Diante da ameaça da nova cepa da covid-19, a ômicron, o Governo do Distrito Federal anunciou, ontem, o cancelamento da festa de final de ano da cidade. Será o segundo ano consecutivo que o réveillon patrocinado pelo governo não acontecerá na capital federal. A suspensão foi confirmada ao Correio por Ibaneis Rocha (MDB). Em mensagem publicada nas redes sociais, o governador também citou a chegada da nova cepa, e o aumento de casos da doença na Europa como justificativa para o cancelamento.
Na semana passada, Ibaneis anunciou que a Secretaria de Cultura preparava uma festa com palcos distribuídos em cinco regiões de Brasília e analisava a realização do carnaval 2022. Ele reiterou, ainda, que o avanço da vacinação e a queda dos índices da pandemia eram favoráveis para as comemorações. Ontem, porém, Ibaneis voltou atrás e afirmou que a capital avançou muito no combate à pandemia, e que não se pode "arriscar um retrocesso". "Peço que todos observem os cuidados recomendados, especialmente neste momento de incerteza, até que possamos retomar a vida normalmente", disse.
Após o anúncio do cancelamento, a Secretaria de Saúde do DF divulgou que investiga um possível caso da variante ômicron na capital federal. De acordo com a pasta, um viajante recém-chegado da África do Sul, que desembarcou em Guarulhos (SP) no dia 27 de novembro, com posterior voo para Brasília, aguarda os resultados de um teste para saber se está contaminado pela nova cepa — dois casos foram confirmados ontem no Brasil. O prazo para a conclusão do exame é de quatro dias. Se confirmado, seria o primeiro caso da variante ômicron no DF.
O suspeito de estar infectado é um homem, na faixa etária entre 40 e 49 anos, que recebeu três doses da vacina. Ele realizou o teste da covid-19 em 29 de novembro, no Laboratório Central de Saúde Pública do Distrito Federal (Lacen-DF), e teve resultado positivo. Segundo a pasta, ele está assintomático, e em isolamento domiciliar desde a chegada à capital. O Lacen-DF iniciou as análises para sequenciamento genético da amostra, com o objetivo de verificar se trata-se da variante ômicron.
O secretário-adjunto de Assistência à Saúde, Fernando Erick Damasceno, disse que o plano estratégico de enfrentamento à pandemia contemplava a possibilidade de um cenário com uma nova variante e as medidas foram intensificadas. Segundo Fernando, desde o comunicado da Organização Mundial da Saúde (OMS) sobre a cepa ômicron, a pasta vem fazendo reuniões diárias para acelerar as estratégias. "Intensificaremos as ações de testagem, reforçaremos as ações de vigilância genômica, a busca ativa na vacinação e a manutenção da capacidade da rede em responder às demandas assistenciais", disse.
Festas privadas
A decisão do cancelamento de todas as festas públicas para a comemoração do ano-novo surgiu depois de uma reunião do Comitê de Avaliação da Realização do Réveillon, com o governador e as pastas da Saúde, de Cultura e de Segurança. O secretário de Cultura, Bartolomeu Rodrigues, integrou o grupo e destacou que a decisão foi importante para o atual momento. "Toda a preocupação do GDF está em torno da segurança da população e da saúde pública. O governador Ibaneis Rocha levou em consideração a vida humana, o bem mais valioso. Nesse contexto de insegurança mundial com o vírus, cancelar essas festas públicas é natural e responsável. São vidas humanas que estão em jogo".
Após a reunião, o chefe do Executivo local disse, ainda, que o comitê irá analisar o caso dos eventos privados de réveillon no DF. Enquanto as medidas para esses casos não são divulgadas, restaurantes, bares, organizam eventos de menor dimensão. É o caso do restaurante Manzuá, localizado no Pontão, que está se programando para fazer um ano-novo diferente. "Vamos abrir normalmente, mas não teremos evento, banda ou música ao vivo, diferentemente do resto do nosso segmento. Optamos em não vender pacote de réveillon e respeitar todas as regras de distanciamento, uso de máscaras e aferição de temperatura. Falar em festa ainda assusta um pouco as pessoas", diz o sócio proprietário do restaurante, Genival Lima, 48 anos.
Para o empresário, as festas particulares não devem ser canceladas. "No ano passado, que estava no auge de toda a situação, não tivemos festa da virada na Esplanada dos Ministérios, mas os restaurantes não foram proibidos de funcionar. Acho que ainda é cedo para falar em não ter festas particulares. Hoje, a pandemia está mais controlada, temos muitas pessoas vacinadas, diferente do último ano", afirma.
Apesar da expectativa positiva, Genivaldo diz que a nova cepa preocupa, uma vez que há riscos da volta de medidas restritivas. "Seria uma catástrofe fazer mais um lockdown. Muitos restaurantes não têm mais fôlego para continuarem fechados. Já fomos muito afetados e esse ano também foi difícil", diz. Para o empresário, uma vez que as medidas de restrição são respeitadas, é possível haver controle do número de casos. "Mantendo o distanciamento, as todas regras, aferição dos clientes e restrição de quantidade de pessoa por mesa, é fácil de se controlar e administrar. Precisamos seguir as regras para manter o funcionamento", reitera.
