Os empresários Olívia Makoski, 47 anos, e Francisco de Assis Guembitzchi, 55, serão enterrados no Paraná. Os corpos dos dois foram liberados pelo Instituto Médico Legal (IML) nesta terça-feira (19/10) e seguiram para o município de São João (PR). A informação foi confirmada por vizinhos do casal, que vivenciaram momentos de susto e desespero na madrugada do último domingo (17/10).
O crime que chocou os moradores do Pôr do Sol, tem como principal via de investigação um feminicídio seguido de suicídio. Segundo apurações preliminares, Francisco matou Olívia com uma arma de fogo e teria tirado a própria vida com vários golpes de faca no peito e pescoço. No entanto, a dinâmica do ocorrido será definida após os laudos periciais da Polícia Civil.
A Delegacia Especializada no Atendimento à Mulher de Ceilândia (Deam II) investiga o caso. A delegada-chefe da unidade policial, Adriana Romana, afirma que não é possível precisar o que de fato aconteceu na casa de Olívia no dia do assassinato. "Estamos aguardando os laudos periciais. As provas objetivas são importantes nesse caso, para tentar reconstruir o que aconteceu. Há muitos relatos dispersos", conta a delegada.
Segundo as investigações, tudo teria iniciado após uma discussão entre o casal. Olívia pedia para que Francisco saísse de casa, e levasse as coisas dele. Os dois estavam em processo de separação há dois meses e, em 26 de setembro, ela chegou a entrar com medida protetiva contra ele por perseguição.
No entanto, vizinhos relatam que ele sempre a visitava. Muitas pessoas na rua nem sabiam que o casal estava em processo de divórcio. "Eles eram muito tranquilos, nunca imaginei que uma coisa dessa poderia ocorrer", relata uma moradora da região que não quis se identificar.
Os disparos e os gritos por socorro tiraram da cama muitas famílias que residiam na quadra 207 do Pôr do Sol. De acordo com testemunhas, foram escutados cinco tiros na residência. A polícia foi acionada por intermédio dos vizinhos ao perceberem a gravidade da situação.
Na casa, estavam presentes os três filhos do casal — inclusive uma estava grávida de quatro meses — e três netos. Nenhum deles ficou ferido fisicamente. Segundo relatos, a maioria da família estava dormindo no momento do ocorrido.
A delegada da Deam II, Adriana Romana, conta que, em 2020, Olívia havia entrado com medida protetiva contra o marido. No entanto, pouco tempo depois os dois reataram. "Dessa vez, ela estava decidida a romper o relacionamento. E ele não estava aceitando", relata. "Ela relatava que ele era verbalmente muito agressivo, que sofria muita humilhação", pontua a delegada. Os dois estavam casados há 31 anos.
"Poderia ser evitado"
De acordo com Adriana Romana, o crime poderia ter sido evitado caso a vítima ou algum familiar tivesse acionado a polícia sobre o descumprimento da medida protetiva. "O nosso maior desafio é fazer com que a mulher entenda a gravidade do risco que ela corre. A maioria das vezes ela não acredita que o companheiro é capaz de matar. Mas se o juiz julga que a medida protetiva é necessária para a proteção dela, que confie e ligue para a polícia caso haja descumprimento", reforça. "A situação de risco é real", finaliza a delegada-chefe da Deam II.
Nesse casos, a pessoa pode ligar para os números 197 (Polícia Civil) ou 190 (Polícia Militar) para a prisão em flagrante. Em uma situação em que a presença do agressor é necessária, para recolher pertences, por exemplo, o apoio policial pode ser uma alternativa de proteção.
De acordo com a delegada, a Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal (SSP-DF) tem vários programas de monitoramento nos casos de violência doméstica com medidas restritivas. Muitos casos acabam tendo uma ação rápida da polícia ao perceber, com monitoramento à distância, que vítima e agressor estão muito próximos. Mas em outros casos, essa informação precisa ser repassada para as autoridades policiais.
Apesar do alto número de feminicídio no DF, os registros desse tipo de crime são poucos em comparação a quantidade de ações de medidas no âmbito da Lei Maria da Penha. O esforço para combater esse tipo de ocorrência é conjunto com a comunidade, com o apoio da vítima e da polícia.
Romana destaca alguns comportamentos de alerta para situações de relacionamento abusivo, como: perseguição, controle, desconfiança. "Tem que ter uma luzinha para esses sinais. A gente precisa se cuidar", ressalta a delegada. A denúncia de violência doméstica pode ser feita em qualquer delegacia, independente se é ou não na região onde a vítima mora. Também é possível registrar a ocorrência via internet. "Denunciar é o principal meio de se evitar crimes como esse", destaca Adriana Romana.