Em entrevista ao CB. Saúde, uma parceria do Correio Braziliense com a TV Brasília, nesta quinta-feira (16/12), o pediatra especializado em nutrologia, Cristiano Nader, reforçou a importância da atenção aos hábitos no dia a dia das crianças brasileiras. À jornalista Carmen Souza, Cristiano explicou que as férias escolares são um bom período para que determinados comportamentos sejam repensados pelos núcleos familiares. A preocupação surge em um momento de maior incidência de determinadas doenças, como diarreias, resfriados, surtos de influenza e síndrome mão e boca. “Nas férias, os vírus são bem comuns, então precisamos ter cuidado com o que as crianças comem, com higienização e bons hábitos de vida”, pontua.
De acordo com o pediatra, muitas crianças têm tido maus hábitos e isso tem impactado na saúde. Recentemente, a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) divulgou um levantamento sobre o hábito alimentar de crianças com até cinco anos, e os dados são preocupantes: 80% das crianças nessa faixa etária não se alimentam de forma saudável e optam por alimentos ultraprocessados. “Hoje em dia, a gente sabe que um dos mecanismos que mantém a saúde da criança é o perfil da microbiota intestinal, que são os germes presentes no intestino. Quando coloco um multiprocessado, ele altera a forma como essas bactérias vão crescendo, e o perfil delas. Nós temos várias espécies no intestino, umas agressivas outras protetoras e, ao alterar essa formação, pode-se gerar um efeito a curto, médio e longo prazo”, diz.
Cristiano explica, ainda, que uma das consequências da má alimentação é o aumento da obesidade e sobrepeso na primeira infância. “É uma realidade mundial, a Organização Mundial da Saúde (OMS) enviou um alerta nesse sentido. Eles têm alguns programas de foco no tratamento e prevenção da obesidade, e já entendemos que a obesidade é um fator central e inicial para todas as doenças crônicas do adulto. Então a prevenção é algo mega importante e a microbiota está associada a isso. A obesidade é uma doença inflamatória, então quando ingere alimentos in natura, a inflamação diminui e você consegue prevenir doenças e uma saúde futura mais estável.
Para evitar doenças desse tipo, são indicadas intervenções ainda na fase inicial de vida, como alteração de estilos de vida, na alimentação e atividades físicas. “A criança está inserida no contexto familiar, então tem que tratar toda a família. Às vezes o responsável não quer deixar de tomar o refrigerante, mas não quer que a criança tome. E aquele indivíduo que enxerga o pai como ídolo vai assimilar isso ao fato dele tomar refrigerante. Então a família também deve adotar bons comportamentos de vida”, reitera o pediatra.
Para o especialista, as férias são um bom período para mudar os hábitos ruins. “Os pais podem observar mais de perto a alimentação dos filhos. Estamos inseridos em uma realidade em que pais e mães trabalham em longas jornadas, e as crianças, muitas vezes, são acompanhadas pelas babás, na frente das televisões, e não criam qualquer tipo de relação com o alimento como deveria ser. Quando se faz uma refeição em família, a criança come, observa os pais e através dos estímulos, vão aprendendo um padrão de alimentação mais saudável”, ressalta.
Pandemia
Ainda de acordo com o pediatra, a pandemia intensificou os maus hábitos na alimentação e na prática de exercícios. Durante o isolamento, as crianças passaram a ficar mais sedentárias, e o cérebro busca um conforto a mais, que vem da comida. “Aí, você pede pizza, sanduíche, e nunca uma coisa mais saudável. Isso piorou a saúde das crianças. Com menos atividades, mais calorias, elas deixam de produzir substâncias anti-inflamatórias para consumir alimentos altamente processados, o que aumenta o índice de inflamação do organismo”, diz.
Por outro lado, a infecção pelo coronavírus é menos perigosa e crítica para as crianças, conforme explica Cristiano. “Pediatra é um profissional que tem o coração mais mole, então ainda bem que fomos poupados desse sofrimento. O número de óbitos foi bem menor e as crianças lidam melhor com esse vírus, internam bem menos. Tudo isso em um ambiente que pouco se usa máscara. Então nas faixas pediátricas, mesmo que as crianças que costumam não fazer uso de forma adequada, elas lidam melhor com o vírus.
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