A família Ferreira da Silva passou um Natal marcado pelo luto e pela dor. Em meio às lágrimas, reunidos no Cemitério de Taguatinga, ontem, os amigos e familiares tentavam se consolar diante da perda repentina de Shirlene Ferreira da Silva, 38 anos, grávida de 4 meses, e de Tauane Rebeca da Silva, 14 anos. Mãe e filha foram mortas a facadas no último dia 9, quando saíram de casa para tomar banho em um córrego próximo onde moravam. Depois de 11 dias desaparecidas, os corpos das duas foram encontrados parcialmente enterrados e escondidos por folhas secas, a cerca de 500 metros do curso d'água, na margem contrária a que Shirlene e Tauane desceram para tomar banho.
Shirlei Silva, 39 anos, irmã de Shirlene, confessa que, embora nunca tivesse acreditado na hipótese de fuga, levantada pela polícia, esperava que "as duas estivessem vivas". "O que a gente pede agora é justiça, porque eram duas mulheres indefesas. A minha irmã estava grávida, e, com certeza, ela pediu misericórdia, mas essa pessoa não teve misericórdia nem de uma criança. A Tauane ainda era uma criançona, não tinha vivido nada da vida. Eu peço por justiça, elas não faziam mal a ninguém. As duas tinham saído em um momento de lazer que acabou nisso. Desde o começo, pedimos para que a polícia procurasse do outro lado (da margem) e do lado de cima da mata, mas eles vieram com essa suposição de que ela teria ido embora", lamenta.
Durante o enterro, amigos seguravam cartazes com os dizeres: "Quando o amor é forte, nenhum adeus é eterno". Outros reforçavam: "Queremos justiça por elas"; "Exigimos a justiça da terra, porque a do céu não falhará". A cerimônia de despedida reuniu aproximadamente 60 pessoas. Os familiares se abraçavam e pediam para que Deus consolasse os corações e preenchesse o vazio deixado pela ida repentina de Shirlene e Tauane.
Júnior Silva, 28 anos e amigo da família, destaca que o crime foi cruel. "Tudo aconteceu de forma muito triste. Todo esse período em que a família ficou sem notícias foi de muita aflição. A gente nem sabe como confortar, o que dizer para ajudar. É uma injustiça e uma crueldade sem tamanho", afirma.
O esposo de Shirlene, Antônio Wagner Batista, 41 anos, confessou que estava sem forças para conversar com a reportagem. O filho mais novo do casal, de 12 anos, ainda tem dificuldade para assimilar a perda da mãe e da irmã. "Ele é uma criança, ainda não entende o que aconteceu", disseram amigos da família. Outros presentes afirmaram estar abalados e revoltados com o crime.
Rosilene Carvalho, 46 anos, é amiga de infância de Antônio, e destaca que dá para perceber pelo semblante do pai de família o cansaço e a tristeza que o abateu. "Estamos com sede de justiça. Queremos que o culpado seja punido, que ele pague pelo crime que cometeu e que fique ao menos 30 anos preso na cadeia em regime fechado, para que não possa reincidir em nenhum crime. Ele destruiu uma família de pessoas de bem. Olhando para o rosto do Antônio a gente vê a angústia, e a filha dele que era tudo para ele. Sem falar no bebê, que a esposa dele esperava. Todo mundo só espera justiça", garante.
Investigação
Ao Correio, o delegado da 19ª Delegacia de Polícia (P Norte), Thiago Peralva, destaca que, para não atrapalhar as investigações, o caso segue sob sigilo. "Quando tiver uma definição sobre ele, avisaremos. Até lá, seguirá em sigilo. Mas espero, muito em breve, anunciar algo concreto", pontua.
Na última quinta-feira, o delegado Gustavo Augusto, também da 19ª DP, afirmou ao Correio que em cerca de 10 dias o laudo de Shirlene e Tauane deve ficar pronto. "A gente acredita que elas foram abordadas e obrigadas a atravessar até próximo onde pode ter ocorrido o homicídio; lá elas reagiram. Porque, apesar de o laudo não ter saído, o perito nos passou que teve reação e elas morreram a facadas", revela.
Gustavo avalia que as duas não foram arrastadas até o local. "Não sabemos a motivação ainda. Provavelmente, não foram arrastadas e, sim, foram coagidas até aquele local quando houve a reação. É o que eu imagino", pondera. O delegado também disse que realizou o percurso que Shirlene e Tauane fizeram até o local onde os corpos foram achados, para tentar identificar testemunhas e colher mais informações.