UM NOVO OLHAR PARA 2022

'Depois de Deus, família é prioridade', destaca pastor presidente do Copev-DF

Presidente do Conselho de Pastores do Distrito Federal (Copev-DF) e líder da Assembleia de Deus de Brasília, Josimar Francisco da Silva comenta como enxerga a relação dos princípios cristãos com acontecimentos do contexto atual brasileiro

Ao longo de quase dois anos, as famílias brasilienses se depararam com novos desafios para desenvolver conexões e relacionamentos. O período de isolamento exigido pela situação de pandemia fez com que a harmonia na convivência diária se tornasse um desafio, e eventuais conflitos passaram a gerar mais ansiedade e estresse.

Por isso, manter a paz em casa e reestruturar os núcleos familiares serão desafios para o próximo ano, segundo o presidente do Conselho de Pastores do Distrito Federal (Copev-DF), Josimar Francisco da Silva. Líder religioso na Assembleia de Deus de Brasília, no Lago Norte, ele é o entrevistado da segunda reportagem da série Um olhar para 2022.

Ao Correio, o presidente da Copev-DF fez projeções sobre temas em debate neste ano e reiterou que a comunidade protestante da capital federal tem procurado reestruturar os próprios lares, como forma de combater os principais problemas que surgem no meio social. “Como cristãos, nossa crença tem a família como chave-mestra. Ela é a estrutura maior da igreja. Depois de Deus, é a prioridade. Então, investimos, valorizamos demais. Não aceitamos quando há intervenção nela nem nos princípios que giram em torno disso”, afirma Josimar.

 

Quais questões precisam ser mais bem trabalhadas na comunidade protestante?

Este, sem dúvida, foi um ano em que sofremos muito. Nós, evangélicos e cristãos, entendemos que tudo o que vivemos é cumprimento da palavra de Deus. A cada ano que passa, novos acontecimentos e novas transformações surgem, tudo previsto na Bíblia. Tivemos muitas perdas, e isso gerou uma desestrutura familiar muito grande. Uma das questões mais trabalhadas, e a que daremos continuidade em 2022, é a unidade da igreja. Ela não pode, com tudo o que acontece, desunir-se. A unidade é algo que abordamos muito e, com toda a certeza, vamos continuar. Tanto na igreja como nas famílias. Com essas perdas, as pessoas se dispersaram. Segundo a vida prática pastoral, toda família tem uma matriarca. Muitos perderam essas pessoas, e as famílias se desestruturaram completamente. Eu acompanho algumas que estão sem direção, e temos tentado ajudar.

Uma das preocupações neste período foi o surgimento de mais casos de transtornos da mente, como depressão e ansiedade. Como sua religião enxerga a maior frequência de diagnósticos dessas doenças,
e o que impactou para isso?

Não é porque somos evangélicos, cristãos, de uma determinada religião ou que tenhamos uma fé que não fomos impactados. Fomos (afetados) como todos os outros. Claro que algumas pessoas são mais fortes: umas reagem mais; outras, não. As pessoas não estavam preparadas para uma pressão psicológica dessas. Ninguém estava. Então, no meio da pandemia, começamos a dar atenção a esse público. E, em 2022, nossa responsabilidade para combater essas doenças será intensa. Nós respeitamos a medicina. Todo o tratamento deve ser feito, e os medicamentos, prescritos. Mas o que vai curar as pessoas é trabalhar a fé. Temos atuado para libertar essas pessoas e curá-las interiormente. Fazemos isso com grupos de homens, jovens, casais, crianças, adolescentes e no (âmbito) individual, mostrando como sair disso. Estamos aqui, como liderança, para ajudá-las. Por isso, nossa responsabilidade é intensificar esse trabalho, com toda a precaução e todos os protocolos necessários.

Com o isolamento social, a família passou a ser um ponto de apoio para a superação de muitos traumas. Na comunidade evangélica, qual a importância da família para ajudar a passar por esses processos de perda, luto e dificuldades que surgiram com a pandemia?

