Entre os 19 mandados de prisão contra a maior facção do Distrito Federal, dois, em especial, representam um novo golpe da organização criminosa. A Polícia Civil confirmou que estão atrás das grades dois homens que comandavam o grupo desde abril deste ano, quando o chefe da facção, William Peres Rodrigues, o Wilinha, foi detido em Paranhos (PS).
Mais de 220 policiais civis, incluindo agentes, escrivães e delegados participaram da operação que teve início nas primeiras horas da manhã desta quarta-feira (17/11). Até o momento, 15 integrantes da organização foram presos e quatro estão foragidos. Além disso, a PCDF cumpriu 27 de busca e apreensão expedidos em desfavor dos investigados, cumpridos nas regiões do Riacho Fundo, Samambaia, Recanto das Emas, Gama, Paranoá e Águas Claras, além de cidades do entorno como Luziânia. Além disso, foram cumpridos dois mandados de sequestro de imóveis adquiridos com dinheiro ilícito pela facção criminosa.
O Comboio do Cão é investigado em, ao menos, 500 ocorrências e 30 homicídios. De acordo com o delegado-titular da Delegacia de Repressão ao Crime Organizado (Decor), Adriano Valente, nesta quarta-feira, foram apreendidas 20 armas de fogo, incluindo pistolas, algumas com seletor de rajadas, dispositivo que acelera o disparo das munições, cerca de 10 mil munições e R$ 20 mil em espécie.
Logística e extermínio
Durante as investigações, que contaram com a participação do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT), o esquema criminoso foi mapeado e, segundo a polícia, envolve ações logísticas de tráfico de drogas e armas de fogo trazidos da região de fronteiras do país, estratégias para identificar outros grupos de tráfico para garantir o domínio territorial do DF, lavagem de dinheiro com a compra de bens como imóveis em nome de terceiros e pulverização dos recursos financeiros de origem criminosa em diferentes contas bancárias de forma sucessiva até a sua conversão em espécie.
Na ação desta quarta-feira (17/11), o objetivo era prender os membros da facção que substituíram Wilinha, preso em abril, bem como do criminoso responsável pelo controle da parte financeira do grupo, e, com isso, desarticular por completo a organização criminosa.
A operação contou com o apoio das Divisões de Inteligência (DIPO), de Operações Especiais (DOE) e de Operações Aéreas (DOA) da Polícia Civil do Distrito Federal, bem como da 5ª Delegacia Regional de Polícia da Polícia Civil do Estado de Goiás, localizada em Luziânia-GO, e do 24o Batalhão de Polícia Militar da Polícia Militar do Estado de Goiás, situado em Posse-GO.
Feminicídio em motel
Nesta terça-feira, o Correio revelou, com base em inquéritos policiais, processos e depoimentos de testemunhas sigilosas, como funciona a estrutura da facção e como os membros se articulam para traficar drogas e matar adversários. A guerra sanguinária começou há pouco mais de uma década, a partir da disputa de gangues. O Comboio do Cão, age com requintes de crueldade e tenta se instalar na capital, mesmo sofrendo seguidos reveses da Polícia Civil e do Ministério Público do DF, a exemplo da operação desta quarta.
Este ano, em apenas nove dias, membros da organização criminosa participaram de, ao menos, dois casos de extrema violência: a morte de uma jovem, de 21 anos, em um motel de Taguatinga, e a tentativa de homicídio contra um sargento da Polícia Militar (PMDF) no Riacho Fundo 2.
Desde o surgimento, a base da facção opera em pontos estratégicos no Riacho Fundo 2, como em bares e em casas de criminosos. São nesses locais que os integrantes armazenam as armas e drogas que vêm de outros estados e do Paraguai. Boa parte dos armamentos são Glock .9mm e .40. Algumas vêm com um marcador de chassi com as letras “FB”, referindo-se a Fabiano. Em um dos depoimentos cruciais para a investigação, uma testemunha revelou, ao menos, cinco locais diferentes onde os faccionados escondiam os ilícitos.
Para trazer as armas ao DF, o grupo costuma enviar ao menos seis caminhonetes produtos de roubo para o Paraguai. As armas são transportadas em carros comuns e vêm escondidas em forros de portas e nos estepes. Nessa função, trabalham pessoas que têm o mínimo de conhecimento na área e que tentam evitar chamar a atenção da polícia. Um dos envolvidos fica responsável por instalar o seletor de rajada, dispositivo que acelera o disparo das munições; e outro fica encarregado de fazer a manutenção das armas, adulterando a numeração, adicionando números depois das barras.