RECONHECIMENTO

Luz, câmera, inclusão: filme de alunos de Planaltina ganha prêmios em festival

Curtas-metragens da TV Centrinho, no Centro de Ensino Fundamental (CEF) 1 de Planaltina, são premiados e estimulam estudantes na produção de textos e de conteúdo audiovisual

A iniciativa de um projeto audiovisual no Centro de Ensino Fundamental (CEF) 1 de Planaltina tem gerado frutos e reconhecimento. Ontem, uma produção dos alunos da escola recebeu dois prêmios do 3º Festival de Curtas das Escolas Públicas de Planaltina, com o filme Labirinto, de 2019. O vídeo de cinco minutos foi desenvolvido sob a coordenação do professor Marcus Martins que, desde 2017, desenvolve com os estudantes um espaço de experimentação de audiovisual, a TV Centrinho.

O curta retrata os desafios de inclusão social e a importância do respeito nas relações independentemente de diferenças econômicas, físicas e étnicas. Uma das premiadas foi a aluna Fernanda Mendes, 13 anos, que teve o papel de diretora do filme e roteirizou a produção. Entusiasmada com o projeto, a jovem estudante do oitavo ano conta que a história já estava escrita antes mesmo do professor pedir. “O filme Labirinto fala sobre inclusão social, a gente queria mostrar que tem muitas pessoas que estão na rua e são deixadas de lado. Essas pessoas também são especiais, e elas existem”, ressalta a aluna destaque da escola.

Apaixonada por português e matemática, a jovem celebra a vitória e planeja uma carreira no audiovisual. “Foi muito divertido. Eu gosto muito de mexer com esse tema e pretendo fazer isso futuramente, trabalhando profissionalmente como roteirista. O projeto contribui muito com a minha criatividade e auxilia na minha relação com as outras pessoas”, conta Fernanda, ressaltando a importância da TV Centrinho.

Outra ganhadora do prêmio foi a estudante Ágata Caroline Oliveira, de 14, também do oitavo ano, que ficou responsável pela fotografia do filme e se encantou com a atividade. “Isso me deu uma experiência muito grande, porque eu nunca imaginei que teria esse sonho de ser fotógrafa. Quando eu comecei com o Labirinto, eu pensei: quero isso para mim! Quanto mais eu conheço esse universo, conforme eu estou andando com o professor, esse sonho está crescendo cada vez mais”, ressalta a estudante.

Para ela, a TV Centrinho vai muito além do espaço escolar. “Cada vez que a gente vai gravar algo, eu já me coloco à disposição para ser fotógrafa, porque não é só uma coisa de escola, é uma coisa que eu posso levar para a minha vida e crescer através disso. Eu espero que a TV Centrinho cresça muito e que no futuro eu olhe e pense: caramba, eu estava ali quando tudo começou e, olha o que virou’”, imagina a aluna.

Responsável pelo projeto, o professor Marcus Martins comemora os prêmios. “O reconhecimento do nosso trabalho é muito importante, isso estimula os alunos e a gente trabalha demais com esses temas de inclusão”, ressalta o educador.

Marcelo Ferreira/CB/D.A Press - O educador Marcus Martins acredita que a formação em audiovisual é ferramenta de integração social para os jovens
Marcelo Ferreira/CB/D.A Press - Alunas venceram nas categorias roteiro e fotografia, em festival de curtas

Novos horizontes

Com a notoriedade alcançada com as premiações, os estudantes já pensam em criar um outro filme. Dessa vez, a ideia é contar a história de uma menina, chamada Bianca, que sonha em ser digital influencer. A jovem usa o celular da mãe para correr atrás do sonho de aparecer na internet. O roteiro está sendo adaptado e em breve será gravado.

Um dos roteiristas é o jovem Pedro Emanoel Batista, 16 anos, que gosta de retratar temas atuais com um olhar atento às questões sociais. “Agora, a gente está fazendo esse novo projeto. Gosto de escrever e produzir os roteiros, mas para o meu futuro, quero fazer faculdade de geografia e depois o curso de perito criminal”, afirma.

