A cena corta o coração, sempre. Não sei se o do Paulo Guedes, mas o meu, com certeza. Na calçada, a mulher com o filho pequeno no colo oferece panos de prato. Como não compro, ela pede uma ajuda para o almoço. Isso é muito comum nas ruas do Sudoeste e de toda a região central de Brasília. A diferença, desta vez, é uma placa branca no chão. Nela, uma chave de pix... A nossa vendedora pode receber o dinheiro por meio da transferência eletrônica. Saí confuso e triste: uma eventual doação também poderia chegar pelo pix.
O fato inusitado - pelo menos para mim - me traz para a realidade de todos os dias, agravada neste momento de pandemia. A pobreza avança. Sem emprego, pedir nas ruas é uma das alternativas para a sobrevivência. A venda de panos de prato e doces sustenta famílias, embora tudo indique que a maioria dessas pessoas é explorada pelos "donos" dos produtos.
Com a chegada do Natal e das festas de fim de ano, Brasília recebe grande número de pessoas em busca de donativos e alimentos. São caravanas que vêm do Entorno e de cidades do interior. Passam uma temporada acampadas nas ruas e depois vão embora. As ruas ficam mais cheias de pedintes, de crianças à espera de um presente qualquer. Há quem se incomode muito. Reportagens mostram o drama. E os riscos que essa população corre. Todos os governos tentaram ações e programas, mas nenhum deles teve resultados satisfatórios.
Confesso ter dúvidas sobre a melhor forma de tratar esse tema. Uma corrente defende que não haja doações, pois elas estimulam essa migração temporária.
Por outro lado, vejo que a solidariedade aflora nesta época. Muitos fazem questão de propagandear a caridade. Mas a maioria, silenciosa, ajuda a minorar o sofrimento desses brasileiros. Ações que emocionam, que trazem a esperança. Não sei como será este ano, no fim do pior período da história do Brasil, com 600 mil mortos pela pandemia e uma legião de famintos à espera de socorro.
No Sudoeste, a moça amamentava a criança, vendia panos de prato e pedia doações, ao mesmo tempo. Tudo isso em frente a um supermercado! Espero que o pix, se alguém enviar, chegue numa conta dela mesmo. Naquela conta em que recebe o Bolsa Família ou o auxílio emergencial. Mas torço mesmo para que ela consiga um emprego. Este sim, é o único programa capaz de tirar o país da pobreza.
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