"O meu maior desejo para o Natal é poder passar com a minha família, com uma mesa farta e com muita comida", essa é a frase mais repetida por crianças e adolescentes que vivem em instituições de acolhimento no Distrito Federal. Judicialmente afastados dos familiares por diferentes razões, como violência e negligência, muitos passarão as festas de fim de ano em abrigos. Mais do que receber presentes no dia 25 de dezembro, existe o desejo de viver em família. Enquanto o momento não chega, a Vara da Infância e da Juventude (VIJ-DF), por meio do programa social Rede Solidária Anjos do Amanhã, está arrecadando alimentos, além de outros itens, para garantir a ceia natalina e afeto para os acolhidos.
Para colaborar, é possível fazer doações de diferentes itens, como chester, peru, pernil, panetone, chocotone, leite condensado, creme de leite, gelatina sem sabor, frutas natalinas, cestas básicas, roupas, calçados e brinquedos para as crianças, móveis e utensílios do lar, materiais de limpeza e higiene pessoal, além de valores em dinheiro. De acordo com Marianna Batista, supervisora substituta do programa, algumas instituições ficaram três meses sem receber o repasse do governo este ano. "Essas instituições vivem praticamente de doações. Para ajudá-los da melhor forma possível, fizemos um balanço do que elas precisam, algumas estão recolhendo material escolar para as crianças que vão estudar no ano que vem, outras pedem roupas, cada uma tem sua necessidade", explica Marianna.
Para quem não tem condições de colaborar materialmente, tempo é um item muito bem-vindo. É possível se engajar em trabalhos voluntários. "Se é psicólogo, enfermeiro, dentista, pedagogo ou de qualquer outra área, pode ajudar com a oferta de serviços para os acolhidos, ou até mesmo estar disponível para escutar, acolher e ajudar os adolescentes. Sempre terá alguém precisando", pontua Marianna Batista. Aprender a maquiar, assim como influenciadores digitais, é o sonho de Carina*, uma das acolhidas da Casa de Ismael, na Asa Norte. A adolescente de 13 anos quer ganhar, neste Natal, um kit de maquiagem com rímel, delineador e base para pele negra. Há dois meses na instituição, ela sente saudades da família e espera poder passar a ceia natalina junto com os familiares. "Eu quero poder sair daqui logo, saudade da minha liberdade", afirma Carina.
A assistente social Vanessa Lima, 31, que atua na Casa de Ismael, conta que os adolescentes são os que mais sofrem nesta época do ano. Eles que vivenciaram bastante coisa, entendem um pouco mais a situação e questionam muito porque as pessoas só lembram deles no Natal. "Muitas das ações pensam apenas nas crianças pequenas, com brinquedo, e acabam deixando de lado os maiores. E eles sentem bastante. O acolhimento é uma realidade bem cruel", detalha Vanessa.
Apoio
"A gente não quer só comida, a gente quer comida, diversão e arte", o trecho de uma música da banda Titãs foi recitado pela administradora da Casa de Ismael, Andreia de Moraes, 36. De acordo com ela, essas parcerias com voluntários têm um impacto positivo para os acolhidos. "Tivemos um voluntário que se dispôs a levar as crianças e adolescentes para almoçar fora. Claro, acompanhado com uma equipe de cuidadores e com o transporte próprio da instituição. Esses eventos fazem parte da natureza humana, e acontecem pouco. Uma saída para o parque, uma atividade cultural ou de esporte traz alegria para eles, que passaram por muita coisa", comenta Andreia.
De acordo com ela, muitos dos acolhidos não entendem a razão de estarem em um abrigo e isso os afeta muito. Os que têm consciência precisam lidar com a incerteza do futuro, se voltarão a viver com a família biológica, se terão um convívio social sem estigmas e preconceitos. Todos esses fatores pesam e podem ser amenizados com um olhar de carinho e atenção. "Quem quiser se voluntariar, basta entrar em contato com a gente. Apresentamos a proposta para a equipe técnica do acolhimento para a autorizar a atividade", informa a administradora.
Andreia reforça a importância de manter, durante o ano inteiro, as ações de doações de itens básicos, como alimentos, itens de higiene e de vestuários, além das atividades de voluntariado. "Nesse período do Natal, as pessoas estão mais abertas à rede de solidariedade, e isso é ótimo. Mas temos necessidades durante os outros 11 meses. Se a sociedade toda sentiu muito durante a pandemia, com as restrições e isolamento, imagine para quem está em um abrigo", aponta.
Carinho
Dezembro é um mês especial para Clarice*, adolescente de 15 anos que vive na Casa Transitória de Brasília. "O Natal representa muito na minha vida. Foi nessa época, quando eu morava no orfanato, lá no Maranhão, que eu fui para uma família. Eu sempre pedia para ter uma família e um pouco antes do dia 25 de dezembro eu consegui", conta. Mas essa não é a única memória marcante da data para Clarice.
"Quando eu morava lá no Maranhão, eu sofria muito por meus pais não conseguirem comprar nenhuma comida para pôr na mesa. Não tínhamos nada e eu acreditava muito no Papai Noel. Teve um Natal em que meu pai chegou em casa com frango, arroz, refri. Ele ganhou dessas pessoas que dão comida na rua. Foi um dia que a gente teve comida em casa", relembra a jovem, que na época tinha apenas 9 anos. Para este ano, Clarice sonha em ter uma família novamente.
Mesmo com as adversidades e momentos difíceis na família, Antônio*, 15, espera poder passar as festividades natalinas com os familiares. "Quero estar com a minha família, sem nenhuma preocupação. Um Natal de paz, de convivência e harmonia", planeja o acolhido. Para Rebeca*, o único desejo é que a avó melhore. "O meu maior presente é que minha avó possa sair do hospital para eu passar o Natal com ela. Além de poder resolver pendências com a minha família", afirma.
Apesar da saudade de casa, todos os acolhidos da instituição são gratos por estarem em um lar com pessoas que prestam apoio e se preocupam com eles. "Agradeço de coração todas as cuidadoras que nos receberam de braços abertos. A gente podia estar passando fome, tem várias crianças que estão na rua e estamos aqui com tudo. Eu cheguei assustada e fui recebida com muito carinho. Eu podia parar em um abrigo de pessoas más", ressalta Clarice.
*Os nomes dos acolhidos na matéria são todos fictícios, para preservar a identidade deles
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Casa de Ismael
Pelo telefone 3272-4731 ou pelo e-mail administracao@casadeismael.org.br
Casa Transitória de Brasília
Pelo telefone 3356-8135 ou pelo e-mail psicossocialctb@gmail.com
Batuíra — Obras Sociais do Centro Espírita
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Casa do Caminho
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