Ao longo dos últimos dois meses, quando soube do resultado de um exame de DNA, a dona de casa Geruza Ferreira e moradora de Planaltina, conviveu com o sofrimento e a tristeza em saber que a sua filha havia sido trocada na maternidade do Hospital Regional de Planaltina, em 14 de maio de 2014. Após um mês de sofrimento desde o resultado de DNA da Polícia Civil para confirmar a troca, as duas crianças e as mães biológicas finalmente se conheceram juntas pela primeira vez nesta segunda-feira (29/11), em um shopping do Distrito Federal.
Acompanhadas de psicólogos, quem presenciou o encontro garante que foi emocionante. “Foi um encontro bastante emocionante, muito choro, muitos abraços, muitas palavras lindas nesse momento tão delicado e sensível. São momentos que ficam guardados para sempre”, garante o advogado da família da mãe de Planaltina que preferiu não se identificar, Caio Vitor. “Optamos por realizar esse encontro em um shopping. Lugar com espaço para elas ficarem brincando, além de fast-foods que elas gostam bastante. Vamos marcar mais encontros. O momento é de conhecer as famílias”, pontuou.
Na semana passada, as duas mães já haviam se encontrado e trocaram fotos e contatos para manter uma comunicação. Uma das meninas que foi separada na maternidade também encontrou o pai biológico na última semana. "Como os pais são separados, a gente optou por fazer encontros diferenciados", destacou o advogado.
História comovente das mães
Há sete anos, a dona de casa Geruza Ferreira deu à luz a uma menina no Hospital Regional de Planaltina, mas só agora descobriu que a criança que levou para casa não é sua filha biológica. Com um exame de DNA, ficou comprovado que não havia relação de sangue entre a mulher e a menina. A mãe, à época, acreditava que havia acontecido a troca de bebês na maternidade.
O Governo do Distrito Federal (GDF) negou ter havido troca de bebês no hospital. Porém, em agosto deste ano, a Justiça do DF entendeu que a substituição ficou comprovada e determinou o pagamento de indenização no valor de R$ 300 mil por danos morais. A ação corre em segredo de Justiça. A Procuradoria-Geral do DF, representante do governo em processos judiciais, disse que já recorreu da decisão.
Descoberta
A menina é fruto de uma relação que Geruza teve com um homem, entre 2010 e 2013. No fim da gestação, eles terminaram. A menina nasceu em 14 de maio de 2014, no Hospital Regional de Planaltina, unidade de saúde da qual a mulher acredita que a filha foi trocada.
O ex-companheiro registrou a criança e ajudou financeiramente nos primeiros anos, mas não manteve contato próximo com ela. Em 2020, a mãe foi surpreendida com um processo, movido pelo homem, no qual pedia a exclusão do nome dele do registro da criança. O motivo: o pai havia feito um exame de DNA, que comprovou que a menina não era filha dele. Com isso, Geruza também decidiu fazer um exame de DNA para comparar o próprio sangue e o da criança. O resultado comprovou que não havia possibilidade de a menina ser filha biológica dela.
Justiça
Devido aos danos causados pela situação, Geruza foi à Justiça pedir o pagamento de indenização pelo GDF. Em defesa, o governo disse que a mulher não apresentou provas de que houve negligência na atuação dos servidores do hospital.
O Executivo local afirmou que foram adotados todos os procedimentos adequados para o nascimento da filha da autora, não havendo nenhum elemento que permita aferir a veracidade das alegações da autora quanto à possível troca dos bebês na maternidade.
Contudo, ao analisar o caso, o juiz Alessandro Marchio Bezerra Gerais entendeu que ficou comprovada a troca das crianças. "Como não é razoável presumir que a troca tenha ocorrido em momento posterior à alta da autora da maternidade sem que ela percebesse (até porque, com o tempo, as feições do bebê vão se definindo), reputo devidamente comprovado que a sua filha biológica foi trocada quando do seu nascimento no estabelecimento hospitalar supra apontado", diz na decisão.
Além da ação na Justiça, a família também registrou um boletim de ocorrência na Polícia Civil. O caso está sendo investigado há um ano pela 16ª Delegacia de Polícia, em Planaltina. Segundo o delegado, todos os envolvidos já foram ouvidos.
No fim de outubro, Geruza foi intimada a fazer um novo teste de DNA. Desta vez, o exame foi realizado no Instituto de Pesquisa de DNA Forense da Polícia Civil, com também resultado que comprovava que o DNA não batia com a filha. A mãe afirma que a filha já sabe da situação. "Ela é muito inteligente. Ela percebeu e eu mesmo contei, mesmo sem ajuda de um psicólogo. Não tinha mais como esconder dela", conta.
Estagiário sob a supervisão de José Carlos Vieira
Notícias pelo celular
Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.
Dê a sua opinião
O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.