A "Atuação antirracista da Defensoria Pública na perspectiva Criminal" foi tema de seminário promovido, ontem, pela Associação Nacional das Defensoras e Defensores Públicos (Anadep) e pela Comissão Temática de Igualdade Étnico-Racial. Rivana Ricarte, presidente da Anadep, garantiu que o debate contra o racismo é um caminho que não deve ser deixado de lado e que a "luta é permanente".
De acordo com Rivana, é importante que as ações de combate ao preconceito reverberam nas instituições e "que essa pauta tenha visibilidade constante". "O que a gente, enquanto Defensoria, pode fazer, é muito mais do que o serviço jurídico pago pelo Estado. Temos a capacidade de contribuir com políticas públicas para o país. E toda campanha que promovemos é dar luz a essas situações", garantiu.
Maria José de Nápolis, da Defensoria Pública do DF (DPDF), constatou que "é muito difícil entrar no presídio e ver que a maioria das pessoas é parda e negra e ver a visão que a nossa sociedade traz". "Trago uma reflexão da Elza Soares, pois como ela disse, a carne mais barata do mercado é a carne negra. Essa nossa luta tem que ser de todos contra o racismo", afirma.
O primeiro painel teve como tema a "Representatividade negra na grande imprensa" e contou com a presença da subeditora do Correio Carmen Souza, titular da coluna Pretos no Topo, e do Jornalista Luiz Fara Monteiro, apresentador do Jornal da Record, repórter do R7 e radialista. A mesa teve a mediação da defensora pública da Bahia e coordenadora da Comissão Temática da Igualdade Étnico-Racial da Anadep, Clarissa Verena.
Carmen chamou a atenção para a proposta inovadora da coluna Pretos no Topo, iniciada em janeiro. "Assumi em maio com a perspectiva de diversificar o debate", conta. "Acho que não devemos focar apenas em relatos sobre preconceitos,sobre nossas dores. Temos muito mais a dizer."
A jornalista ressaltou que os profissionais de comunicação precisam ser sensibilizados quanto as questões raciais. "O cuidado com o discurso racista não deve ser só meu, ou de um colega negro, deve ser de todos. Principalmente porque os profissionais que têm mais tempo, ou que ocupam os cargos mais altos, são, geralmente, pessoas brancas", salienta.
Oportunidades
O segundo painel discutiu a "A atuação da Defensoria Pública no âmbito criminal e perspectiva antirracista", e contou com a presença de defensores públicos de todo o país na mesa de debate: Carla Caroline Silva (SE), Alessandra Quines (RS) e Maxnei Gonzaga (MG), com a mediação realizada pela defensora do Rio de Janeiro e coordenadora do Núcleo Contra a Desigualdade Racial (Nucora), Daniele Silva. A defensora destacou: "não acredito em representatividade enquanto houver um jovem negro morrendo a cada 23 minutos no país".
O defensor Maxnei Gonzaga salientou a necessidade de os jovens poderem conhecer realidades diferentes das que estão inseridos. "Teve uma ocasião em que não tínhamos locais para os adolescentes cumprirem as medidas socioeducativas. Sugerimos que eles atuassem na defensoria, na Polícia Civil e no Fórum. Houve resistência, mas conseguimos a autorização. No fim, uma jovem foi prestar o serviço conosco."