Com a volta de 100% dos alunos da rede pública do Distrito Federal ao ensino presencial, o setor de papelarias e livrarias espera alavancar a venda de material escolar. Por conta da pandemia de covid-19, de acordo com o Sindicato do Comércio Varejista de Material de Escritório, Papelaria e Livraria do DF (Sindipel), o segmento perdeu cerca de 50% do faturamento mensal. Agora, entre novembro e janeiro de 2022 — período em que os pais costumam adquirir os produtos — a expectativa da entidade é de que o setor retorne ao patamar registrado entre 2019 e 2020.
A estimativa é do presidente do Sindipel, José Aparecido. "Devido à pandemia, as escolas acabaram adotando os mesmos livros do ano anterior, e muitos pais e responsáveis não compraram materiais escolares na mesma quantidade em que costumavam comprar antes da crise. Com isso, as papelarias e livrarias não venderam quase nada em 2020 e 2021", afirma. Além disso, ele se lembra dos períodos em que o comércio, de forma geral, precisou fechar as portas. "Mesmo depois de abertos, o fluxo nos negócios dessa categoria não conseguiu se recuperar bem", completa.
Com as mudanças propostas pelo Governo do Distrito Federal (GDF), José Aparecido acredita que será possível recuperar o que foi perdido. "No período de 2021 e 2022, esperamos retornar ao patamar de antes (da pandemia)", diz. Para ele, a implementação do Cartão Material Escolar auxiliou alguns negócios a se manterem. "As empresas que se concentram no Plano Piloto penaram mais, porque o cartão não é muito utilizado na área central de Brasília", avalia.
João Victor dos Santos Dantas, 36 anos, é proprietário da Inova Papelaria há três anos. Localizada na Asa Sul, a empresa sofreu perdas financeiras. "No período de volta às aulas de 2020 para 2021, muitos pais e escolas aproveitaram para utilizar os mesmo materiais que haviam sido comprados no ano anterior e não foram usados", explica. Com a volta 100% presencial, o empresário está otimista. "A expectativa é muito grande. É de que cresça bastante a procura por materiais escolares e a venda também. Estamos nos preparando", adianta.
O aumento das vendas também é esperado por Rosalete França, 60, dona da papelaria Ciapel, em Sobradinho. "(O cenário) vai ser melhor com as aulas presenciais, com certeza. O movimento em 2020 não foi tão bom assim, quase não vendemos listas completas, porque a maioria estava estudando de casa. Até agora, este ano, não foi de todo ruim e não temos do que reclamar", pondera a comerciante. Para atrair mais clientes, Rosalete pretende realizar promoções e aumentar os descontos nas compras à vista. "Vamos sortear TVs e celulares. Para pagamentos com dinheiro ou PIX, o desconto vai ser de 12% a 15%", destaca.
Inflação
De acordo com o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de setembro de 2021, itens como uniforme, transporte escolar e artigos de papelaria tiveram alta de 6,39%, em comparação ao mesmo período do ano anterior. Enquanto isso, o volume de vendas em agosto, de livros, jornais e artigos de papelaria teve queda de 6,8%, no DF, quando observado o mesmo mês em 2020. Em relação ao resultado visto em julho deste ano, houve queda de 7,3%, em agosto. Os dados são do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
O economista e coordenador do curso de economia do Centro Universitário Iesb, Riezo Almeida, destaca que o setor não está imune à inflação, que vem assolando o país, com a alta do dólar e dos combustíveis. "Materiais escolares não são diferentes de outros produtos. Como alguns vêm de fora, o cenário apresenta o mesmo problema estrutural. A baixa procura se justifica pela insegurança quanto à confirmação da volta presencial, o que levou a população a deixar as compras para outro momento", considera.
O professor estima que a volta integral aos colégios do DF vai contribuir para a contenção dos valores dos produtos, mas o cenário amplo de inflação deve continuar puxando os preços para cima. "É a lei da oferta e da procura. Com mais demanda por materiais, as fornecedoras vão oferecer mais produtos, e a tendência é diminuir os preços. A inflação, infelizmente, ainda vai continuar, e não vamos voltar aos valores praticados em 2019. Mas haverá mais equilíbrio nos custos, que chegarão a números interessantes tanto para os clientes quanto para os comerciantes", estima Riezo Almeida.
O aumento dos preços levou a servidora pública Márcia Sousa, 47, a reorganizar o planejamento das compras escolares. A moradora do Guará deixará para adquirir o material em janeiro, com o 13º salário. "Com isso, consigo desconto maior, para pagamento em dinheiro. Como compro duas listas de material, os preços ficam bons. Dizem que, mais para frente, os valores ficam mais caros, mas como não tenho como comprar antes, os descontos acabam compensando", avalia Márcia, cujos filhos tem 11 e 8 anos.