GASTRONOMIA / Berço de alimentos nutritivos e saudáveis, o bioma do Centro-Oeste ainda é pouco valorizado por falta de conhecimento do consumidor. Dois eventos ajudam a quebrar esse tabu

A diversidade dos pratos do cerrado

Berço de alimentos nutritivos e saudáveis, o bioma do Centro-Oeste ainda é pouco valorizado por falta de conhecimento do consumidor. Dois eventos ajudam a quebrar esse tabu

Este ano, o mês de dezembro dedicado à data máxima da cristandade, que é o Natal, parece ser também o mês do cerrado. Duas iniciativas que têm o bioma do Centro-Oeste como foco atraem o gourmet brasiliense com cardápios especiais, a partir de receitas que incluem os frutos do cerrado. O primeiro, que começou na quarta-feira, sendo o mais longo, vai até o dia 23 e se chama Cerrado Tropicano, desenvolvido em três restaurantes da cidade: Casa Baco,
Authoral e Le Parisien. O segundo, Cerrado Wine, é breve e contempla só este fim de semana.

Começou ontem e oferece até domingo no Porto Vittoria, à beira do Lago Sul, menu harmonizado com bons rótulos da Del Maipo ou com a espuma da Stella Artois. O Instituto Sociedade População e Natureza (ISPN), ONG que há mais de 30 anos atua pela preservação do cerrado, decidiu bater nas portas da gastronomia e conquistou, no mínimo, três chefs parceiros para a sua empreitada.

Embora o Cerrado seja fonte de vitaminas e minerais, "muitos consumidores ainda não têm a prática de olhar para esses alimentos e os inserir na alimentação", observa Teresa Peres de Castro, assessora técnica do instituto. Ela nota que isso decorre da "falta de conhecimento sobre como aproveitar os produtos" e prega um consumo consciente de alimentos produzidos com respeito e que envolvam comunidades locais.

Defensora do cerrado no prato, a pesquisadora Ana Paula Jacques, professora de gastronomia do Instituto Federal de Brasília (IFB) ressalta que o gourmet brasiliense, ao privilegiar os alimentos do nosso bioma, estará contribuindo para a geração de renda e manutenção dos modos de vida tradicionais.

O chef Gil Guimarães, que há muito tempo adquire insumos do pequeno produtor rural, elaborou lombo de sol com canjiquinha e cajuzinho do cerrado (R$ 59), servido na Casa Baco, restaurante instalado com entrada privativa no shopping Casa Park; já o chef do Authoral, André Castro, para quem é responsabilidade dos cozinheiros do Cerrado fomentar o consumo de produtos locais, optou por uma pescada em crosta de castanhas brasileiras, creme de moqueca, musseline de batata doce roxa e vinagrete de milho tostado no óleo de babaçu (R$ 74). O Authoral fica na 302 Sul, Bloco A.

Completa o trio o chef paraense Leandro Nunes, formado na escola de culinária Le Cordon Bleu de Paris, que apresenta pirarucu empanado com cerveja preta, pimenta de macaco, molho tártaro e chips de batata (R$ 48) no restaurante Le Parisien, na 103 Norte, Bloco B. Leo, como é chamado o chef, espera que a campanha Cerrado Tropicano "possa trazer mais atenção para nosso bioma, para ajudar as famílias que vivem do extrativismo sustentável". Ele e os outros dois colegas compram seus produtos diretamente da Central do Cerrado ou de produtores locais.

Disponíveis no almoço e no jantar, os pratos darão direito ao cliente levar para casa, de brinde, um ímã de geladeira que homenageia as quebradeiras de coco babaçu e os agricultores familiares, cujo trabalho é valorizado pela Ong e pelo portal Cerratinga, que disponibiliza aos internautas uma lista de endereços onde possam comprar alimentos nutritivos e saudáveis.

Música no lago

Além do menu assinado pelo chef Erivânio Souza e harmonizado com vinhos, como o nome indica, o Cerrado Wine traz uma programação musical diversificada, como os DJs Handerson Oliveira, Mafra e Maraskin, Allan Massay, Georgia W, Cazuza in Concert, Gael, Amy Reggae House e Elton Marques, que começa hoje a partir das 13h e amanhã, a partir das 12h.

"Minha inspiração para criar os pratos foi justamente a degustação harmonizada com os vinhos", declara o chef, que procurou desenvolver receitas contemporâneas como arroz de pato, com magret, brunoise, calabresa, azeitonas pretas finalizado com crispe de couve; risoto do cerrado com abobrinha, alho, cebola e tomate sweet grape e penne à bolonhesa de vitelo finalizado no vinho tinto.

Completa o cardápio moqueca da terra com arroz de coco e farofa de nozes. Há entradas de carpaccio e tabua de frios e duas sobremesas: brownie de chocolate e nozes com chantilly de morango e brigadeiro com essência de baunilha. Os pratos custam a partir de R$ 40 e os vinhos, R$ 90.

Cerrado Wine é organizado pelos empresários Maurício Rodrigues e Ygor Brito, os mesmos criadores da Vila Jeri e do Trust Gastronomia Intimista, que sediam agora no Porto Vittoria a quarta edição do evento, cujo ingresso pode ser adquirido na bilheteria digital a partir de R$ 10, meia entrada e R$ 20, inteira. Veja a programação: https://www.instagram.com/cerrado_wine/.

Cerrado Tropicano/Divulgação - André Castro, Authoral
Cerrado Tropicano/Divulgação - Gil Guimarães, Casa Baco
Cerrado Tropicano/Divulgação - Pirarucu empanado com cerveja preta. Chef Leandro Nunes
Cerrado Tropicano/Divulgação - Pescada em crosta de castanhas. Chef André Castro
Cerrado Tropicano/Divulgação - Lombo de sol com canjiquinha. Chef Gil Guimarães
Cerrado Wine/Divulgação - Cerrado Wine: tábuas de frios e risoto do cerrado