"Em menos de um mês após a sua identificação na África do Sul, a variante ômicron se espalhou por mais de uma centena de países e, segundo o Centro de Controle de Doenças (CDC), 76% das novas infecções já são causadas por essa variante nos Estados Unidos. Essa nova cepa é altamente contagiosa e já é comparada a outro vírus altamente contagioso, o sarampo. Estima-se que uma pessoa infectada pela ômicron é capaz de infectar outras 10 pessoas, comparado a 15 para o sarampo. Isso é quatro vezes maior do que o cornavírus identificado em Wuhan. Atualmente, mais de 100 mil novos casos de coronavírus são identificados por dia, nos Estados Unidos, na França e na Grã-Bretanha. Esse grande número de casos levou vários países da Europa a retrocederem com as medidas de afrouxamento do distanciamento social e uso de máscaras, além da obrigatoriedade do passaporte vacinal. Todos nós sabemos como as vacinas salvam a vida de milhões de pessoas todo ano. Segundo dados do Ministério da Saúde, a cobertura vacinal de crianças no Brasil para diferentes doenças como poliomielite, tuberculose, meningite, hepatite A e B, sarampo, caxumba e rubéola, diminuiu de 97%, em 2015, para 75% em 2020. Com essa diminuição na cobertura vacinal, nós estamos vendo o ressurgimento dessas doenças que, no passado, tínhamos controlado com a vacinação. Com o coronavírus não é diferente, após o início da vacinação de adultos e depois de adolescentes, o mundo viu o número de mortes diminuir drasticamente. Entretanto, as crianças também podem ser infectadas e, principalmente, podem transmitir o vírus para pessoas suscetíveis. Dessa forma, a vacinação em massa, inclusive de crianças, é imprescindível para podermos controlar a transmissão do vírus. Vários países aprovaram o uso da vacina da Pfizer para uso em crianças de 5 a 11 anos após rigorosa avaliação pelos respectivos órgãos de controle de medicamentos. Aqui no Brasil, os técnicos da Anvisa também aprovaram o uso dessa vacina para crianças. Por outro lado, o Ministério da Saúde resolveu, de uma forma inédita, abrir consulta pública sobre esse tema, atrasando o processo de vacinação. Enquanto isso, o coronavírus agradece a lentidão e hesitação dos nossos governantes para lidar com a saúde do povo".
Bergmann Ribeiro, virologista e professor do Departamento de Biologia Celular da UnB