Jornal Correio Braziliense

Pertencimento

A consciência negra é fruto das experiências acumuladas por pessoas negras em contextos demarcados pelas tensões, produtos das relações raciais. Ela resulta em postura política fomentada pela lucidez diante das recorrentes violências físicas ou simbólicas provocadas pelo racismo, que afetam a subjetividade dessas pessoas. Embora a consciência seja de cada sujeito, este gesto individual torna-se de suma importância para a construção coletiva de identidades negras. A consciência negra é também consequência do modo como tais pessoas se reconhecem, quando falamos de pertencimento ao mundo africano ou à diáspora africana. A referida atitude representa um contraponto às heranças coloniais, as quais habitualmente reduzem as identidades negras aos estereótipos, amplamente midiatizados. Este fenômeno ao qual fazemos alusão requer a ruptura com padrões eurocêntricos que empurram o “outro”, neste caso o ser negro, para o lugar do exótico, do risível, do caricato. A consciência negra exige o enfrentamento dessas questões e, para tanto, requer que se vença o desserviço da alienação. Ela impõe a ressignificação do passado, de modo que seja possível, no presente, compreender as dimensões, das reparações históricas e das ações afirmativas voltadas para o segmento negro.
Nelson Inocencio, professor de artes da UnB