Como cristãos, nossa crença tem a família como chave-mestra. Ela é a estrutura maior da igreja. Depois de Deus, é a prioridade. Então, investimos, valorizamos demais. Não aceitamos quando há intervenção nela nem nos princípios que giram em torno disso. Uma família forte e saudável vai gerar um bom patrão, um bom empregado, um bom professor, juiz, policial, delegado. Olha quanta coisa se origina na família. Com ela forte, a igreja fica forte, e a sociedade também. Atualmente, a família se desestruturou, perdeu o rumo. Os rumos têm se criado a deus-dará. Cada um tem um ensinamento segundo o que as redes sociais falam, sem qualquer estrutura familiar. Isso acarreta vários problemas, que vão para outras famílias, também desestruturadas. Imagina o que acontece na sociedade. Por isso, não aceitamos qualquer tipo de quebra dos princípios da família. Nós lutamos para que ela viva essa estrutura. Quando começa um problema familiar na comunidade, tentamos ajudar no que podemos, para combater qualquer tipo de interferência no convívio daquele grupo, e para que se mantenha consolidado.

Mas, nas instituições familiares, a violência também é recorrente. Como combater isso? Qual o papel da sua religião perante casos de violência doméstica, por exemplo?

Essa questão do combate à violência tem sido vista e, após a pandemia, o mundo não é mais o mesmo. As famílias foram muito impactadas quando houve o isolamento social. As pessoas ficaram em casa, e muitos não tinham essa prática (da violência). Era comum que o homem e a mulher se vissem apenas à noite, eram todos muito distantes. E sabemos que a convivência é um desafio. Os próprios realities mostram isso. Pode ser família, igreja, mas o ser humano sempre vai apresentar problemas, e a tendência é que o estresse das pessoas aumente. Houve um crescimento extremo de (casos de) feminicídio; a igreja, como instituição familiar, ficou sem poder atuar nas casas, e as pessoas não podiam vir até nós. Teve gente que não voltou (para a igreja) até hoje, porque se afastou do caminho. Então, como ajudar a combater? Ressocializando a família. Uma família destruída que chega à igreja recebe o aconchego. Trabalhamos, reestruturamos. A fé transforma o coração. Temos ensinado sobre respeito, fidelidade, obediência, valores e vamos efetivar, para o próximo ano, a reconstrução e o fortalecimento da família, lutando por uma mais forte.

Outra consequência da pandemia é o aumento do desemprego, que gera aumento da pobreza. Diante disso, surgiram muitos atos de solidariedade, liderados por integrantes da sociedade civil ou por entidades sindicais e sociais. Como o senhor analisa isso? Qual ensinamento esses atos deixam e devem ser levados para o novo ano?

A solidariedade e a caridade são marcas da igreja. Mas não conseguimos alcançar toda a humanidade, todo o DF. E, com isso, temos a sociedade civil, que presta um lindo serviço social. Hoje, nos nossos ensinamentos, esse amor ao próximo está ligado aos mandamentos de Deus. Quem tem um pouquinho mais pode ajudar a levar dignidade e contribuir para essas pessoas se levantarem. Independentemente de qualquer coisa, esse aspecto brasileiro é muito forte. Muitos ajudam. E toda a igreja tem essa necessidade, pois sempre precisamos de contribuições para, também, contribuir com o próximo.

Para 2022, há mudanças previstas na política, devido às eleições. Qual o papel das comunidades religiosas nesse momento? Política e religião devem caminhar juntas?

