O Distrito Federal tem dois moradores infectados com a variante ômicron do novo coronavírus e seis suspeitas em monitoramento. A confirmação foi dada pela Secretaria de Saúde do DF (SES-DF) na tarde dessa quinta-feira (2/12), durante coletiva de imprensa. Os pacientes — dois homens entre 40 e 49 anos — estão bem e isolados. Um deles tem sintomas leves da covid-19 e o outro está assintomático. Os dois tomaram as duas doses da vacina CoronaVac e receberam o reforço da Pfizer/BioNTech. Diretor de Vigilância Epidemiológica da SES-DF, Fabiano dos Anjos avalia que bom estado de saúde dos brasilienses com a nova cepa do vírus é devido à imunização. “A vacinação é o que vai proteger a população do DF da letalidade da covid-19, das hospitalizações e dos casos graves da doença, associada a medidas não farmacológicas. O uso de máscaras, a higienização com álcool gel e a não aglomeração permanecem como orientações”, alerta fabiano.
Os homens desembarcaram em Brasília na segunda-feira. Eles estavam no mesmo voo que um morador de São Paulo, também infectado com a nova cepa, cujo resultado positivo do exame saiu na quarta-feira. O sequenciamento dos habitantes do DF foi feito pelo Laboratório Central de Saúde Pública (Lacen-DF) e divulgado ontem. Eles estavam sentados próximos um ao outro durante o voo, mas os exames de sequenciamento indicaram que as fontes de infecção são diferentes. A aeronave saiu da África do Sul e passou pela Etiópia antes de desembarcar em Guarulhos (SP). Em seguida, em voo doméstico, a dupla veio para o Distrito Federal. “Automaticamente (após a suspeita de infecção pela ômicron), a Secretaria de Saúde iniciou o trabalho protocolar de identificação dos passageiros do voo e começar as coletas para acompanhamento pelo Cievs (Centro de Informações Estratégicas em Vigilância em Saúde)”, informou o secretário de Saúde do DF, general Pafiadache.
A chefe do Cievs-DF, Priscilleyne Reis, afirmou que, antes de receberem a recomendação de não entrar em contato com outras pessoas, os dois homens se isolaram por conta própria. Outros seis moradores do DF estão em monitoramento para confirmar se estão infectados com a ômicron. Eles estavam no mesmo voo dos dois homens e não apresentam sintomas — por esse motivo, segundo Priscilleyne, não é possível dizer que são pacientes em investigação. São cinco adultos e uma criança com suspeita de terem contraído a cepa identificada na África do Sul e, de acordo com o Cievs, os resultados devem sair nesta sexta-feira (3/12)— todos foram orientados a cumprir o isolamento. Priscilleyne destacou que houve levantamento dos voos vindos da África do Sul para o DF desde 14 de novembro, e apenas um outro caso da doença foi identificado. O passageiro, porém, não desembarcou em Brasília.
Segurança
Apesar da chegada da ômicron ao DF, o secretário de Saúde descartou a retomada de medidas de segurança contra a covid-19 como o uso de máscaras em ambientes abertos. “No momento, ainda não estamos levantando (essa possibilidade), (e a máscara continua obrigatória) apenas em locais fechados”, disse. Quanto ao reforço da vacinação, disponível no DF para pessoas acima de 18 anos imunizadas com a segunda dose há, pelo menos, cinco meses, o intervalo de aplicação não será alterado. “Continuamos seguindo estritamente as orientações do Ministério da Saúde, e não há nada, neste momento, sobre a redução'', frisou.
Por fim, Pafiadache ressaltou que não serão adotados novos protocolos de prevenção. “Por enquanto, está tudo sob controle, mas, em caso de qualquer alteração na situação epidemiológica, novas medidas poderão ser tomadas”, condicionou o secretário.
Mortes em queda no DF
A taxa de transmissão do novo coronavírus no DF está em 0,78 — o que significa que 100 infectados transmitem o vírus para 78 pessoas. Nessa quinta-feira (2/12), a Secretaria de Saúde registrou 84 diagnósticos de covid-19 e duas mortes em decorrência da doença. Com os novos dados, a capital do país acumula 517.977 infecções e 11.040 vítimas. A média móvel de casos marcou 110, índice 35% menor do que o observado há duas semanas. A mediana de mortes é de 5, com queda de 51,2% na comparação com 14 dias atrás.
Mutações preocupam virologista Bergmann Ribeiro
Minervino Júnior/CB/D.A.Press
Pesquisador, virologista e professor da Universidade de Brasília (UnB), Bergmann Ribeiro avaliou que a ômicron tem um grande poder de transmissibilidade, e por isso, deve ultrapassar os casos de infecções pela cepa delta — que predomina, atualmente, no Distrito Federal e no país. Ao programa CB.Saúde — parceria do Correio Braziliense com a TV Brasília —, o especialista destacou, em entrevista à jornalista Carmen Souza, que não se sabe muito sobre o impacto da variante recém-descoberta no organismo humano "Não foi mostrado, até agora, que a ômicron pode ser mais grave ou não, mas, provavelmente, não deve ser em quem já foi vacinado. Por isso, é importante as pessoas se vacinarem", alertou. Para ele, a imunização, a testagem e o protocolos sanitários, como uso de máscara e distanciamento social, são as melhores formas de conter a pandemia.
A delta, quando foi identificada na Índia, demorou para ter registro no Brasil. Agora, com a ômicron, em seis dias, tivemos confirmação. Isso é preocupante?
