Não, caro leitor. Ao contrário do que indica o título desta crônica, não a escrevo escutando a música de Simone, mas, sim, os versos da 'bela e fofa' canção Papai Noel, fdp, rejeita os miseráveis, dos Garotos Podres. Em casa, nunca fomos de tradição natalina. No máximo, uma comidinha diferente, servida antes mesmo da virada para o dia 25.
Lembro-me de poucas ocasiões em que trocamos presentes. Às 22h, 23h, meus pais já estavam dormindo. Eu ficava assistindo televisão ou ia para a casa de algum amigo. Mesmo sem todos os ritos da época, hoje eu reconheço que o fato de passar o Natal com meus pais era o ápice da data, independentemente de ceia, dos presentes ou de qualquer religiosidade. Neste ano, pela distância, infelizmente não estaremos juntos, mas, pelo menos, uma chamada de vídeo devemos fazer.
Lembro-me de um Natal diferente, ocorrido há cinco anos. Após a ceia com meus pais, fui passar a virada com os amigos. Mas, infelizmente, naquele dia 24 de dezembro de 2016, não havia nada para celebrar. Após três semanas internado devido a uma pneumonia, nosso amigo Paulinho havia cansado de lutar no leito de UTI.
Nos reunimos na praça da CNF (Taguatinga Norte) em sua homenagem. Em pouco tempo, éramos um grupo de 10 ou 20 punks e outros seres estranhos, com restos de ceias trazidos das casas de parentes, vinhos e espumantes. Eu "assaltei" a adega do meu pai e peguei o primeiro vinho que vi pela frente. Para minha surpresa, era um dos mais caros que ele tinha, conforme informou Cleilson, amigo sommelier presente na ocasião.
Lembro também que estiveram presentes Pedro e a esposa, Camila, Toy, Thiago (Animal) dentre outros que acompanharam de perto os últimos dias de Paulinho, entre idas e vindas ao hospital. A choradeira e o inconformismo entraram madrugada adentro.
Eis que nosso amigo, grande fã de Garotos Podres, 'resolveu morrer' dois dias antes do Natal (quanta ironia), acho que só para mandar o bom velhinho à merda. E lá estávamos, desta vez não em seu bar para passar a virada, mas sentados no banco da praça para 'beber o morto'. Cinco anos se passaram, e ele segue na memória de todos nós.
Minha mensagem para o Natal é exatamente essa: aproveitem os momentos com quem você ama, seja com sua família de sangue, seja com a que você escolhe, os amigos, antes deles partirem. O mais famoso aniversariante do dia 25 deve até preferir que pensemos menos nele e mais em quem está à nossa volta — ouvi falar que ele era um cara legal, humilde, empático e nada vaidoso, então, acho que não deve ligar muito para homenagens, rezas e agradecimentos.