A estudante Ismênia Santana, 14 anos, entrou no CEF 1 há pouco mais de dois meses e se engajou nos trabalhos da TV Centrinho. “Eu entrei há duas semanas no projeto, o professor de ciências me recomendou para participar do projeto por acreditar que eu tenho potencial. Então, eu entrei e estou fazendo textos”, conta a aluna aplicada.

A menina destaca a importância de retratar temas atuais como o racismo nas produções e espera ter sucesso dentro do projeto. “Minhas expectativas são as melhores, eu espero que nossa escola e o projeto tenham mais visibilidade. Também espero aprender muito, pois gosto de falar e de escrever sobre a igualdade racial, porque isso é uma coisa muito importante para mim. Já sofri com algumas dessas questões, mas hoje gosto de falar e debater, porque mesmo falando, a gente ainda vê muitas situações de discriminação”, relata a jovem.

Força de vontade

Em 2017, quando Marcus viu um espaço subutilizado no CEF 1, viu uma oportunidade para desenvolver a criatividade dos jovens. Aos poucos, ele estruturou um pequeno estúdio e desenvolveu oficinas com os estudantes do sexto ao nono ano que se interessavam pelo mundo da tecnologia e das imagens.

Com 1.120 alunos matriculados na escola, o projeto atende até 320, sendo que ao menos 20 estão envolvidos diretamente nas produções, além de professores, servidores e membros da comunidade de Planaltina. A escola tem quase 15% dos estudantes com alguma dificuldade de aprendizagem ou física, atendendo alunos cegos, surdos e com deficiência intelectual. Um dos principais objetivos da TV Centrinho é fomentar a inclusão social dos estudantes.

Ele recorda que, antes de vir para Brasília, morava em Montes Claros (MG) e chegou a montar um estúdio para gravação de vídeo aulas em um instituto federal, mas quando tudo ficou pronto assumiu o cargo público de professor e se mudou para a capital federal. A alteração do endereço não o desanimou quanto à produção do audiovisual. “Quando encontrei o espaço vazio na escola, sem piso, sem porta, era só um puxadinho, eu comecei a trabalhar lá. Eu decidi transformar aquele local e, como tinha alguns equipamentos, como cabos, televisões e computadores velhos, fui trazendo para cá e montando a TV Centrinho”, relembra.

Sociedade conectada

Aos poucos, o sonho foi ganhando forma e novos adeptos na comunidade escolar. De acordo com Marcus, os estudantes chegaram a buscar objetos de descarte do colégio para montar a estrutura e equipar o que viria a ser o estúdio da TV. O professor acredita na importância do projeto para a formação estudantil, não só pelo aspecto da comunicação, mas pela realidade de uma sociedade hiperconectada. “O projeto busca dar uma desenvoltura melhor e desenvolver essas habilidades tão importantes. Eu acho que a gente tem que fomentar o uso do audiovisual, pois as pessoas precisam aprender a usar essa linguagem”, destaca o educador.

Unindo componentes como arte e língua portuguesa, o projeto acontece durante o ano letivo e conta com materiais importantes para a produção, como celular, notebook, teleprompter, gravador de som, câmera e monitores. Tudo de maneira adaptada e em construção. Além disso, a TV Centrinho retrata os “causos” de cada aluno, por meio da produção de “histórias inventadas”. Através delas, são criados os roteiros de programas de TV, filmes, clipes musicais, podcasts e programas de rádio para a web.

A TV Centrinho do CEF 1 de Planaltina é citada no portal do Ministério da Educação como modelo de prática pedagógica para os anos finais do ensino fundamental. O programa tem canal no YouTube, onde são postadas as produções dos jovens, videoaulas, filmes, programas de TVs, campanhas publicitárias, podcasts, batalhas de rimas, poesias e outros trabalhos escolares.