O novo coronavírus é muito contagioso, o meu laboratório (na UnB) sequenciou, pelo menos, 600 genomas do vírus desde janeiro de 2021. Então, nós vimos a variante gama (P1) predominar a partir de maio, ela apareceu em janeiro (no Amazonas). Nós começamos a detectar a delta no final de julho. Em agosto, tinha um terço de delta e dois terços de gama. No meio de agosto, meio a meio; e, no final, dois terços de delta em um terço de gama. O vírus domina muito rapidamente, agora, com a ômicron, é a mesma coisa. É uma variante altamente transmissível, como a delta, então ela vai tomar conta. Onde ela chegar, como esse vírus se replica, ele está mais presente no meio ambiente, a chance de ele infectar as pessoas é muito maior.
A África do Sul afirmou que 74% dos casos sequenciados são da ômicron. Esse cenário vai se repetir no Brasil?
Com certeza. Lá, na África do Sul, quem dominava era delta, como ainda domina no mundo, mas essa nova variante vai substituí-la.
Como o senhor analisa o cenário da pandemia no Brasil?
Com relação a vacinação, nós não estamos ruins. Nós temos mais de 60% das pessoas imunizadas, então estamos bem. Entretanto, no caso da testagem, não. Nós precisamos aumentar a testagem e de pessoas assintomáticas, para saber como anda a circulação desse vírus. Porque ele pode circular em pessoas que não têm sintomas. É importante ter a testagem aumentada no país e, se a pessoa for diagnosticada, ela deve ficar em quarentena. Dessa forma, você elimina a possibilidade dela transmitir qualquer tipo de variante, independentemente se é ômicron ou não. E continuar a vacinação.
É importante o paciente saber qual a variante que o infectou?
Não. Qualquer variante, se você não foi vacinado, pode matar. Independentemente se é a ômicron, se é a delta ou a gama, você tem que ser vacinado e manter o uso de máscara e o distanciamento social. Porque qualquer uma dessas variantes podem causar uma doença grave. Não foi mostrado, até agora, que a ômicron pode ser mais grave ou não, mas, provavelmente, não deve ser em quem já foi vacinado. Por isso, é importante as pessoas se vacinarem.
Como o senhor analisa a eficácia das vacinas contra a ômicron?
Temos que esperar mais resultados, neste momento, vários laboratórios de pesquisa do mundo já isolaram esses vírus e estão testando sangue de pessoas vacinadas e de pessoas que já tiveram covid-19 para saber se esse sangue neutraliza essa variante. Se neutralizar, isso indica que a vacina funciona. Além disso, nós vamos analisar na região que está tendo infecção, se aumenta casos de morte, de internação e tudo mais. Tudo isso, a gente vai conhecer ao longo da semana, e uma coisa interessante desse vírus, que deixou todo mundo chocado, é que ele tem mais de 30 modificações na proteína spike — base da vacina Pfizer e da AstraZeneca. E se ela muda na sequência, ela muda na estrutura. Se muda a estrutura, muda a minha resposta contra a variante. Pode mudar muito ou mudar pouco e, se a resposta não mudar muito, a vacinação ainda é suficiente para controlar.
Os casos confirmados são de pessoas vacinadas, isso trouxe uma discussão sobre a eficácia ou não da vacina. Como o senhor avalia essa questão?
A imunização vai proteger a pessoa de ser hospitalizada. Quando você é vacinado, você produz as suas defesas contra aquela proteína do vírus e, quando o vírus aparece, essa defesa vai atacar o vírus. Entretanto, é variável de pessoa para pessoa. Tem aqueles que produzem uma resposta forte, outros produzem resposta média e há pessoas produzem resposta muito baixa. De uma forma geral, você tem que analisar muitas pessoas para fazer uma estatística. Várias pessoas vão ser infectadas, algumas podem até ser hospitalizadas, mas a maioria vai estar protegida.
Qual a sua avaliação sobre o passaporte da vacina?
Se você não tem uma exigência do passaporte vacinal, a chace de infecção é muito maior. Então, para você estar na rua, deveria estar vacinado. Muitos dizem que é uma escolha pessoal tomar vacina, mas, se a minha escolha de não tomar a vacina me permite ficar infectado e infectar mais gente, essa minha escolha afetou a saúde de outra pessoa. Temos que pensar no coletivo, nós não vivemos isolados da sociedade.
Quais são os cuidados diante do surgimento da nova cepa?
Distanciamento social, uso de máscara e testagem, muita testagem. Se apareceu alguma pessoa com essa variante, provavelmente pode existir mais pessoas com a ômicron. Apenas com o aumento da testagem que vamos saber se essa variante está se espalhando. O Governo do Distrito Federal precisa aumentar o nível de vigilância genômica desse vírus, sequenciar e detectar a presença.
As mutações da ômicron afetam no tratamento da doença?
Algumas drogas foram desenvolvidas para tentar diminuir a replicação do novo coronavírus. Essas drogas funcionam como atuava a droga inicial para o HIV, o vírus da Aids. Ela vai eliminar ou vai aumentar o defeito genético do vírus, até que fique inviável se reproduzir. Só que essa droga pode acelerar mais ainda as mutações do vírus. O teste em laboratório mostrou que essa droga diminui muito a carga viral. Entretanto o vírus pode se adaptar ao tratamento. Uma droga só não será viável, porque, como o vírus muda muito, vai ser preciso outras drogas para conter a replicação. Mas é um começo.