O deputado federal Professor Israel (PV-DF) entrou com representação por quebra de decoro parlamentar na Câmara dos Deputados, nesta sexta-feira (26/11), contra o colega Heitor Freire (PSL-CE). A denúncia foi motivada pela ida — sem anúncio — do parlamentar cearense ao Centro Educacional 1 da Estrutural (CED 1), na quarta-feira (24/11). A gestão do colégio é compartilhada por militares e civis.
A escola e a vice-diretora, Luciana Pain, viraram, nos últimos dias, alvos de retaliação e polêmica após construção de mural com trabalhos de alunos sobre a Consciência Negra. Em algumas ilustrações, os estudantes denunciaram a violência policial contra a população negra e chegaram a associar militares a símbolos nazistas.
Durante a visita, Heitor Freire gravou imagens e compartilhou nas redes sociais. No vídeo, o deputado conversa com a vice-diretora, e o diálogo corre sem exaltação de ânimos. O parlamentar alegou que denunciaria a direção pedagógica da escola ao Ministério Público. Mais tarde, na tribuna da Câmara dos Deputados, Heitor Freire comentou sobre o episódio, afirmando que Luciana havia sido “ofensiva.”
Quebra de decoro
No texto de denúncia, Professor Israel afirma que o colega "agrediu verbalmente a educadora nas dependências da escola", além de denunciar a atitude autoritária de Heitor Freire. "Ocorre que a tentativa de diálogo não foi a opção do parlamentar representado, mas sim a exploração midiática dos fatos, com um discurso autoritário", critica.
Ainda no documento, o autor descreve o racismo estrutural que aflige a sociedade brasileira e se manifesta de diversas formas no Brasil, inclusive pela violência policial. "Por se tratar de um fenômeno estrutural, portanto, que transcende o âmbito da ação individual, estando presente nas práticas cotidianas e, por vezes, sem que haja uma consciência ou vontade explícita na sua reprodução, nenhuma instituição – inclusive as polícias – estão imunes à reprodução do racismo", explica, acrescentando que as críticas dos desenhos não se dirigiam especificamente às instituições policiais.
Saiba Mais
Relembre
O caso começou na última sexta-feira (19/11), quando os alunos do CED 1 posicionaram os cartazes. Entre os painéis há imagens que valorizam a cultura africana e tirinhas que abordam o preconceito racial. Após a exposição das ilustrações dos estudantes, a direção militar do colégio pediu que as imagens fossem retiradas, segundo a vice-diretora. A gestora, porém, recusou-se a aceitar o pedido.
Em nota, a Associação dos Oficiais da Polícia Militar do Distrito Federal (ASOF/PMDF) repudiou as imagens. "A exposição não traz um debate enriquecedor", considera. Segundo Luciana, a intenção não era promover um ataque. "Não estamos contra a polícia. A polícia melhorou muito nosso trabalho dentro da escola, mas não podemos aceitar esse tipo de interferência. Vamos usar a questão como uma oportunidade para tratarmos o tema em sala de aula", comenta.