Os 51 passageiros que vinham de São Paulo com destino ao estado do Maranhão viveram momentos de terror na madrugada de ontem. O ônibus de viagem de dois andares da empresa Prado Durães Turismo LTDA tombou, na região do PADF, na DF-130, próximo ao Café Sem Troco. Ao todo, 25 passageiros ficaram feridos, entre eles uma criança, de 1 ano, com traumatismo craniano que foi levada ao hospital. Até o fechamento desta edição, não havia atualizações sobre o estado de saúde das vítimas.
Segundo relatos colhidos pela Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF), o ônibus estava em alta velocidade e perdeu o controle na rotatória. O motorista fugiu do local, levando consigo o dinheiro que seria usado para abastecer o ônibus durante a viagem, cerca de R$ 3,5 mil. Quem permaneceu no local foi o condutor substituto Raimundo Pereira da Silva, 60, que dormia no momento do acidente.
Ele relatou ao Correio, ainda atordoado, os momentos de desespero vivenciados na madrugada. "Não quero nem lembrar do que aconteceu", confessa. "Só entrei no ônibus em Uberlândia, quando o outro motorista substituto ficou por lá, e eu segui. Vim dirigindo até que troquei com o motorista principal. Dormia na cadeira, mas ele falou para eu ir para a cama, que eu não precisava me preocupar que ele conhecia tudo aqui. Se eu tivesse continuado onde estava, poderia estar morto", ressalta.
Raimundo diz que o episódio foi de "completo desespero". "Tenho inflamação do nervo ciático, demorei para conseguir descer por causa da minha perna. Mas, quando sai, nem me preocupei se estava ferido ou não, fui ajudar as pessoas. Todos saíram pela frente do ônibus que estava quebrada", explica. "Graças a Deus, todos estão vivos", detalha.
A reportagem conversou com uma das vítimas que foi encaminhada para o Hospital de Base do DF. "Foi aquela gritaria, uns chorando para um lado, e outros gritando do outro. Foi horrível!", recorda-se a mulher, de 34 anos, que pediu para não ser identificada. "O ônibus deu a volta rápido e já foi virando. Eu acho que ele (o motorista) estava em uma velocidade muito rápida", avalia.
A passageira dormia no momento do acidente e acordou com os gritos. "Eu estava no andar de cima e, quando ouvi o barulho, já tinha virado. Fiquei pendurada na janela, por isso machuquei o meu abdômen", relata a vítima que ficou com hematomas na região da barriga. Segundo ela, alguns passageiros que estavam no centro de traumas hospital tiveram ferimentos mais graves. "Quebraram costelas, braços, pernas, e tem um bebê na UTI (unidade de terapia intensiva)", lamenta.
A passageira ia de Ribeirão Preto (SP) para Caxias (MA) e se sentiu aliviada por não ter acontecido algo pior com os passageiros. "Eu tô feliz, porque não teve nenhuma vítima fatal. A gente que passa por essa situação sabe como é, achando que todo mundo vai morrer na hora", revela.
Investigação
Sargento Gonçalves, do Batalhão de Policiamento Rodoviário da Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF), explica que não foi possível saber a motivação da fuga do motorista principal. "Segundo relatos, ele vinha muito rápido. Os passageiros disseram que estavam reclamando, e, na hora dele acessar a rotatória, não conseguiu controlar o ônibus. Agora, quem vai investigar é a 30ª Delegacia de Polícia (São Sebastião), que vai criminalizar a omissão de socorro. Para concluir a operação aqui, eu solicitei apoio ao DER (Departamento de Estradas e Rodagem) para destombar o veículo e ser possível fazer uma perícia mais detalhada do interior. Após isso, o ônibus será retirado com maior rapidez", destaca.
Acionada, por meio de nota oficial, a Agência Nacional de Transportes Terrestres lamenta o ocorrido e se solidariza com os passageiros. "A empresa Prado Durães Turismo e Transporte LTDA, responsável pelo veículo de placa DJB4C02, que se envolveu no acidente hoje (ontem), na DF-130, possui autorização apenas para realizar fretamento, ou seja, está autorizada a realizar viagem em circuito fechado, sem venda de passagens", informa. Segundo a ANTT, há indícios de a viagem se tratar de um circuito aberto, "com venda individual de passagens, o que caracteriza transporte não autorizado pela agência". A diferença é que, no fretamento, o ônibus tem um destino determinado, como, por exemplo, os romeiros que vão do Rio de Janeiro para visitar a Basílica de Aparecida, em São Paulo. Dessa forma, o valor da viagem é único, pelo grupo de pessoas, e há uma lista de passageiros predeterminados, sendo que aqueles que realizam a viagem de ida devem ser os mesmos que fazem a viagem de volta no mesmo veículo", descreve.
O que diz a empresa
O Correio conversou com a Prados Durães, que explicou ter sido contratada para o fretamento de São Paulo para o Maranhão por outro empresário, em um pacote fechado de viagem no valor de R$ 14 mil. "Eu não vendo bilhetes avulsos, fechei um pacote de fretamento contratado por Alexandre Silva, que foi quem contratou nossos serviços. Eu tenho o comprovante de pagamento. O nosso combinado foi a empresa pagar uma parte do valor em PIX, e o restante do dinheiro seria usado com os gastos da viagem, que eram os R$ 6 mil para abastecer", conta.
A Prado assegura que assumiu a responsabilidade de ajudar os passageiros. O motorista contratado pela empresa foi o que se manteve lá e auxiliou os viajantes a saírem do ônibus. A reportagem tentou contato com Alexandre Silva, que contratou a Prado Durães, no entanto, até o fechamento desta edição, não obteve resposta.