Crônica da Cidade

Brasília, anos 1990

Inicialmente, pareceu uma pegadinha. Cheguei a Brasília com minha mãe e, logo, fomos fazer um passeio de carro pela L4 e pelo Lago Sul. Meu pai estava morando havia alguns meses no Distrito Federal. Bancário, foi transferido de Aracaju para cá. O ano, 1996. Antes, haviam lhe oferecido duas opções de agências: Manaus e Botafogo, no Rio de Janeiro. Mas ele optou pelo Cerrado.

Fico imaginando quem eu seria hoje se, nessa época, fosse morar na capital manauara ou no simpático bairro carioca. Voltemos à pegadinha inicial. Descemos do aeroporto, meu pai nos recebeu em um táxi, e fizemos um tour pelo bucólico e belo Lago Sul. Parecia outro país para nós, recém-chegados da menor (saudosa e bela) capital do Nordeste do país. O choque cultural, — ou melhor, visual — foi grande. Assustei-me e perguntei: ‘Vamos morar aqui?’ Hahaha... Ingênuo Adson.

Depois do Lago Sul, passamos pela Esplanada. Não achei muita graça, apesar de tudo parecer uma grande novidade. Mas eu preferia os casarões e a bela paisagem verde do Lago Sul (deve ser meu espírito de “ryco”, haha). À medida que deixávamos o centro de Brasília, a paisagem ia mudando. Uns 30 minutos depois, estávamos em uma estrada cheia de pinheiros e outras árvores. Mais tarde, fui descobrir que se chamava EPTG — bem diferente do que é hoje, por sinal. Era junho ou julho e estava muito frio, principalmente para quem acabara de sair do calor do Nordeste. Mas, se o Lago Sul foi a pegadinha e o choque inicial, quando chegamos a Taguatinga, passei a achar as coisas um pouco mais normais. Moramos no Hotel Kingston nas primeiras semanas. Adorava comer o filé com fritas de lá no almoço.

Quando fomos conhecer nossa nova casa, estranhei as lojas no térreo dos prédios residenciais. Lembro quando entrei pela primeira vez na Avenida Comercial Sul. Parecia um filme, que eu não sabia se era bom ou ruim. A arquitetura era muito diferente. Quando chegamos ao nosso novo endereço, fiquei feliz que havia uma pizzaria no térreo do prédio. De todos os comércios possíveis, logo um tal de Gordeixos. Achei engraçado o nome, porque lembrava a palavra “gorducho”, e as pessoas que comem muita pizza, geralmente, ficam gordas (pensei em minha mente de criança, pré-adolescente).

Por sinal, vários nomes de lojas em minha nova cidade eram engraçados: Pioneira da Borracha (vendia brinquedos, não pneus, no Alameda Shopping); Truc’s (lanche do macaquinho); Tesoura de Ouro (não vendia objetos cortantes dourados); Discoteca 2001 (não era uma boate futurista). Ah, fui ao cinema pela primeira vez no Alameda Shopping (sim, lá tinha cinema). O filme? Titanic. Depois, teve a Pizza Hut no mesmo espaço; e, quando eu a provei, achei a melhor do mundo.

Estudava em um colégio particular perto de casa. Escola religiosa, pero no mucho — lá, descobri o que eram bullying (sofrendo, mesmo), drogas (inalantes, basicamente) e rock-and-roll. Era uma tortura acordar cedo, pois as aulas começavam às 7h. No trajeto, feito a pé, adorava ver a fumaça saindo da minha boca. Já havia experimentado cigarro antes, mas a fumaça daquele inverno de 1996 era outra novidade para mim: o frio de Taguatinga da garoa — nunca senti tanto frio no DF quanto nessa época.

Continuo no próximo sábado.