CRISE SANITÁRIA

Comércio teme novos prejuízos

Aumento dos casos de doenças respiratórias tem provocado afastamento de trabalhadores, e laboratórios admitem falta de testes

Pedro Marra
postado em 14/01/2022 00:01
 (crédito: Ed Alves/CB/D.A Press)
(crédito: Ed Alves/CB/D.A Press)

A volta ao trabalho após o réveillon, para muitos trabalhadores do comércio, teve de ser adiada devido à alta dos casos de covid-19 e de influenza no Distrito Federal. Não bastassem os registros da infecção, comerciantes têm enfrentado dificuldade para conseguir testes para detecção da gripe. Os motivos envolvem preços altos e a falta de kits em laboratórios e farmácias, assim como na rede pública de saúde. Representantes do setor pedem para que haja reforço das medidas de segurança, a fim de evitar prejuízos financeiros para as empresas.

Responsável por uma rede de lojas de cosméticos com quatro estabelecimentos no DF, o empresário Fernando Cunha, 40 anos, relata que nove dos 40 trabalhadores da empresa tiveram de encontrar testes para detecção da gripe. "Eles (os funcionários) pedem dispensa para fazer o exame, mas não conseguem, e a empresa precisa arcar com mais um dia (de expediente) ou meio período (de trabalho), até que consigam fazer. Está tão complicado que as pessoas estão desencorajadas a ir às unidades de saúde", observa Fernando.

Além disso, a queda no movimento, devido ao medo dos clientes, tem prejudicado o caixa das empresas. Por isso, representantes do setor temem, ainda, novas restrições de horários. "Devido ao avanço da vacinação no Distrito Federal, a Fecomércio-DF espera não ser necessária a realização de um novo lockdown no comércio, visto que a maioria dos casos de infecção por covid-19 por ora relatados são leves", informou a Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo da capital do país. A entidade também cobra que os trabalhadores desse ramo sigam os protocolos de segurança sanitária.

Dados do Sindicato do Comércio Varejista do DF (Sindivarejista) estimam que 90% dos 30 mil funcionários de lojas de rua e shoppings da capital federal estão vacinados. E esse cenário tem tranquilizado empresários, segundo o presidente da instituição, Edson de Castro. "Mas as medidas de distanciamento social e o uso de máscaras continuam em vigor em todas as lojas, em nome do bom senso", destaca.

Afastamentos

Gerente de uma loja de esportes em Taguatinga Norte, Geraldo César, 33, trabalha com 10 funcionários, dos quais dois foram diagnosticados com gripe após viagens de fim de ano. Ambos contraíram a nova variante do vírus influenza — a H3N2, conhecida como Darwin. O quadro resultou em atestados de duas semanas. "Se a pessoa apresentar algum sintoma, temos de afastá-la o mais rápido possível, para que não infecte os outros integrantes da equipe nem clientes. Agora, só esperamos não haver nenhum tipo de restrição novamente, pois o comércio não aguentaria ficar de portas fechadas", acrescenta Geraldo.

Para garantir maior proteção do público e dos trabalhadores, a infectologista Joana D'Arc Gonçalves sugere que as empresas ofereçam máscaras PFF-2 — com filtração de 95% — aos funcionários. "Isso diminuiria a possibilidade de infecção, além da necessidade de o ambiente onde eles trabalham estar o mais arejado possível. Esses locais, com certeza, têm aglomerações, e o profissional acaba ficando mais exposto", destaca a médica.

Presidente do Sindicato dos Laboratórios de Pesquisa e Análises Clínicas do Distrito Federal (Sindilab), Alexandre Bitencourt reconhece que os estabelecimentos não têm encontrado testes rápidos para detecção da influenza nem da covid-19. "Trata-se de uma demanda mundial em que o Brasil acaba perdendo pela preferência", comenta. Além disso, os exames de identificação de vírus da gripe são raros de encontrar e, atualmente, estão disponíveis apenas em duas grandes empresas de análises clínicas do DF.

Outro fator de dificuldade é o número de funcionários de laboratórios do DF que contraíram covid-19 ou gripe, o que compromete o atendimento ao público. Até ontem, o Sindilab havia contabilizado 200 profissionais nessas condições. "Estamos realmente de mãos atadas. É um caso grave. Usamos duas formas de trabalho: triagem pelo teste rápido, que é mais barato — R$ 120, em média — e não existe mais no setor, e a detecção do vírus pelo teste RT-PCR, que custa em torno de R$ 450", completa Alexandre.

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