Um grupo com mais de 20 voluntários reuniu-se para levar alegria a crianças que vivem em situação de vulnerabilidade social no Distrito Federal. O projeto Dá de Brincar está arrecadando brinquedos usados e os recuperando para distribuir como presente de Natal. Todo objeto que chega até eles passa por uma triagem, higienização e, em caso de algum defeito, restaurado. Para as bonecas que estão com roupa rasgada ou manchada, há produção de vestuário novo.
O nome da ação é uma referência à campanha desenvolvida pela organização da sociedade civil com objetivo de combater a pobreza no mundo Tem alguém com fome? Dá de comer! Mas, neste caso, o significado é duplo: dá de brincar, do sentido de fazer uma doação ou, também, se tem brinquedo esquecido no armário, dá de brincar.
Idealizadora do projeto, a jornalista aposentada Elaina Daher, 57 anos, conta que a ideia surgiu da constatação de que muitas crianças não ganham brinquedo no Natal. Durante conversa com amigos, decidiram ajudar. No primeiro momento, pensaram em campanha de arrecadação e ir às lojas e comprar alguns, mas a opção não empolgou tanto o grupo.
“Queríamos algo mais criativo, significativo, carregado de emoções. Pensamos se não seria melhor fazermos brinquedos, afinal, estamos ainda vivendo uma pandemia, mas saindo da fase mais crítica, que nos impossibilitou o convívio. E se pudéssemos nos encontrar regularmente para recuperarmos brinquedos usados? Também nos divertimos, convivemos e preparamos, com muita alegria, nossos presentes”, pensou.
Elaina mora atualmente em Portugal, mas decidiu passar o fim de ano com a família no Distrito Federal. Ao chegar à capital federal, reuniu os amigos e deu início ao projeto. O grupo começou uma divulgação nas redes sociais, ainda como anúncio de arrecadação dos brinquedos usados e, logo, as doações foram chegando. “Buscamos em algumas instituições e pedimos para funcionarem como pontos de coleta. Cotizamos e mandamos imprimir banners para colocar nesses locais e o volume de doações aumentou”, contou.
Triagem
O projeto recolhe os brinquedos e faz uma triagem inicial. Aqueles que estão inteiros e precisam apenas de uma limpeza vão para uma pilha e os que necessitam de conserto vão para outras. Os que estão mais usados servem para fornecer peças para outros. Após esse processo, cada voluntário pega um e começa o trabalho de reforma. “Muitas pessoas levam para casa para fazer uma coisa ou outra, por exemplo, nesses dias de chuva, estava difícil secar os bichinhos de pelúcia, que foram todos lavados. Após a lavagem, eles têm que ser penteados, alguns precisam de retoque. Outros levam bonecas para costurar roupinhas”, explicou.
Amiga de Elaina, a empresária Cristina Roberto, 66, abriu as portas de casa, no Lago Norte, para ser a oficina do grupo. Todo o processo é feito no local. “Quando ela me convidou para participar, a princípio fiquei assustada com essa coisa de aglomerar, mas não dava para negar, porque o estamos fazendo está bonito e com toda a segurança. A ideia é maravilhosa. Estou aprendendo a fazer tanta coisa. Estamos brincando, nos divertindo muito. Tem sido algo muito saudável”, contou.
Cristina se dedica em tempo integral ao projeto. Ela lembrou que teve dia que entrou na oficina às 8h e saiu apenas às 20h. “Esqueci de tomar água, de comer, porque é algo muito prazeroso. Fazer uma pessoa feliz é uma das coisas mais gratificantes. Uma criança, então, é uma riqueza para nós”, destacou a empresária.
Prazer
Uma das primeiras voluntárias a participar do projeto, a aposentada Zulene Santos, 68, mora no Gama e se desloca quase todos os dias para o Lago Norte usando transporte público. Para ela, embora a viagem seja longa, cada sacrifício é prazeroso para poder ajudar as crianças. “Amo trabalhos manuais. Sou aposentada e fiquei durante o momento mais crítico da pandemia em casa, isolada, e gosto de ajudar, me sentir útil. Achei a ideia ótima por tudo, por ajudar, pela experiência. Já tinha prática então não foi difícil para mim. Estou realizada”, afirmou.
A princípio, o projeto é para este Natal, mas a torcida de Zulene é que se estenda por muito tempo. “Agora que o projeto vai começar a ser conhecido e as pessoas vão querer ajudar cada vez mais. Sempre haverá crianças precisando, então acho que o ideal é continuarmos. Vamos decidir depois do Natal”, disse.
Voluntária especial
Aos 9 anos, a neta da Elaina, Manuela Daher faz questão de participar do projeto. Carrega os brinquedos, lava, ajuda em tudo. Uma atitude da menina chamou a atenção dos voluntários. Ela fez um bilhete escrito pedindo a doação de brinquedos na escola. “Pensei em apresentar o projeto para meus colegas de sala. Até hoje tem gente mandando brinquedo. Estou achando muito legal e quero participar outras vezes disso. Estou me divertindo muito. Nesse Natal, todas as crianças vão ficar felizes”, disse Manu.
Os interessados em ajudar devem levar o brinquedo aos pontos de coleta até 15 de dezembro. Podem também combinar um local para os voluntários buscarem. Entre em contato pelo telefone (61) 99817-7035 ou envie uma mensagem por WhatsApp. Doações em dinheiro podem ser feitas por Pix. O número é a chave de transferência.