Um novo risco de desabamento paira sobre o prédio de Taguatinga Sul que ruiu na última quinta-feira. Desde o fatídico dia, a estrutura está isolada e os antigos moradores não podem ter acesso ao que sobrou de suas casas, nem mesmo para a retirada de documentos pessoais. Ontem, após análise topográfica da Defesa Civil, foi contatado que há instabilidade e outros três pavimentos podem desabar. Com isso, os técnicos não liberaram a entrada de equipes do Corpo de Bombeiros para retirar pertences dos moradores de dentro do prédio. Segundo a avaliação, a edificação se movimentou mais do que o esperado nos últimos três dias. "O prédio afundou 4 m e inclinou 50 cm para a frente. Continua instável", apontou o tenente-coronel Rossano Bohnert, chefe da engenharia da Defesa Civil.
"O prédio não está estável, houveram deformações ao decorrer dessas 72 horas, está amassando e pode vir à ruína cada vez mais rápido. Não é seguro. A estrutura ainda está de pé porque não há movimentação, mas a partir do momento que comecem a circular pessoas lá dentro, pode ser que desabe", explicou Bohnert. Ele destacou que uma rachadura está evoluindo no último pavimento do prédio e o caso é totalmente imprevisível.
A equipe técnica continuará avaliando a movimentação por mais 24 horas e hoje uma nova vistoria deve ser feita para averiguar se houve estabilização do edifício. "Vamos fazer uma nova reunião e se o prédio tiver estabilizado decidiremos se podemos entrar e fazer uma visita técnica para ver a estrutura e as patologias por dentro", acrescentou o tenente-coronel.
Furtos
A aposentada Terezinha de Maria, 60 anos, contou que estava fazendo cuscuz na manhã do desabamento quando ouviu os estalos na estrutura do prédio. "Achei que fosse do cuscuz, mas era um barulho estranho", disse. Logo ela saiu de casa e não demorou muito para receber uma ligação da irmã aflita. "Gosto nem de lembrar. Não temos nenhum documento e não tem como seguir a vida sem essas coisas", lamentou emocionada.
Hipertensa e diabética, ela se queixa que pessoas de má fé estão invadindo os escombros durante a madrugada para roubar os pertences dos moradores. Ela relatou que os técnicos da Defesa Civil ficam na parte da frente , enquanto os suspeitos entram pela parte de trás. "Já não basta toda essa angústia, agora temos que nos preocupar se o que nos restou está sendo roubado. É um absurdo a gente não poder pegar nem a medicação e os documentos enquanto outros entram para roubar", desabafou a moradora do segundo andar.
Além das reclamações, um rapaz que não morava no local foi acusado de vender as doações arrecadas para as famílias que perderam tudo. "Ele é enteado de uma moradora, mas não vivia aqui. Ele está tirando de quem precisa e vendendo na Praça do Relógio", disse uma testemunha que não quis se identificar.
Quando o rapaz apareceu no local, ele foi acusado, ainda, de furtar os pertences que estavam nos escombros e acabou sendo confrontado. O homem e uma moradora começaram a discutir e, por pouco, a briga não evoluiu para uma agressão física. Técnicos da Defesa Civil tiveram que separar os dois.
A Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF) informou, por meio de nota, que o policiamento em Taguatinga Sul é feito por meio de rondas, não sendo possível manter uma viatura de forma fixa no local visto que toda a cidade necessita ser policiada.Mas garantiu que o comando da área foi informado da situação evai reforçara atuação no local.
Por nota, o proprietário do imóvel contestou que estejam acontecendo os saques e disse que "não há registros oficiais de furtos às unidades do edifício, haja vista que, além do monitoramento do local pela Polícia Militar do DF, durante 24 por dia, há ainda um profissional de segurança privada contratado pelo proprietário para garantir que fatos como este não ocorram".
Angústia
De férias, Douglas Nunes, 28 anos, ficou sabendo do desabamento enquanto estava na praia. "Eu abri a rede social e vi meu prédio caindo. De repente um monte de gente começou a me ligar", contou. Preocupado, ele antecipou a passagem de volta para o DF e agora vive a angústia de ter perdido tudo. "Eu me mudei há dois meses, estava montando o apartamento do zero. Mas, ainda assim, sou grato pela minha vida. Eu poderia ter morrido", reconheceu.
