Entrevista | Rafael Botan, oncologista do Instituto de Câncer de Brasília (ICB)

Foco no câncer de pele

No CB.Saúde, o médico orienta sobre cuidados durante o verão e destaca que, na pandemia, esses tumores com alta incidência são os mais negligenciados

Pedro Marra
postado em 24/12/2021 00:01
 (crédito: Ed Alves/CB/D.A.Press)
(crédito: Ed Alves/CB/D.A.Press)

Diagnóstico precoce, cuidados com a pele e atenção para proteger o corpo no verão e no resto do ano. Esses e outros assuntos foram comentados pelo oncologista do Instituto de Câncer de Brasília (ICB), Rafael Botan, ontem, em entrevista ao programa CB.Saúde — uma parceria do Correio Braziliense com a TV Brasília.  "O câncer de pele é o que eu mais vejo ser negligenciado, porque uma pessoa que está com uma falta de ar, e tem um nódulo no pulmão, não tem como negligenciar isso", destacou à jornalista Carmen Souza.

Quais são os tipos de câncer de pele mais comuns?

Quando a gente fala de câncer de pele, a gente tem duas doenças muito distintas, a do tipo melanoma e a do tipo não melanoma. O melanoma é relacionado àquela famosa manchinha preta ou pinta. E aquilo ali pode vir a se tornar um melanoma. Já os outros tipos, geralmente, não têm micropigmentação, em que pode ser meio perolado, avermelhado, mas são bem menos agressivos do que o melanoma, disparado o mais agressivo e que merece mais cuidado.

Sobre o câncer de melanoma, vale aquela regra das manchas A, B, C, D e E para definir o grau de evolução do tumor?

Não, porque ele é mais específico para o melanoma. Existe um método para essa regra, que é o A, B, C, D e E. A é de assimetria, quando um lado da manchinha é diferente do outro. O B é de bordas, se elas são elevadas. O C é de cor, se é heterogênea, bem pretinha de um lado e do outro tem uns tons avermelhados. O D é de diâmetro, que é o tamanho, e o E é de evolução, que, em alguns casos, chamam de espessura. (Ficar atento) é a maneira mais eficaz para rastrear e saber se a pessoa tem que ir ao médico. 

Um levantamento da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD) de 2020 mostrou que de cada 10 brasileiros, pelo menos, seis se expõem ao Sol sem proteção. Essa realidade se aplica ao DF?

Existe a exposição por trabalho, e essas pessoas, geralmente, não se preocupam mesmo em talvez seja a exposição mais importante, porque ela é contínua e longa. E existe a exposição de lazer, em que a gente vê a pessoa se preocupando mais, colocando protetor, mas esquecem algumas regiões que são importantes. Por exemplo, o lábio é totalmente exposto ao Sol quando a gente vai em uma praia ou em uma oficina. Passamos protetor em todo o corpo e esquecemos os lábios. 

De que forma a pandemia impactou no diagnóstico de câncer de pele?

O câncer de pele é o que eu mais vejo ser negligenciado, porque uma pessoa, por exemplo, que está com uma falta de ar, e tem um nódulo no pulmão, não tem como negligenciar isso. Agora, o câncer de pele é uma pintinha que fica assintomática por anos e anos na sua evolução, e a pessoa diz que está crescendo, mas "depois eu vou (ao médico)".

Quais as principais dicas de cuidados com a pele?

Quem tem muitas pintas, geralmente, tem a pele mais clara, e esse tipo de gente tem muito mais câncer de pele. E as pessoas têm que usar (fator de proteção), no mínimo, 30, em que tem uma proteção adequada. A partir disso, a proteção aumenta, mas muito pouco. Então, esses protetores de 120, 130, isso vale muito pouco, até porque são mais caros. O que é importante a pessoa ter são protetores resistentes à água.

Quais conselhos o senhor pode dar sobre uso de creme bronzeador? E quais os perigos do bronzeamento artificial?

O creme bronzeador dificulta a ação do protetor solar. Então, por causa disso, faz com que aumente a vulnerabilidade e a exposição, e aí aumenta (as chances de) câncer de pele. O bronzeador, em si, não é cancerígeno, mas aumenta, porque impede que a pessoa passe adequadamente o protetor, e ainda pode ter alguma reação. O bronzeamento artificial foi banido no Brasil, porque aumenta as chances de câncer de pele. 

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