A partir desta quarta-feira, os moradores do Distrito Federal não precisarão mais utilizar máscaras faciais em espaços abertos. Por enquanto, a decisão do Governo do Distrito Federal (GDF) não se estende a locais fechados e ao transporte público. Porém, ontem, o governador Ibaneis Rocha (MDB) confirmou ao Correio que avalia desobrigar o uso do item de proteção em locais fechados. Segundo o chefe do Executivo local, a discussão deve avançar internamente no governo ainda em dezembro deste ano, porém, a medida em si deve ficar para o ano que vem.
Por meio da Lei de Acesso à Informação, o Correio apurou que, desde abril do ano passado, 789 pessoas foram multadas no DF pelo não uso da máscara. A utilização do item é obrigatória na capital federal desde 23 de abril de 2020, e a desobediência pode gerar multa de R$ 2 mil a R$ 4 mil. Em outubro deste ano, foram 51 multas. A Secretaria de Proteção da Ordem Urbanística do DF (DF Legal) esclarece que as pessoas que foram multadas pelo não uso de máscaras no DF foram aquelas que se recusaram a colocar ou a receber o item de proteção. Ainda segundo o GDF, o prazo médio para o pagamento de multas aplicadas pela DF Legal é de 30 dias. Entretanto, o infrator pode recorrer a diversas instâncias, o que pode ampliar esse período. Caso não pague a multa, a pessoa tem o cadastro de pessoa física ou jurídica incluso na dívida ativa.
A obrigatoriedade do uso de máscaras gera controvérsias entre os brasilienses. Moradora de Planaltina, Hanna Moura, 21 anos, vai de ônibus ao trabalho de auxiliar administrativa como jovem aprendiz, na Asa Sul, e defende a retirada das máscaras, mas apenas em lugares abertos. "Volto para casa em ônibus lotado. Mesmo com a vacina, a gente pode pegar o vírus. E tem toda a questão de poder infectar os nossos pais, que estão em casa. Mas, ao ar livre, tudo bem não usar. As pessoas estão distantes, cada uma no seu canto. Flexibilizar geral vai virar bagunça", opina.
Já a promotora de vendas de uma empresa telefônica Anne Caroline, 27, afirma ser contra o uso do item em alguns casos. Ela trabalha na plataforma superior da Rodoviária do Plano Piloto e acredita que as máscaras são dispensáveis mesmo em locais com grande circulação de pessoas. "Acho que há ambientes em que precisamos usar, como lugar fechado e em ônibus, principalmente. Não acho necessário ao ar livre. Não sei se aqui (Rodoviária) contamina mais. O meu sistema imunológico está em dia também. Fiz exames de check-up no começo do ano e em outubro para ser admitida na empresa onde trabalho, e estou bem de saúde", argumenta a moradora de Águas Lindas de Goiás (GO).
A partir de amanhã, as novas regras para o uso de máscaras passam a valer. Assim, a proteção continua sendo obrigatória apenas em locais fechados, como transporte público coletivo, estabelecimentos comerciais, industriais e em áreas comuns de condomínios, por exemplo. Segundo o secretário de Vigilância à Saúde, Divino Valero, o entendimento de ambiente aberto é subjetivo. "Tecnicamente, é onde a pessoa não está restrita a quatro paredes e a um teto, mas, principalmente, é onde se possibilite ter um posicionamento mais distante em relação às outras pessoas e com ventilação natural", explica. Ele exemplificou que clubes e parques são considerados ambientes abertos (leia mais em Novas regras).
Quedas
Entre domingo e segunda (1º/11), o DF registrou 198 infecções e nove óbitos por covid-19. Com isso, a média móvel de casos chegou a 199,57, a menor do ano, com uma queda de 62,63% quando comparada ao valor de 14 atrás. A mediana de mortes está em 10,57, o que indica uma variação negativa de 25,25% em relação ao mesmo período. No total, a capital registrou 515.134 casos e 10.886 mortes pela doença desde o início da pandemia.
Apesar da queda apresentada nos dados, o vice-presidente da Sociedade de Infectologia do DF, Alexandre Cunha, afirma que ainda é preciso cautela. Ele explica que a taxa de transmissão, apesar de estar em 0,75, ainda não é ideal. "O índice mostra que a pandemia está em queda, pois, cada 100 pessoas transmitem o vírus para menos de 100. Isso é bom. Mas 75 ainda é um número considerável", avalia. O infectologista afirma que não há um valor ideal para a taxa, mas que, junto à ocupação das unidades de terapia intensiva (UTIs) voltadas para o tratamento da covid-19, é o índice que deve ser mais observado.
"Não podemos ficar tranquilos enquanto não tivermos uma baixa circulação viral, grande parte da população vacinada e baixa ocupação dos leitos de UTI. É a conjunção ideal. Atualmente, temos motivos de alegria, mas não podemos relaxar", complementa Alexandre. Para ele, o novo coronavírus deve se tornar endêmico. "Com a circulação baixa, teremos casos esporádicos e poucos graves. Mas, provavelmente, vamos ter que conviver com a covid", diz.
Os leitos de UTIs covid-19 na rede pública de saúde do DF estavam, ontem, com 47,83% de ocupação. Das 108 UTIs, 44 estavam com pacientes, 48 vagas e 16 bloqueadas. Na rede particular, a taxa era de 59,12%, sendo que dos 179 leitos, 96 estavam ocupados, 67 livres e 16 bloqueados. Na lista de espera, havia quatro pessoas com suspeita ou confirmação de infecção pela doença.