A preocupação agora é recuperar os pertences de valor que ficaram no apartamento do terceiro andar. Técnico de informática, ele precisa dos computadores para voltar ao trabalho, inclusive um no valor de R$ 15 mil que precisa devolver . "Minha preocupação, agora, é encontrar um lugar para morar e recuperar esses notebooks para que eu possa voltar ao trabalho."
Esperança
Os militares do Corpo de Bombeiros Militar do Distrito Federal (CBMDF) e da Defesa Civil resgataram um dos dez gatos que estão sob os escombros da estrutura. Apesar de nenhum morador ter se ferido, diversos animais estavam no local no momento do desmoronamento.
Após localizarem os felinos, os militares entraram em contato com a tutora, Luana Magalhães, 28 anos. Por cerca de 40 minutos ela tentou capturá-los, com o apoio dos militares, mas eles escaparam e voltaram para os escombros. "Eles estão muito assustados e reconhecem o dono pelo cheiro, como a roupa não é minha, não sentem meu cheiro", explicou Luana, que acabou ferida pelos gatos que estavam assustados.
Tom foi o único que Luana conseguiu resgatar. Agora, ela precisa de ajuda para abrigar o animal, uma vez que no hotel não consegue cuidar dele. "Já contatei algumas pessoas, mas ainda não consegui. Preciso de um abrigo temporário para ele." A farmacêutica espera conseguir resgatar os outros cinco que foram vistos. "Esperança a gente sempre tem", disse emocionada.
Investigação
No início da noite de ontem, o Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT), por meio da Promotoria de Defesa da Ordem Urbanística (Prourb), publicou nota informando que acompanhará o caso e verificará as eventuais responsabilidades. O prédio, mesmo construído há 25 anos, não possuía carta de habite-se, conforme a Secretaria de Desenvolvimento Urbano do DF (Seduh).
O órgão aproveitou para alertar a população sobre a importância da regularidade das construções. "O Ministério Público aproveita para reforçar a todos os moradores de edifícios a importância de se verificar junto aos cartórios de registro de imóveis e à Secretaria de Habitação do GDF a situação de regularidade dos prédios, especialmente se dispõem de cartas de habite-se válidas e atualizadas, ou seja, condizentes com a situação atual do imóvel". finalizou.
O Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do DF (Crea-DF) também se posicionou e disse que ouvirá "as partes envolvidas para apurar eventuais responsabilidades, e, caso fique caracterizada imperícia, imprudência ou negligência por parte de algum dos responsáveis técnicos, o caso será levado à Comissão de Ética Profissional do Conselho". Além disso, o conselho profissional informou que medidas administrativa cabíveis estão sendo tomadas.
Como ajudar
Cerca de 24 pessoas viviam no prédio de quatro andares e precisaram evacuar às pressas, deixando para trás todos os pertences. Os moradores foram levados, na noite do acidente, para um hotel no Pistão Sul, em Taguatinga. Lá, ficarão hospedados até amanhã, com os custos das diárias do dono do prédio.
A mãe de uma das moradoras disponibilizou a residência para recolher e distribuir doações. O endereço é: QSE 7 casa 35, rua do CEF 10, em Taguatinga (Falar com Raimunda). Também é possível doar pelo PIX 61 98408 6817 (celular). Mais informações: 61 984-086-817 (Cristiane).
Os postos do Corpo de Bombeiros do Distrito Federal (CBMDF) e da Defesa Civil também servirão de ponto de apoio a fim de recolher doações para os moradores.
A Subseção de Taguatinga da Ordem dos Advogados do Advogados do Brasil do DF (OAB-DF) transformou o local em um ponto de coleta de doações. Até a sexta-feira, quem quiser ajudar poderá levar doações de água, comida, móveis e roupas, na Sede da OAB de Taguatinga, localizada na QI 10, lote 54, de 9h às 18h, em dias úteis.
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