De acordo com Ibaneis Rocha, por enquanto, o governo do DF não prepara a volta das medidas de restrição. Para o presidente do Sindicato de Hotéis, Bares e Restaurantes de Brasília (Sindhobar), Jael Silva, o possível retorno das medidas restritivas deve impactar negativamente a economia do DF. "É torcer para que essa nova cepa fique no meio do caminho e não chegue em Brasília. Não podemos retroceder agora, estamos começando a sair do limbo, e vamos voltar? Seria uma trajédia", diz.
Jael diz, ainda, que se não houver qualquer tipo de restrição mais severa, bares, restaurantes e hotéis da capital federal devem manter as medidas em vigor e exigir o cumprimento dos protocolos sanitários, sem cancelar seus festejos. "Manter o distanciamento social, fazer uso de máscara e aferir as temperaturas são fundamentais para esse momento", completa.
Para o presidente do Sindivarejista, Edson de Castro, a medida é oportuna e conveniente, em razão dos riscos que a festa popular poderia causar. "Existem reflexos econômicos, mas no comércio, em si, não. O sindicato reúne, hoje, 30 mil lojas, entre shoppings e entrequadras de rua. Nessas, não vai haver impacto", ressaltou. Quanto ao possível cancelamento do carnaval 2022, Edson disse que irá aguardar o posicionamento do governo. "Nós estamos acompanhando e iremos nos manifestar em relação às medidas quando forem anunciadas, uma vez que cada caso é um caso", defende.
Eventos
A presidente da Associação Brasiliense das Empresas de Eventos e Afins (Abraeventos), Karla Vinhas, reiterou que as festas de fim de ano ajudam no processo de retomada da economia. "A vontade da população de comemorar e se reunir cresceu, mesmo que ela seja só em família. Então, os pedidos para eventos particulares tem crescido". Por isso, a possibilidade de suspensão de eventos é preocupante. "Mesmo que a pessoa vá apenas para curtir a festa na Esplanada dos Ministérios, ela leva um kit ceia. Isso impacta em empresas de fogos, bebidas, buffet, decoração, e por aí vai", explica.
Apesar do governo não anunciar como serão os eventos menores, Karla diz que a associação prevê a suspensão das confraternizações particulares. "Estamos mobilizando uma reunião para tratar desse assunto e queremos tentar nos reunir com o governo para mostrar de que forma podemos colaborar para que essa cepa não se alastre", diz. Enquanto isso, a presidente diz que o setor continua mantendo os cuidados. "Sempre frisamos a necessidade de continuar com os protocolos existentes, mesmo sendo liberados em alguns pontos como uso da máscara ao ar livre. Nós entendemos que somos a parte frágil da corda", completa.
De acordo com o infectologista Leandro Machado, apesar da preocupação com a nova cepa, é possível realizar eventos familiares, em que há controle das medidas sanitárias. "Tudo depende de como é feito. Voltar para o lockdown não vai ser a melhor escolha. É preciso que o governo reforce a necessidade do uso de máscaras, e promova ações eficazes para o combate em caso de novo surto da doença. Até então, não construímos nada de concreto para enfrentar uma nova pandemia, como na Coreia do Sul, em que há busca ativa, rastreio ou uso de aplicativos", diz.
Boletim
Devido ao feriado do Dia do Evangélico, a Secretaria de Saúde não publicou o boletim atualizado. Mas, segundo os dados da última segunda, a taxa de transmissão da covid-19 voltou a cair no Distrito Federal, após quatro aumentos consecutivos. O número está em 0,81, valor ligeiramente menor do que o registrado anteriormente, de 0,82. O índice de contágio indica a reprodução da pandemia, e o resultado de ontem aponta que cada 100 brasilienses com a doença podem infectar, em média, outros 81. A média móvel de mortes está a 7,2 — 22% menor do que o dado de 15 de novembro, 14 dias atrás. O cálculo para as infecções alcançou 100,2 — queda de 21,9% na comparação com o mesmo período.
No total, o DF tem 2.283.828 cidadãos imunizados com a primeira dose (D1) das vacinas contra a covid-19, o que representa 74,8% da população. 1.971.701 indivíduos receberam a segunda aplicação (D2) e a vacina de dose única (DU), portanto estão com o ciclo vacinal completo, número que significa 64,6% dos habitantes da capital federal. A terceira dose (D3) foi aplicada em 218.319 pessoas — 7,15% dos moradores do DF. 118 brasilienses receberam a D1 e outros 1.091 foram vacinados com D2 ontem. Em relação à D3, 1.061 doses de reforço foram aplicadas. A campanha de vacinação continua hoje, em ao menos 44 postos. Confira todos os locais de imunização no site do Correio.
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