O fim da pandemia?

Correio Braziliense
postado em 12/01/2022 00:01

No segunda-feira, pensei em escrever uma crônica sobre essa pergunta, porque ouvi várias autoridades afirmarem que a pandemia estava terminando. Não sou cientista, mas acompanho com atenção a luta deles contra a ignorância, a demagogia e a má-fé. A proliferação da nova variante ômicron se desencadeou com tamanha velocidade, que a indagação ficou superada. Mesmo assim, acho que é um bom exercício refletir sobre a questão.

Claro que a resposta é não, nada indica que pandemia está prestes a se encerrar. Porque não aprendemos e insistimos com os mesmos erros. O óbvio precisa ser atacado. Desde o início, os cientistas alertaram para o perigo das novas variantes, se todos não fossem vacinados. E, também, que essa é uma doença coletiva, se as populações dos países pobres não forem contempladas com vacinas, existe o risco permanente do surgimento de novas variantes.

Como é que você acaba com uma pandemia, que já dura mais de dois anos, se só tem um posto de vacinação nos fins de semana em todo o DF, quando a ômicron corre solta? Apesar disso, continua a campanha homicida contra as vacinas, com os autores posando olímpicos, na certeza da impunidade.

Um pastor e apoiador fanático do presidente negacionista disseminou a versão de que tomar vacina contra a covid seria um "infanticídio" e só foi barrado do Twitter por causa da pressão exercida por usuários da rede.

Graças à vacinação, tão atacada pela falange dos negacionistas, tivemos um trégua nos últimos meses. Contudo, novamente os governantes se equivocaram e meteram os pés pelas mãos, relaxando com as medidas de proteção. João Doria exerceu um papel crucial na aquisição da CoronaVac, que obrigou as excelências federais negacionistas a se mexerem e a comprarem as vacinas.

Infelizmente, teve uma recaída e puxou o bloco da desmobilização no uso da máscara, que influenciou outros governadores. Estamos vendo e vivendo o resultado. Eu acho incrível que os governantes tenham decretado a volta às aulas, mas não estabeleçam nenhuma prioridade para a vacinação dos professores ou das crianças.

Em entrevista ao CB. Poder, o cientista Miguel Nicolelis alertou: "O retorno às aulas sem imunização de crianças nessa faixa etária é absurdo. Vamos colocar em risco não só as crianças, que já morreram pela covid, mas as famílias, porque as crianças podem pegar ou transmitir".

Se os governantes fizessem o óbvio, a situação seria menos dramática: responsabilizar os que propagam informações falsas, exigir o passaporte de vacinação, exigir que as corporações virtuais barrem os disseminadores de notícias que podem levar à morte das pessoas e continuar (ou retomar) os cuidados básicos de proteção sanitária.

Eu gostava de ver os cuidados que um supermercado, próximo à minha casa, tinha com os clientes, antes da desmobilização promovida pelos governantes.

Logo na entrada, havia um rapaz que limpava os carrinhos de compra com álcool, tendo ao fundo uma plaquinha de papelão, escrita à mão, em letra tremida: "Juntos, venceremos". Pode parecer piegas, mas não vejo outra maneira de derrotar esse vírus.

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