Eu só queria entender. Os professores sofreram uma enorme pressão para retomar as aulas há pouco mais de um mês de encerrar o semestre. Alegava-se que a ausência de atividades presenciais traz prejuízos enormes para o desenvolvimento dos alunos, muitos deles dependiam da merenda escolar para se alimentarem e seria possível retomar as atividades com segurança.
No entanto, como era previsto, nem todas as escolas apresentavam condições de salubridade ou de distanciamento físico. Além disso, faltou merenda em muitas escolas. Claro que a interrupção das atividades presenciais impacta o desenvolvimento físico, social e psíquico das crianças e dos adolescentes. Todavia, existem certas situações em que é preciso avaliar o que é menos danoso.
Os cientistas alertaram que seria preciso manter todas as medidas de proteção, mesmo com o avanço da vacinação. No entanto, os governantes resolveram terminar com a pandemia por decreto e iniciaram um um processo de desmobilização como se o vírus tivesse sido derrotado pelo simples negacionismo.
Bem, os professores retornaram ao trabalho, chegou um carregamento da vacina Jansen na semana passada, e imaginei que eles seriam priorizados para tomar a dose de reforço. Mas, para a minha estupefação, isso não aconteceu no DF. As excelências preferiram reservar a nova leva de doses para aplicar a vacina a grupos ainda não imunizados.
Ora, existem 15 milhões de doses de vacina Coronavac disponíveis em São Paulo. Por que o Ministério da Saúde ou o governo local não adquire essas vacinas e não dirige aos que precisam de primeira dose?
É mais uma covardia com os professores. Ora, se a retomada das atividades escolares é uma prioridade, os mestres precisam ser vacinados, pois estão expostos, cotidianamente, a ambientes de aglomeração, insalubridade, circulação de gente de múltiplas origens e ausência de testagem. É bastante revelador que, quando ocorreram casos de contaminação, as excelências se refiram a eles assim: "Ah, mas foi de professores."
Quer dizer, eles não pertencem à humanidade. Isso é um equívoco total. Esse vírus é uma doença coletiva. Se os professores não forem protegidos, colocam em risco outros professores, os funcionários e as crianças. Causa estranheza o silêncio da Unesco, do Unicef, das associações de pediatras e de vários epidemiologistas que tanto insistiram na volta temerária dos professores à faina presencial.
Elas deveriam pressionar as excelências para que os professores tivessem prioridade na vacinação. É o mínimo de dignidade. Não existe educação sem professor. O ministro Pazuello abandonou o Ministério da Saúde, mas parece que fez escola em matéria de logística. A todo momento, somos informados das dificuldades para se vacinar.
Não reclamo pessoalmente. Como já disse, a minha via crucis é de classe média, confortável, de quem possui carro e pode procurar uma opção melhor se alguma não der certo. Mas, enquanto as novas mutações nos ameaçam, vejo muitas pessoas procurarem os postos sem poder se vacinar por razões burocráticas. A burocracia e as questiúnculas políticas não podem estar acima da vida. Vacina para os professores já!