Temos reservas com relação a isso. Religião é uma coisa, política é outra. Nunca podemos, no contexto espiritual, juntar as duas. Não dá certo. Mas, no contexto social, existe essa possibilidade. Apesar de serem assuntos totalmente diferentes, sou cidadão duas vezes: da Terra e dos céus. Aqui, tenho de cumprir meus deveres como pessoa comum. Como cristãos, devemos entender que, no contexto social, não podemos viver alienados. Vivemos assim antes, mas, hoje, não mais. Sabemos o que escolher, quem tem a mesma bandeira e a mesma posição que nós. Então, trabalhamos isso. Há partidos que interferem muito na igreja, na família, quebram princípios e querem nos afetar. Por isso, lutamos pela nossa liberdade de culto e por uma qualidade de vida melhor. Só que isso não é feito de forma espiritual. Oramos para que o Brasil seja melhor, mas temos de saber votar, saber o que acontece. Mesmo que (política e religião) não caminhem juntas espiritualmente, de forma social existe uma grande possibilidade (de isso acontecer).

Então, qual seria a postura aconselhável de líderes religiosos para 2022?

Como ainda não houve muitas definições partidárias, é muito cedo para entrarmos em uma definição mais forte. Ficamos no aguardo. O que temos ensinado, não exigido ou cobrado, é que a ideologia de partidos de esquerda ou comunistas não combina com nossa fé nem com o que pregamos. Ensinamos, e a pessoa faz a avaliação dela. Quando elas vão votar, pedimos para observarem a ideologia do partido, para que vejam do que (os partidos) são a favor, se são contra ou têm algo que vai contra a palavra de Deus... A pessoa vai fazer a própria avaliação e pré-julgamento.

O combate ao novo coronavírus tem esbarrado no extremismo religioso, que nega o campo científico. Vemos, também, que muitos fiéis são alvos disso. Qual o impacto, a longo prazo, desse fanatismo?

Muitas pessoas estão com resistência à vacina e outros tipos de combate (à covid-19). Não vou falar nem sobre o cristão ou em extremismo religioso, porque não chega a ser um fanatismo. Se (alguém) toma a decisão de não receber a vacina neste primeiro momento, mesmo com todo o aparato (disponível), a pessoa tem o direito de decidir por ela. Não decidimos por ninguém. Mas, na maioria dos cristãos que acompanho, eu me pronunciei. Temos cumprido todos os decretos lançados, temos de ser obedientes. Se mandaram colocar álcool em gel (nos ambientes), (manter) distanciamento, (usar) máscara, nós fizemos e temos cumprido tudo à risca. E isso é bom, porque ajuda a combater (a doença). Eu, por exemplo, tomei a vacina. Ficamos preocupados no início, mas acompanhamos morte sobre morte e ficamos sem saída. Não tem outra coisa que não seja a vacina. Boa parte ou a maioria (das pessoas) conseguiu tomar a dose. Acho que, no caso da minoria que está com dúvidas, se o próprio governo e os órgãos de controle começarem a explicar mais, a falar mais sobre isso, acredito que, com certeza, vão alcançar essa parcela.

Recentemente, uma pesquisa da Codeplan apresentou dados preocupantes: casos de infecções sexualmente transmissíveis muito aumentaram entre jovens do DF. Qual é o papel da religião nesse caso?

Isso tem avançado demais. Os jovens estão soltos e, infelizmente, a igreja não costuma fazer parte do plano desses adolescentes. Muitos não são obedientes nem em casa. Temos lutado contra isso, pedido para que sejam mais obedientes, que não se envolvam com sexo sem compromisso. As gravidezes indesejadas são absurdas. Louvo a Deus porque muitas igrejas ainda têm sustentado os jovens. Hoje, muitos adolescentes pensam que ser cristão é careta, e não é nada disso. É sobre ter honra, ser uma pessoa que tem zelo pelo próprio corpo, pela própria vida. É sobre ter uma vivência digna. É nessa vida passageira dos jovens que eles cometem as maiores besteiras. Acontecem abortos para todo lado, filhos (ficam) abandonados. Enquanto não dão ouvidos a ninguém, a vida passa e, quando chegam lá na frente, enxergam o que perderam.