Na capa do Correio, há 60 anos, estava a notícia: Estrela veio comprar "um pedaço do Brasil". Saída da constelação hollywoodiana, a atriz era Janet Leigh, que participou de um momento singular na carreira do gigante Alfred Hitchcock: em 60 segundos de Psicose (1960), na famosa cena de crime num chuveiro, esteve alavancada a comoção em massa dos espectadores que viram o terror migrar da seara dos filmes B para a condição de gênero revitalizado. Psicose, inicialmente, rendeu US$ 15 milhões, a partir de US$ 800 mil de orçamento.
Indicado ao Oscar de melhor direção (Hitchcock), o longa ainda rendeu candidatura de Janet Leigh como melhor atriz coadjuvante. No ano em que Audrey Hepburn pavimentou a imortalidade, com o longa Bonequinha de luxo; Elizabeth Taylor, moribunda na vida real, conquistava o Oscar com Butterfield 8, e Sophia Loren almejava outro patamar de carreira; com o longa Duas mulheres, Janet Leigh cravou o "grande acontecimento social de Brasília", segundo o relato da colunista Katucha.
Em 9 de novembro, depois de uma jornada em que esteve acompanhada pelo marido, o astro Tony Curtis, destacado para estrelar filme na Argentina, Leigh, já tendo conhecido Pernambuco, São Paulo e Minas Gerais, e passado dias na capital portenha, chegou a Brasília, na companhia das filhas Kelly e Jamie Lee Curtis, com a qual faria Halloween H2O: vinte anos depois, lançado em 1998, e praticamente o último filme com Janet. Impressionada com a hospitalidade dos brasilienses, no "país prodigioso" que visitava, antes de seguir para Goiânia e Anápolis, Janet cumpriu uma extensa agenda na capital.
Enquanto que no cruzeiro pela América do Sul, em cidades como Recife, Janet desfrutou da companhia do marido, Tony, na nova etapa demonstrou uma emancipação (que culminaria na separação, no ano seguinte, passados 11 anos de união). Além de um almoço com o prefeito do Distrito Federal, Sette Câmara, no Hotel Nacional, a estrela participou de um coquetel na Embaixada dos Estados Unidos.
Antes, porém, teve vivências mais destacadas em Brasília, tendo visitado o Centro de Educação Média (Elefante Branco), adentrado o Palácio da Alvorada, presenciado a dinâmica da Câmara dos Deputados e, claro, conhecido o então presidente João Goulart.
Morta em 2004, Janet, que explorou terreno nobre com o primeiro filme de terror assinado por Hitchcock, fez história neste filme, a princípio, visto pela Universal como de fundo de quintal: para se ter ideia, a mansão e o famoso motel de Norman Bates foram montados no pátio dos fundos da companhia. Descoberta numa estação de ski, pela estrela Norma Shearer, Leigh, de pouco em pouco, em filmes dos anos de 1950, e ao lado de figuras másculas como James Stewart, John Wayne e Orson Welles, desafiou a restrita dimensão dos papéis femininos em tramas de faroeste, policiais e fitas de guerra.
Na ocasião da visita ao rasil — iniciada aos de setembro —, e diante da empolgação com a acolhida em Brasília, Janet Leigh, que imantou o maior sucesso cinematográfico de Hitchcock declarou: "Quero ver se compro um pedaço do Brasil". Tendo comprado ou não o terreno, ao menos, semeou bom fruto para a telona: hoje, aos quase 63 anos, Jamie Lee Curtis está em cartaz no Brasil, com o longa Halloween kills: O terror continua. Mais uma cartada, grosso modo, do empoderamento feminino num filme assustador.
Notícias pelo celular
Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.
Dê a sua opinião
O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.