorar em fevereiro, mas precisa haver investimento na promoção da cidade, buscando trazer turistas que vem de carro, de cidades próximas de Minas Gerais, São Paulo e Mato Grosso, por exemplo, em um raio de até 700km", pondera o presidente.
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