A chegada de 2022 traz um sopro de renovação e esperança para os brasilienses. Com a mudança de calendário, a população começa a estabelecer novos planos, alimentar os sonhos e traçar metas para os desafios do novo ano. Depois de vivenciar mais um período marcado pela pandemia, o Correio foi às ruas conversar com os moradores e saber o que eles gostariam de dar de presente para 2022. Ao longo de uma manhã, a equipe de reportagem esteve na Rodoviária do Plano Piloto para conversar com pessoas que passavam pelo terminal. Os desejos variaram entre o fim do Sars-CoV-2 e pedidos por mais empregos, saúde, moradia e valores mais justos nos itens básicos de alimentação.
No ano em que o Distrito Federal atingiu a marca de 11.100 vidas perdidas para a covid-19, com mais de 618 mil mortes em todo o Brasil, o presente que Brenda Alves, 25 anos, moradora de Taguatinga Norte e gerente, gostaria de entregar para 2022 é paz e o fim da pandemia. "Seria bom para todo mundo que a pandemia acabasse e tudo voltasse ao normal", conta. A gerente detalha que, no começo da crise sanitária, ela chegou a contrair o vírus, mas não teve tantos sintomas. A preocupação foi com a avó. "Ela tem 87 anos e chegou a ficar na UTI (unidade de terapia intensiva), mas se recuperou e está bem", salienta.
Para Laís Barros, 29, doméstica e moradora do Itapoã, o fim da covid-19 também é o mais importante. "Consegui não deixar de trabalhar na pandemia, mas precisamos que as coisas voltem ao normal", destaca. Embora as variantes do Sars-CoV-2 sejam uma preocupação, um dos caminhos para vencer a doença está sendo percorrido: a capital Federal já imunizou 82,28% da população com as duas doses da vacina. Com a aplicação adicional, o percentual é de 13,95%. A cobertura vacinal é uma forma de garantir que, mesmo que o paciente contraia a doença, os sintomas sejam mais brandos.
Segundo Gislene Aparecida, 38, gerente administrativa e moradora da Águas Lindas, o importante para o próximo ano é ter "saúde, prosperidade e mais emprego". "No começo da pandemia, foi mais difícil, mas aos poucos foi se tornando mais fácil lidar com as mudanças", diz. Gislene passeava na Rodoviária com a filha, Helena Aparecida, 3 anos, que se encantava com as decorações de Natal das lojas de presentes.
Oportunidades
A população também deseja encontrar, no próximo ano, mais oportunidades no mercado de trabalho. A taxa de desemprego, de acordo com dados da Companhia de Planejamento do DF (Codeplan), caiu 7,6% em novembro de 2021 em relação ao mesmo período de 2020. Segundo a pesquisa da Codeplan, a busca de pessoas por emprego diminuiu de 288 mil para 266 mil. Apesar disso, os moradores ainda anseiam por mais oportunidades de serviço. Quem está nessas estatísticas é Davi Moreira da Silva, 18, morador de Sobradinho, que conta que há meses entrega currículos, mas sem sucesso. "Estou há muito tempo procurando, entreguei currículo, fui em muitos lugares, mas, até agora, não consegui nada. Está sendo muito difícil ser contratado", confessa.
Para Matheus Silva de Paiva, economista e coordenador do curso de economia da Universidade Católica de Brasília (UCB), "como as medidas restritivas foram reduzidas em boa parte dos países, a economia começou a se recuperar". "Se continuar assim, a recuperação da economia mundial terá dois efeitos principais: redução da pressão inflacionária e crescimento econômico. Esses efeitos demoram para ser sentidos, porque existe uma certa rigidez nos contratos do mercado de trabalho e de insumos. Além disso, leva tempo para a cadeia de suprimento mundial se reorganizar novamente no nível pré-2020. É possível que, a partir do 2º semestre de 2022, tenhamos uma boa recuperação econômica", avalia.
Em relação às particularidades do DF, o economista pontua que, como a capital possui muitos empregos no setor público, e não foi tão afetada pelas restrições, pela estabilidade que o setor oferece. "Nesse sentido, é possível que, no DF, não sintamos tanta melhora assim quando comparado às regiões que foram mais sensíveis à crise econômica. De qualquer forma, tanto no DF quanto em outros estados é esperado que, a partir do meio do ano que vem, a retomada da economia seja consolidada, abrindo espaço para um crescimento econômico mais prolongado. Mas isso se não tivermos mais restrições ao trabalho, fechamento do comércio e coisas do tipo", ressalta.
Manuelle da Silva, 19, moradora do Itapoã, está trabalhando como servente em uma unidade escolar, mas, para 2022, deseja ir atrás do seu sonho de infância. "Eu sempre quis estudar moda, desde criança. Quero começar uma faculdade em 2022. Este ano (2020), terminei o ensino médio e depois vou fazer o Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) e pretendo fazer vestibular", afirma.
Metas
Professora de psicologia da Universidade Católica de Brasília, Lêda Gonçalves de Freitas destaca que o fim do ano "tem uma ideia, presente em todas as religiões e povos, muito forte de mudança". "Isso cria uma expectativa e mexe com o imaginário coletivo, faz as pessoas pensarem sobre a vida, fazerem projeções. Sabemos que o calendário é uma construção humana, mas esse comportamento mobiliza afetos, sonhos e desejos. E somos movidos por vontades", destaca.
No entanto, Lêda destaca que é importante que o desejo por ação não se restrinja ao fim do ano. "Não deve haver apenas uma ação única para as transformações. É necessário construir novos propósitos, decidir o que quero mudar, o que vou fazer de alteridade, para o outro, enquanto mobilizador. E não se deixar levar pela vida cotidiana. Porque depois chega o dia 2 de janeiro e a vida volta à rotina e esquecemos esses desejos de fim de ano", ressalta.
Para não evitar frustrações, a psicóloga orienta que as metas sejam plausíveis. "O ano de 2021 foi um ano muito triste, com muitas mortes e perdas. Então acaba que as nossas expectativas em cima de 2022 ficam muito altas. Devemos ter uma postura mais real, de metas simples e exequíveis. Penso, inclusive, que uma meta coletiva seria esse cuidar mais do outro, esse foco em ações coletivas, principalmente para cuidar das pessoas em situação de fome", avalia.
Sonhos
Esperando o primeiro filho, Fause Mouffareg, 44, gestor público e morador de Sobradinho, deseja que 2022 traga seu filho com saúde. "Minha esposa está grávida de três meses. Meu desejo é que o bebê nasça bem, com saúde. Daqui a pouco vamos fazer a ecografia para descobrir qual o sexo", conta.
Eliana Cunha, 66, moradora da Asa Norte e servidora pública, também deseja o fim da covid-19, mas pontua outras necessidades para o país. "Tenho visto os alimentos básicos cada vez mais caros, acho que esses alimentos precisam ter um preço baixo. Além disso, sou farmacêutica por formação e acho importante a vacinação das crianças", diz.
Enquanto entrevistava os transeuntes, a reportagem também conversou com uma pessoa em situação de rua. "Para o ano que vem, eu só queria ter uma casa, para sair dessa vida", contou a mulher que pediu para não ser identificada. Há três anos nas ruas, ela depende de doações para sobreviver. "De vez em quando, alguém doa alimento. A gente que vive na rua nunca está em um lugar só, ficamos andando, por aí", conta.