Nas primeiras horas da manhã desta quarta-feira (17/1), agentes da Delegacia de Repressão ao Crime Organizado do Departamento de Combate à Corrupção e ao Crime Organizado (Draco/Decor) deflagraram a operação Cáfila, com o objetivo de desarticular a atual estrutura da maior facção do DF, o Comboio do Cão.
Neste momento, mais 220 policiais da PCDF, entre agentes, escrivães e delegados estão nas ruas para cumprir 19 mandados de prisão cautelar e 27 de busca e apreensão expedidos em desfavor dos investigados, cumpridos nas regiões do Riacho Fundo, Samambaia, Recanto das Emas, Gama, Paranoá e Águas Claras, além de cidades do entorno como Luziânia. Além disso, foram cumpridos dois mandados de sequestro de imóveis adquiridos com dinheiro ilícito pela facção criminosa.
Durante as investigações, que contaram com a participação do Ministério Público do Distrito Federal, foi identificado complexo empreendimento delitivo que envolve ações logísticas de tráfico de drogas e armas de fogo advindos da região fronteiriça do país, mecanismos de levantamento e identificação de inimigos para garantia do domínio territorial e atos de lavagem de capitais, tais como a aquisição de bens móveis e imóveis em nome de terceiros e pulverização dos recursos financeiros de origem criminosa em diferentes endereços bancários de forma sucessiva até a sua conversão em espécie.
A facção de origem local é considerada responsável por uma série de crimes hediondos em diversas regiões administrativas do Distrito Federal, sobretudo pela prática de homicídios em contexto de “guerra” pelo controle de territórios e pontos de traficância de drogas, além de roubos e tráfico de armas de fogo.
O Comboio do Cão já foi alvo de outras três operações policiais da PCDF, inclusive a que resultou na prisão do líder, conhecido como “Wilinha”, há pouco mais de seis meses, na fronteira com o Paraguai. Na ação desta quarta-feira, o objetivo foi realizar a prisão dos membros da facção que o substituíram, bem como do criminoso responsável pelo controle da parte financeira, e, com isso, desarticular por completo a organização criminosa.
A operação contou com o apoio das Divisões de Inteligência (DIPO), de Operações Especiais (DOE) e de Operações Aéreas (DOA) da Polícia Civil do Distrito Federal, bem como da 5ª Delegacia Regional de Polícia da Polícia Civil do Estado de Goiás, localizada em Luziânia-GO, e do 24º Batalhão de Polícia Militar da Polícia do Estado de Goiás, situado em Posse-GO.
Raio-X
Na última terça-feira, o Correio revelou, com base em inquéritos policiais, processos e depoimentos de testemunhas sigilosas, como funciona a estrutura da facção e como os membros se articulam para traficar drogas e matar adversários. Formada há mais de 10 anos a partir da disputa de gangues, o Comboio do Cão age com requintes de crueldade e tenta se instalar na capital, mas sofre seguidos reveses da polícia e do Ministério Público do DF.
Em nove dias, membros da organização criminosa participaram de, ao menos, dois casos de extrema violência: a morte de uma jovem, de 21 anos, em um motel de Taguatinga, e a tentativa de homicídio contra um sargento da Polícia Militar (PMDF) no Riacho Fundo 2.
Desde o surgimento, a base da facção opera em pontos estratégicos no Riacho Fundo 2, como em bares e em casas de criminosos. São nesses locais que os integrantes armazenam as armas e drogas que vêm de outros estados e do Paraguai. Boa parte dos armamentos são Glock .9mm e .40. Algumas vêm com um marcador de chassi com as letras “FB”, referindo-se a Fabiano. Em um dos depoimentos cruciais para a investigação, uma testemunha revelou, ao menos, cinco locais diferentes onde os faccionados escondiam os ilícitos.
Para trazer as armas ao DF, o grupo costuma enviar ao menos seis caminhonetes produtos de roubo para o Paraguai. As armas são transportadas em carros comuns e vêm escondidas em forros de portas e nos estepes. Nessa função, trabalham pessoas que têm o mínimo de conhecimento na área e que tentam evitar chamar a atenção da polícia. Um dos envolvidos fica responsável por instalar o seletor de rajada, dispositivo que acelera o disparo das munições; e outro fica encarregado de fazer a manutenção das armas, adulterando a numeração, adicionando números depois das barras.