“Não quero nem lembrar do que aconteceu”. Assim começa a entrevista concedida ao Correio por Raimundo Pereira da Silva, 60 anos, segundo motorista do ônibus de turismo que tombou na DF-130, deixando 25 feridos, entre eles, uma criança de apenas 1 ano.
"Eu entrei no ônibus já em Uberlândia, quando o outro motorista substituto ficou por lá e eu segui. Vim dirigindo até que troquei com o motorista principal. Dormia na cadeira, mas ele falou para eu ir para a cama, que eu não precisava me preocupar, que ele conhecia tudo aqui. Se eu tivesse continuado onde estava, poderia estar morto", conta.
A partir daí, Raimundo só se lembra do medo. "Foi um completo desespero. Tenho inflamação do nervo ciático, demorei para conseguir descer por causa da minha perna. Mas quando sai, nem me preocupei se estava ferido ou não, fui ajudar as pessoas. Todos saíram pela frente do ônibus que estava quebrada", explica.
O sinistro de trânsito aconteceu na madrugada desta quinta-feira (23/12). Os momentos de terror vivenciados pelos passageiros ainda paralisam Raimundo. O veículo de viagem interestadual vinha de São Paulo, com destino a quatro estados do nordeste: Bahia, Ceará, Piauí e Maranhão. “Parecia ser pior do que foi. Graças a Deus todos estão vivos. Meu maior medo é pelas crianças, mas venho pedindo para Deus abrandar", disse.
Gritaria
Uma das vítimas que foi encaminhada para o Hospital de Base do DF contou os momentos de pânico e desespero após o acidente. "Foi aquela gritaria, uns chorando para um lado e outros gritando do outro. Foi horrível!", recordou a mulher de 34 anos, que preferiu não se identificar. "O ônibus deu a volta rápido e já foi virando. Eu acho que ele - o motorista - estava numa velocidade muito rápida", ressaltou a paciente.
A vítima relatou que estava dormindo na hora do acidente e acordou no susto com os gritos. "Eu estava no andar de cima e, quando eu ouvi o barulho, já tinha virado. Eu fiquei pendurada na janela, por isso machuquei o meu abdômen", disse a mulher que ficou com hematomas na região da barriga. Segundo ela, alguns passageiros que estavam no centro de traumas hospital tiveram ferimentos mais graves. "Alguns quebraram costela, braços, pernas e tem um bebê na UTI", destacou a vítima.
Indo de Ribeirão Preto (SP) para Caxias (MA), a mulher se sentiu aliviada por não ter acontecido algo pior com os passageiros. "Eu tô feliz, porque não teve nenhuma vítima. A gente que passa por essa situação sabe como é achando que todo mundo vai morrer na hora", disse a mulher.
Foragido
O motorista principal, contudo, não teve a mesma atitude de Raimundo. Diante do acidente, ele pegou o dinheiro que seria usado para abastecer o ônibus e fugiu, sem prestar socorro. O caso será investigado pela 30ª Delegacia de Polícia (São Sebastião).