A política como ela é

Pare para pensar: no ano que vem, os políticos vão voltar a aparecer mais em locais públicos, vão inundar as redes sociais, compartilhando saudações e planos, e vão te mandar mensagens que você não pediu para receber — mesmo com as restrições impostas pela legislação eleitoral. O fato é que farão muitas e muitas promessas, registrarão até algumas delas em cartório, o que certamente te levará a crer que a sua vida vai melhorar, seu quintal será mais florido, sua cidade mais acolhedora e segura. Ainda que existam políticos cheios de boas intenções, é bom lembrar que a maioria delas permanece nesse terreno aí, arenoso e pouco sólido, das realizações que estão sempre no porvir. Depois de eleitos e feitas as contas, tudo muda de figura. Mas essa justificativa é pouco válida. O Brasil — entenda-se eleitos e eleitores — precisa cair na real. O modus operandi de sempre não cola mais.

Quando se trata do que é público, a palavra de ordem é responsabilidade. Um governante não pode governar para ele próprio e seu partido. Enquanto não houver essa consciência morreremos na praia, exaustos, a cada fim de mandato. Vem o sentimento de decepção, de desalento com a política e da falta de alternativas. Pensar a longo prazo e adotar medidas que sejam impopulares em algum momento é imperioso. Chega de postergar tudo, de recomeçar tudo do zero a cada quatro ou oito anos, de reformas que não saem do papel ou que, depois, exigem remendos em série.

A crise climática é anunciada há quantos anos? O problema crônico de ocupação desordenada do solo em Brasília é novidade? Ninguém nunca ouviu falar que as invasões iriam afetar o abastecimento de água na capital? A falência do sistema previdenciário é anunciada há quanto tempo mesmo? E a reforma tributária, pela qual imploram o sistema produtivo e o mercado consumidor, chega algum dia? Desigualdade de renda é ou não o problema mais crônico do Brasil? Agora mais do que nunca com os efeitos devastadores da pandemia.

Ou seja: nossos problemas são conhecidos. Combatê-los, no entanto, não é prioridade. Planos que ficam séculos na gaveta são apenas servidos como pratos requentados cada vez que um desses dilemas brasileiros ganha a dimensão de uma tragédia. Portanto, senhores e senhoras, devemos ouvir discursos como quem procura soluções, mais reais, menos sedosas aos ouvidos. A nossa esperança hoje está depositada naquela agulha escondida no palheiro. Tão difícil de achar. Havemos de encontrar? Ficarei com quem fale a verdade, nua e crua. Xô, fake news.