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Contraponto
A favor da flexibilização
"Vivemos um momento em que a taxa de transmissão da covid-19 está baixa, demonstrando um controle da pandemia. Além disso, a média móvel vem evoluindo com números cada vez menores, e a taxa de ocupação de UTI está abaixo do nível crítico. Esse cenário demonstra a possibilidade de retirada das máscaras em ambientes abertos. Por outro lado, quando consideramos a maior transmissibilidade da variante delta, o uso da máscara em locais fechados, principalmente em transporte público, ambientes com ventilação inadequada e atividades de saúde, será uma medida necessária, enquanto a vacinação avança, tentando abranger a maior parcela da população possível, para assim alcançar o estado de imunidade coletiva.
Por fim, qualquer medida tomada que tenha impacto na pandemia, aumentando ou diminuindo restrições, poderá ser avaliada após aproximadamente 15 dias. Sendo assim, os números deverão ser acompanhados constantemente, para que decisões possam ser tomadas de acordo com o reflexo na pandemia.
Por ora, discutir o uso da máscara em ambientes fechados é válido, porém a ameaça da variante delta deve ser considerada restritiva. Não há dúvidas que a atual taxa de transmissão e a média móvel cada vez menores permitem a liberação do uso da máscara nos ambientes abertos, sendo necessária uma maior análise para a definição quanto aos ambientes fechados."
Hemerson Luz, infectologista
Contra a flexibilização
"O Brasil, apesar de ter caminhado muito bem em relação à população vacinada, ainda tem um longo caminho para liberar o uso de máscara com total segurança. Devemos tomar como exemplo alguns países que liberaram o uso de máscara antes do ideal e, logo em seguida, houve identificação de vários surtos locais. Hoje, além de ser algo cientificamente comprovado quanto a sua eficácia, o uso de máscara é simples, relativamente barato, algo que a maior parte da população já está adaptada e que também permite a flexibilização de praticamente todas as outras atividades. Então, não há de se ter pressa em retirar algo que está funcionando muito bem.
Apesar da liberação em locais abertos ser menos problemática, há a necessidade da pessoa avaliar o ambiente ao redor e pensar se realmente é seguro. Então, requer bom senso e, às vezes, é difícil as pessoas utilizarem dele.
Por ser uma medida altamente eficaz, além da vacina, a obrigatoriedade do uso de máscara deve ser a última medida a ser flexibilizada na pandemia, mais ainda quando tivermos muito mais controle da transmissão e estabilização dos casos."
Ana Helena Germoglio, infectologista
A favor da flexibilização
"Vivemos um momento em que a taxa de transmissão da covid-19 está baixa, demonstrando um controle da pandemia. Além disso, a média móvel vem evoluindo com números cada vez menores, e a taxa de ocupação de UTI está abaixo do nível crítico. Esse cenário demonstra a possibilidade de retirada das máscaras em ambientes abertos. Por outro lado, quando consideramos a maior transmissibilidade da variante delta, o uso da máscara em locais fechados, principalmente em transporte público, ambientes com ventilação inadequada e atividades de saúde, será uma medida necessária, enquanto a vacinação avança, tentando abranger a maior parcela da população possível, para assim alcançar o estado de imunidade coletiva.
Por fim, qualquer medida tomada que tenha impacto na pandemia, aumentando ou diminuindo restrições, poderá ser avaliada após aproximadamente 15 dias. Sendo assim, os números deverão ser acompanhados constantemente, para que decisões possam ser tomadas de acordo com o reflexo na pandemia.
Por ora, discutir o uso da máscara em ambientes fechados é válido, porém a ameaça da variante delta deve ser considerada restritiva. Não há dúvidas que a atual taxa de transmissão e a média móvel cada vez menores permitem a liberação do uso da máscara nos ambientes abertos, sendo necessária uma maior análise para a definição quanto aos ambientes fechados."
Hemerson Luz, infectologista
Contra a flexibilização
"O Brasil, apesar de ter caminhado muito bem em relação à população vacinada, ainda tem um longo caminho para liberar o uso de máscara com total segurança. Devemos tomar como exemplo alguns países que liberaram o uso de máscara antes do ideal e, logo em seguida, houve identificação de vários surtos locais. Hoje, além de ser algo cientificamente comprovado quanto a sua eficácia, o uso de máscara é simples, relativamente barato, algo que a maior parte da população já está adaptada e que também permite a flexibilização de praticamente todas as outras atividades. Então, não há de se ter pressa em retirar algo que está funcionando muito bem.
Apesar da liberação em locais abertos ser menos problemática, há a necessidade da pessoa avaliar o ambiente ao redor e pensar se realmente é seguro. Então, requer bom senso e, as vezes, é difícil as pessoas utilizarem dele.
Por ser uma medida altamente eficaz, além da vacina, a obrigatoriedade do uso de máscara deve ser a última medida a ser flexibilizada na pandemia, mais ainda quando tivermos muito mais controle da transmissão e estabilização dos casos."
Ana Helena Germoglio, infectologista
Novas regras
Não é obrigatório:
» Ambientes e locais abertos como parques, bosques, calçadas e clubes
Continua obrigatório:
» Espaços públicos fechados
» Transporte público coletivo
» Estabelecimentos comerciais, industriais e de serviços
» Áreas de uso comum dos condomínios residenciais e comerciais como adores e corredores entre os blocos e prédios