O relator da CPI do Feminicídio na Câmara Legislativa (CLDF), deputado Fábio Felix (Psol), classificou como "um absurdo" a autuação do assassino confesso da estudante de direito Milena Cristina Gonçalves, 24 anos, por homicídio culposo. O parlamentar fará uma reclamação junto à Corregedoria da Polícia Civil do Distrito Federal, com pedido para que o crime seja investigado como feminicídio, como preconiza o protocolo da instituição.
Fábio Felix reforça que, desde 2017, o Distrito Federal adota um formato de investigação para crimes violentos contra mulheres considerado pioneiro no Brasil. "De acordo com a medida, todos os assassinatos de mulheres são apurados, inicialmente, como feminicídio, só podendo a hipótese ser descartada após concluída a investigação. A norma foi adotada para preservar provas e permitir uma resposta mais rápida aos casos de mortes de mulheres", diz o comunicado elaborado pelo parlamentar, ao qual o Correio teve acesso em primeira mão. "Trata-se de um absurdo (...) e configura enorme retrocesso no enfrentamento dos feminicídios no DF", avaliou.
Milena Cristina foi assassinada dentro de casa, na madrugada de sábado (16/10), no Riacho Fundo 1. O autor da barbárie confessou o crime à família e aos investigadores da 27ª Delegacia de Polícia (Recanto das Emas), que o autuou por homicídio culposo — quando não há intenção de matar — e fixou fiança de R$ 5 mil para liberação do suspeito.
A autuação do assassino confesso revoltou os pais de Milena. "É lamentável que tenha sido assim", afirmou o pai da vítima, Vanderlan Souza Conrado, no domingo (17/10).
Revolta dos pais
A mãe da jovem, Wesliana Gonçalves Conrado, lida com a situação à base de remédios. No sábado (16/10), ela narrou a dor de ter ficado frente a frente com o assassino da filha. "Eu perguntei: 'Por que você matou minha filha?'. Ele respondeu que estava triste e falou 'A senhora se acalme'. "É o pior dia da minha vida", resumiu.
Fábio Felix acrescentou que o DF vive uma "escalada brutal de violência contra a mulher" e que o Estado "dá um péssimo recado quando trata o assassinato de uma jovem em virtude do gênero como homicídio culposo". O Correio fez contato com a Divisão de Comunicação da Polícia Civil (Divicom) e aguarda retorno.
Em nota, a Divicom explicou o posicionamento do delegado. "A decisão do delegado de plantão foi tomada de acordo com o convencimento jurídico dele, o que, de fato, tem que acontecer. Essa decisão é exclusiva da autoridade policial à qual os fatos são apresentados, cabendo, na sequência, a análise e entendimento do titular da ação penal, o Ministério Público. O autor foi autuado em flagrante em sede policial e o respectivo inquérito será encaminhado ao judiciário no prazo previsto em lei", diz a nota.